sábado, 18 de dezembro de 2010

Augusto atendeu o telefone. Ficou aliviado quando ouviu a voz do irmão:
- Até que enfim, Guto! Estamos todos aqui preocupados com você e a Mila. Inclusive, os pais dela estão aqui em casa, aguardando notícias de vocês.
- Nossa, maninho, que houve? Por que tanta preocupação?
Dona Isabel manifestou-se:
- Onde ele está? Está bem? E a Mila? Deixa eu falar com ele.
Dona Carol ficou na expectativa.
- Calma, mãe. A mamãe está fazendo um interrogatório sobre você e a Mila. Todo mundo está preocupado com vocês. Dr. Arnaldo, Dr. Felício e até aquele jornalista,
amigo da Mila, o Carlos, ligou para a Bia para saber de vocês.
- Nós estamos bem, mas o que houve?
- Onde vocês estão? Em Marte? Você não ficou sabendo do incêndio? - Augusto ficou intrigado.
- Sim, fiquei sabendo a instantes. Mas, o que eu e a Mila temos com isso?
Augusto percebeu que o irmão não sabia. Procurou não fazer alarde:
- O prédio sinistrado é onde você e a Mila trabalham.
Gustavo ficou sem palavras durante um instante.
- Guto, você está aí? O quê aconteceu?
- Augusto, eu não sabia... E a Mila nem sabe que aconteceu um grande incêndio. Estamos no hospital...
- Hospital? Aconteceu alguma coisa com a Mila?
Dona Carol espantou-se:
- Minha filha... o quê aconteceu com ela? Está ferida? É grave?
Ficou angustiada e na expectativa. Augusto fez sinal para Dona Carol ficar calma. Gustavo prosseguiu falando com o irmão:
- Seu sobrinho nasceu, tio Augusto. O Tavinho é um menino lindo e forte. Lindo como a mãe e forte como o pai.
Augusto abriu um sorriso, mas não perdeu a chance de atormentar o irmão mais velho:
- Se você já era babaca, agora tá mais ainda, né, Guto?
Fez sinal para todos ficarem calmos, que estava tudo bem.
- Pode falar o que você quiser. Eu estou babando pelo meu filho, sim.
- Nós iremos todos ver esse guri. Só espero que a Mila não deixe esse pimpolho ficar babaca como o pai.
- Pode falar, eu sei que você deve estar doido para conhecer seu sobrinho!
- Claro, eu e toda a família. Ele não tem culpa pelo pai que tem. - Augusto mudou o tom - Guto, falando sério, toma cuidado quando você for dar a notícia do incêndio pra Mila. Ela acabou de dar à luz, ela pode não passar bem ao saber da tragédia. A Sandrinha ligou há pouco, ela está bem. A Aninha havia saído pr'o almoço, também está bem. Só não temos notícia da moça da recepção do escritório do Dr. Arnaldo. E como já falei, o Dr. Arnaldo e o Dr. Felício estão bem, eles estavam num almoço.
- Certo, Augusto. Vou ser prudente para dar a notícia para a Mila, inclusive vou pedir a presença do médico e da enfermeira, se for o caso. Se puder, avise o Arnaldo e a Sandrinha que estamos bem.
- Pode deixar, daqui a pouco invadiremos o hospital.

sábado, 4 de dezembro de 2010

As vítimas do incêndio chegavam a todo momento nos hospitais, agitando o atendimento médico. Pessoas com queimaduras, algumas em estado muito grave; outras, intoxicadas pela fumaça; e algumas que passaram mal em ver tal catástrofe.
Em contrapartida, havia um andar, onde o clima era extremamente calmo e agradável; reinava a paz, que só foi quebrada com um choro.
- Parabéns, papai, seu filho é forte e saudável - disse o médico para Gustavo, que assistia o parto de Camila.
Seus olhos não conseguiram conter as lágrimas, quando a enfermeira colocou o recém nascido, já limpo e enroladinho em lençol, nos braços de Mila.
- Amor, nosso filho é lindo, lindo como você.
- Sim, querido, ele é lindo. Estou muito feliz!
A enfermeira interrompeu:
- Vocês terão a vida toda para apreciá-lo, mas agora temos de cuidar da mamãe. Ainda temos de fazer alguns procedimentos antes de você ir para o quarto descansar, se recuperar e se preparar para dar a primeira mamada do garotão. Se o senhor quiser acompanhar o meninão até o berçário, pode. Nós acabaremos aqui e a levaremos para o quarto.
Gustavo estava fascinado com o filho e aceitou a sugestão da enfermeira.
Através do vidro, viu o pequeno ser acomodado no berço. Dois pais, também, babavam por seus filhotes, que eram cuidados dentro do berçário. Um deles, indagou a Gustavo:
- É o seu primeiro?
- Sim, acabou de nascer.
- Logo vi. Quando meu primeiro nasceu, também fiquei bobo. Agora, é o meu quinto filho.
O outro pai entrou na conversa:
- Quinto?
- Sim, na segunda gravidez, vieram três meninas. Não íamos ter mais filhos, mas minha esposa acabou engravidando...
- Quase que não pude chegar para ver minha filhota. A cidade ficou um alvoroço por causa do incêndio. Está uma agitação no PS.
- Que incêndio? - perguntou Gustavo - Eu estava na sala de cirurgia...
- Você não sabe? Um grande incêndio destruiu um prédio comercial. Muitas vítimas, mortos e feridos estão sendo levados para vários hospitais, inclusive este.
- Meu Deus! Que coisa horrível!
- Sim, horrível. Uma coisa eu te digo, meu amigo, é melhor nem falar disso pra tua esposa, já que ela acabou de dar à luz a teu filho. Ela pode ficar impressionada e passar mal.
- É claro, nem vou comentar, afinal o momento é de alegria. Tenho que avisar nossos pais que o netinho acabou de chegar.
- Eles devem estar ansiosos por notícias.
Gustavo não imaginava o quanto.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Longe de tudo o que estava acontecendo, e alheios a qualquer coisa, Sandra e Lúcio, tomavam café, após o almoço.
Sandra estava muito feliz; tudo, na sua vida esforçada e batalhadora, estava começando a dar certo. Tinha acabado de formar-se em Direito, estava estagiando e prestes a assumir a vaga de assistente no escritório de advocacia, no lugar de Mila, que ia dedicar-se, durante algum tempo, exclusivamente, ao filho e ao marido. Seu noivo, Lúcio, havia sido promovido e ia muito bem na profissão. E resolveu marcar logo a data do casamento.
Era uma data comemorativa para ambos, tanto que resolveram sair da cidade e buscar um refúgio tranquilo. Não queriam ser importunados. Iriam passar a tarde juntos numa bucólica cidadezinha. Alguém, no restaurante, soube do incêndio e resolveu ligar a televisão do estabelecimento. Logo, a atenção de todos, no local, voltou-se para o trágico fato.
- Sandra, parece o prédio em que você trabalha - notou Lúcio.
Sandrinha levantou-se e aproximou-se do televisor.
- Meu Deus! Lúcio, não parece, é o prédio onde trabalho.
Ela começou a tremer. O noivo a abraçou e a conduziu de volta a mesa.
- Calma, San. Você está aqui e está bem.
- Sim, mas eu poderia estar lá. E as pessoas que trabalham comigo? Deus, a Mila, grávida... Dr. Arnaldo, Dr. Felício... mesmo aquela novata de nariz empinado... Tomara que estejam bem, que não tenha acontecido nada com eles!
- Por que você não liga pra alguém? Assim você fica sabendo.
- É o que vou fazer...
Sandra tentou o telefone de Mila, sem sucesso. Resolveu ligar para o Dr. Arnaldo, que ainda estava com o Dr. Felício, na Associação Comercial. Soube que ninguém tinha notícias de Mila, de Gustavo e da novata Márcia.
- Que bom, Sandra, que, pelo menos, eu sei que você está bem. Pior, é que ninguém sabe da Camila e do Gustavo. Os telefones deles não atendem e os pais deles estão juntos, aguardando por notícias, angustiados. Também não sei da Dona Márcia. O Felício está tentando alguns contatos para ver se descobre o paradeiro de todos.
- Por favor, Dr. Arnaldo, se o senhor souber de alguma coisa, por pior que seja, me avise. Eu e o Lúcio vamos voltar para a capital.
- Espero não ter notícias ruins, mas qualquer coisa, eu informo.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Na Associação Comercial, o almoço transcorria de forma descontraida entre os membros e os homenageados. De repente, começou um burburinho que Dr. Arnaldo e Dr. Felício, a princípio, não entenderam. O presidente da Associação aproximou-se dos dois advogados e deu-lhes a notícia, em tom fatídico:
- Uma tragédia está acontecendo! O prédio do escritório de vocês está pegando fogo. E é grave a situação. Sinto muito em dar esta notícia assim, mas a cidade inteira está parada diante deste fato.
Dr. Arnaldo sentiu o coração acelerar, pensou que fosse infartar.
- Meu Deus, Felício, e as meninas, o Gustavo, será que eles estão bem? Será que conseguiram sair? Deus, a Camila está grávida!
O ar lhe faltava. O presidente da Associação lhe ofereceu água.
- Quem é Gustavo? Quem é Camila? - perguntou.
- Gustavo é filho do melhor amigo do Arnaldo, dos tempos de faculdade. Ele é casado com a Camila, que é nossa assistente e está grávida do seu primeiro filho.
- Quem mais poderia estar lá?
- A Sandra, nossa atual estagiária, mas já foi nossa recepcionista e secretária, conhece bem o trabalho, está sendo assessorada pela Camila, que, após a chegada do bebê, vai nos deixar, infelizmente. Vai se dedicar ao bebê e ao marido, pelo menos, por um tempo. E tem a Márcia, a nova recepcionista. Eu espero que todos estejam bem!
Felício sempre foi mais tranquilo que Arnaldo. Homem de pensar primeiro, analisar e depois, expor suas idéais. Arnaldo, mais impetuoso, muitas vezes, agia sem pensar. A sociedade entre os dois deu certo por causa dessa diferença de personalidade, onde um tinha a mais, completava onde o outro tinha de menos.
- Felício, tente contato com todos, por favor.
Bem que ele tentou. Camila, Gustavo, Sandra. Nada. O único telefone que tocava, mas não era atendido, era da novata. Olhou para o amigo, sem resposta.
- Por favor, ligue para a casa do Otávio, estou sem condições de falar com ele ou com a Isabel.
- Tá certo.
O telefone tocou na casa de Otávio, Augusto já estava posicionado para atender.
- Alô? É o Augusto. Dr. Felício...
- Augusto, estou ligando porque, vocês devem saber, o quê está acontecendo...
- Sim, estamos sabendo, o senhor sabe algo sobre meu irmão e da Camila?
- Infelizmente, não. Minha esperança, e do Arnaldo, era saber alguma coisa por vocês. Nós estamos na Associação Comercial e acabamos de ficar sabendo...
- O que nós sabemos é que o Gustavo ia levar a Mila ao médico, mas os telefones deles estão mudos. A família da Mila está vindo para cá. Minha mãe queria ir para o local, mas meu pai tirou isso da cabeça dela.
- Claro, não se pode fazer nada no local, é melhor esperar em casa. Quem tiver notícias primeiro, entra em contato, certo?
- Certo, Dr. Felício.
Augusto desligou.
- Dr. Arnaldo e Dr. Felício estão bem, mas não sabem do Guto e da Mila, nem da Sandra e da nova funcionária.
Denise chegou com o noivo, Alex. Tinham marcado o casamento para depois do nascimento do sobrinho.
- Alguma novidade?
- Ainda não.
A família de Mila chegou em seguida. O clima era de expectativa e angústia. As mães tentavam manter o controle, mas as lágrimas teimavam em rolar pelas faces de ambas.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

- INCÊNDIO DE GRANDE PROPORÇÃO ESTÁ DESTRUINDO PRÉDIO NO CENTRO, PESSOAS IMPEDIDAS DE SAIR, BARRADAS PELO FOGO E PELA FUMAÇA, DESESPERADAS PEDEM SOCORRO NAS JANELAS...
- Mãe, corre aqui, é o prédio que a Mila e Guto trabalham!
- Meu Deus! Minha filha... - Dona Carol entrou em desespero.
- Calma, mãe! O Guto não ia levar a Mila fazer um exame? Eles podem ter saído antes disso tudo começar...
- A SITUAÇÃO É CRÍTICA, CADA VEZ, CHEGANDO MAIS CAMINHÕES DO CORPO DE BOMBEIROS, MAS ELES NÃO ESTÃO CONSEGUINDO DETER AS LABAREDAS, ...DEUS! UMA PESSOA SE JOGOU...MEU DEUS!
- Por favor, Bia, desligue essa televisão! - Dona Carol estava trêmula.
O telefone tocou. Dona Carol, já lívida, gritou para Bia atender.
- Pai... já está sabendo?... vai para o local?...
- Sabendo o quê? O que ele vai fazer lá? O quê aconteceu com a Mila? O Gustavo? O nenê?... Deus!...
- Pai, é melhor vir pra casa, a mãe não está bem. Vou tentar falar com a Mila ou com o Guto.
Para desespero de Dona Carol, Bia tentou o telefone de Mila e de Guto várias vezes, sem sucesso. Bia também estava angustiada, mas não queria demonstrar seu sentimento, ansiosos e desesperado por notícias de sua irmã grávida, para não deixar sua mãe mais nervosa. Só aumentaria a aflição de Dona Carol. Cada segundo era uma eternidade. A mãe não queria saber das notícias mostradas na TV. O telefone tocou, novamente. Bia atendeu.
- Alô?... Carlos Santana?... Sei, você é amigo da minha irmã... Também, não sabemos nada ainda... Você está aí?... Se você souber de alguma coisa, por favor, nos informe, eu agradeço.
Dona Carol era um poço de lágrimas e desespero.
- Calma, mãe. Era o Carlos Santana, aquele amigo jornalista da Mila, ele está lá no local. Disse que, se souber da Mila e do Guto, ele liga. Ele contou que a Mila ia se encontrar com ele depois que fosse ao médico, que o Guto a levaria.
- Por quê?
- Não sei, mãe, ele não entrou em detalhes, ele está lá trabalhando.
- E seu pai que não chega?
- Mãe, ele acabou de ligar, ele está vindo.
- Meu Deus, a Isabel também deve estar desesperada! Liga pra casa do Guto, pra saber se eles tem notícias!
- É melhor não ligar, mãe. Se eles não souberem o quê está acontecendo, vão ficar em desespero. Além do Guto, da Mila e do bebê, seu Otávio tem um amigo que também trabalha lá, aliás, o melhor amigo, o chefe da Mila.
- É verdade!... Mas você pode ligar para o Luís Augusto e sondar, como quem não quer nada. Liga, Bia. Pelo menos, a gente fica sabendo se eles já sabem.
- Tá bom, vou ligar.
Bia pegou o telefone pensando o quê falaria para o irmão do Gustavo.
- Alô, Augusto? É a Bia...
- Que bom que você ligou! Estava mesmo querendo ligar para sua casa, mas estava receioso. Vocês já sabem o quê está acontecendo no prédio, lá no centro, né?
- Sim, sabemos o quê está acontecendo, mas não temos notícias da Mila e do Guto.
- Nem nós, Bia. Aqui em casa, está o maior desespero. Por que vocês não vêm pra cá? Assim, esperamos juntos por notícias. Boas, tenho fé!
- Meu pai está vindo pra casa; assim que ele chegar, nós iremos, sim. Eu acredito e tenho fé em Deus que as notícias serão boas!
- Estamos esperando...
Bia desligou, olhou para a mãe, largada no sofá, sem forças para, sequer, esboçar um gesto.
- Mãe, eles, também, não tem notícias da Mila e do Guto, o Augusto achou melhor a gente ir pra lá, assim aguardaremos, juntos, por novidades. Também, acho melhor. Vamos esperar papai chegar e vamos pra lá.
- Tudo bem, filha. Não tenho forças pra nada, nem cabeça pra pensar em outra coisa.
A porta do apartamento abriu-se e Seu Paulo adentrou no recinto, transtornado.
- Sabe de alguma coisa, Paulo?
- Não, Carolina, vim escutando as notícias pelo rádio do carro, mas...nada...
- Pai, falei com o Augusto, ele pediu para todos nós irmos pra lá. Aguardaremos as notícias por lá, tudo bem?
- Sim, filha, tudo bem. Afinal, queremos saber como estão nossos filhos. Vamos!

sábado, 25 de setembro de 2010

Muitas mudanças estavam ocorrendo. A empresa em que você trabalha estava expandindo, crescendo e o conjunto de escritórios já não suportava mais atender a demanda que vinha se apresentando. Compraram um pequeno, mas moderno e espaçoso prédio, um pouco distante do centro, e programaram a mudança. Aos poucos, conforme, iam ficando prontas as instalações, móveis e documentos iam sendo transferidos. Você disse que queria ser um dos últimos a ir para o novo endereço e explicou as razões: sua esposa estava para dar a luz, a qualquer momento, e você, como pai de primeira viagem, queria estar por perto.
No escritório de advocacia, também, haviam mudanças. O escritório, também, iria ter sede própria. Dr. Arnaldo e Dr. Felício compraram uma casa, não tão moderna quanto gostariam, mas foi o que conseguiram encontrar não muito longe do centro. Sandrinha havia se formado e, enquanto esperava a sua carteira definitiva da OAB, estagiava comigo. Aliás, ela fazia todo o trabalho, não me deixava fazer nada, com a desculpa da minha gravidez. Eu não reclamava. Dr. Arnaldo e Dr. Felício gostavam muito dela e, como eles sabiam que, depois do nascimento do bebê, eu não voltaria a trabalhar, estavam apostando nela para ficar no meu lugar. Ela já conhecia o escritório, os advogados, o serviço e boa parte dos clientes, por quê investir numa pessoa que nada sabia? Contrataram, por hora, antes da mudança, uma recepcionista, Márcia, eficiente, simpática, mas pouco amigável. Sandrinha explicava o serviço a ela, depois vinha torcendo o nariz. Eu ria, dizia:
- Dra. Sandra, a Marcinha está te chamando na recepção!
- Fica me tirando, fica, Mila! Você não vai ter de ver a cara dessa metida todo dia. Ah, ela não gosta de apelidos, nem diminutivos, nem pense em chamá-la de Marcinha.
- É, Sandrinha é só você, única e exclusiva! E por falar em exclusiva, a senhora está muito bonita, muito produzida, onde pensa que vai? Alguma audiência especial? Ou a audiência será com um certo Dr. Lúcio, após o expediente?
- Dra. Camila, a senhora é muito perspicaz, nada lhe escapa, seria uma boa detetive, uma policial, já pensou na possibilidade? Dra. Camila, delegada de polícia, que máximo!
- Nem pensar, Sandrinha! Longe de mim ficar atrás de bandidos! Ainda mais agora com esse barrigão. E logo mais, com um bebezinho chorando, querendo mamar, um maridão chegando do serviço, esperando o jantar e a mulher chegando junto, com um monte de armas enfiadas nas roupas e toda suja, porque entrou no meio do mato no encalço de bandidos. Imagine a cena! O Guto pegava o nenê e ia pra casa da mãe.
A Sandrinha riu:
- Não seja dramática, Mila. Existem muitas delegadas casadas e que são mães e não fazem esse drama!
- Tá bom, mas essa não é a minha praia! E não tente mudar de assunto, o foco é você, não eu. Vai me contar ou é segredo de estado?
- Não tem jeito, né? Quando você quer uma coisa, você acaba conseguindo. Taí seu marido que não me deixa mentir!
- Não fui eu que pedi ele em casamento! Não mude de assunto de novo!
- Não vou mudar, Mila. Vou te contar. Hoje, não terá nada a fazer, à tarde. Vou almoçar com o Lúcio e não voltarei mais. Ele recebeu uma promoção no escritório em que trabalha e quer escolher uma data para a nossa união.
- Parabéns para vocês dois! Até que enfim vai sair esse casório! Então, logo, a Dra. Sandra fará parte do clube das senhoras casadas!
- Clube do qual a senhora entrou há pouco tempo, não é mesmo, Dra. Camila?
Ríamos de nossa conversa, quando o Dr. Arnaldo entrou na sala. Estava muito alinhado, com um terno escuro, gravata combinando, camisa branca, sapatos lustrosos.
- Meninas, eu e o Felício não voltaremos para o escritório, depois do almoço. A Sandrinha também, não voltará, como já tinha me pedido. A Mila vai fazer um exame e, depende de quanto tempo demorar por lá, talvez, também, nem volte. Se houver necessidade e for urgente, vocês tem como me localizar e ao Felício, se precisarem de alguma coisa, aqui, no escritório, só ficará a Dona Márcia, à tarde.
- Tudo bem. Bom almoço!
Dr. Arnaldo e Dr. Felício iam ser homenageados num almoço na Associação Comercial local pelos trabalhos realizados e por sempre participarem de eventos beneficentes na região. Aquela seria uma tarde sem trabalho para todos.
O interfone tocou:
- Dra. Camila, o Dr. Gustavo está aqui. Posso pedir para que entre?
- Eu já estou saindo, Dona Márcia!
Sandrinha fez uma careta.

sábado, 18 de setembro de 2010

Meu pai, a princípio, ficou apreensivo com a notícia; afinal, a primogênita dele já ia ser mãe. Depois, gostou da idéia de ser avô e de ter um gurizinho ou uma princesinha por perto. Todos, no maior clima de alegria. Sua família, também, gostou da novidade, principalmente seu irmão Augusto, que não perdeu a oportunidade de brincar com você:
- Você não quiz esperar, não é, Guto? Também, se esperasse muito, você ia ficar velho e seria mais avô do que pai, e, talvez, tivesse que tomar aqueles comprimidinhos azuis, ou amerelos, sei lá.
- Você não vai me tirar do sério, seu babaca. Quero ver quando chegar a sua vez.
- Não sei se terei a sorte, que você teve, de encontrar uma "Camila" na minha vida, Gustavo.
- Caro Augusto, a Camila é única. Outra, tenho certeza, que você não vai encontrar. Mas torço que você encontre uma jovem tão companheira quanto ela. Sua hora vai chegar, quando menos você esperar. Pode crer.
- Enquanto isso, vou ter um sobrinho ou sobrinha para paparicar...
- Se eu e a mãe não cuidar, essa criança vai ficar muito chata. Ela nem nasceu e todo mundo quer paparicá-la.
- Se ela ficar chata, maninho, todo mundo deixa de paparicá-la.
Você foi um futuro pai maravilhoso. Desde o primeiro dia, que você soube que eu estava grávida, você sempre se preocupou com o meu bem estar. Toda vez que lhe era possível, fazia questão de me acompanhar no médico e nos exames. Ficava triste e ansioso por notícias, quando não podia ir comigo. Minha mãe e a Bia me acompanhavam. Até meu pai chegou a me levar, numa ocasião.
Dois meses depois, nos casamos no sítio do Dr. Arnaldo. Foi uma cerimônia sem muita frescura, apenas com o juiz de paz. A recepção aconteceu, em seguida, e foi muito agradável. Preferimos não viajar para algum lugar especial, decidimos que programaríamos uma viagem depois que o bebê nascesse e pudesse nos acompanhar. Claro que tiramos uns dias só pra nós dois. Merecíamos uns dias de descanso, para não fazer e nem pensar em nada. Fomos para uma praia particular, próxima da cidade, porém longe do burburinho dos banhistas "habituées".
Fui morar no seu apartamento. Fiz algumas adaptações para deixá-lo com a nossa cara. Não era mais um apartamento de solteiro, agora era de um casal. Resolvemos ficar por lá até o bebê nascer. Enquanto isso, iríamos procurar uma casa que tivesse um bom quintal. Além do bebê precisar de um espaço para brincar quando crescesse, eu queria ter um cachorro. E no apartamento não dava. Seu apartamento era ótimo para nós dois, mas um terceiro membro da família estava por chegar. Enquanto fosse, apenas, um nenezinho, tudo bem.
Resolvii trabalhar no escritório até o bebê nascer, ou enquanto pudesse carregar a barriga, que crescia a cada dia. Você me apoiou na minha decisão. Trabalhando no mesmo prédio, eu estaria por perto, caso precisasse de alguma coisa. E você não iria precisar sair correndo para me ajudar. Além do mais, você poderia me paparicar sempre que estivesse ocioso. Quando não me sentia muito bem, você me deixava na casa dos meus pais, com recomendações para minha mãe cuidar de mim e, qualquer coisa que houvesse, para ligar, imediatamente, para você. Minha mãe acalmava você:
- Ainda não está na hora, Gustavo. Essas sintomas são normais, não se preocupe. Não vai acontecer nada. Vai trabalhar e fique tranquilo, que eu sei tomar conta da minha filha.
Enquanto. isso, eu ia colocando meu projeto em andamento. Conversava com o Carlos, que estreitou relações com vários contatos. Às vezes, ele me dava algumas sugestões, que eu aproveitava, quando me convinha. Você ficava curioso para saber o quê eu tanto fazia na frente do computador. Eu dizia que estava pesquisando, pois queria fazer um novo curso, que desse uma ajuda na minha mudança profissional. Em casa, eu não trabalhava no meu projeto, não queria que você soubesse antes da hora. Depois, poderia não dar certo. Eu não queria criar expectativas. A expectativa, em casa, era a chegada do Tavinho, o nosso filhinho. Quando soubemos que seria um garotão, optamos por homenagear nossos pais, Paulo e Otávio, e escolhemos um nome composto para chamá-lo: Paulo Otávio. E o "baby" logo ganhou o apelido de Tavinho.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Passaram, aproximadamente, duas semanas. Já havíamos começado os preparativos do nosso 'enlace' (que palavra esquisita, antiga, fora de moda!). Enfim, optamos por uma cerimônia mais informal, que aconteceria de manhã, no sítio do Dr. Arnaldo, que seria o seu padrinho.
Entre os preparativos e o meu projeto, eu continuava trabalhando no escritório de advocacia. Você, como sempre, passava em casa para me levar. Às vezes, subia e tomava café conosco, outras vezes, me aguardava no carro.
Nesse dia, especificamente, você não ia subir, iria me esperar na portaria. Eu não levantei bem, estava com um pouco de tontura e enjoada. Apesar disso, me arrumei. Pensei comigo: devo ter comido alguma coisa que não caiu legal, antes de sair tomo algum remedinho e logo melhoro. Engano meu. Quando saí do quarto e senti o cheiro de café, o enjôo voltou com tudo e corri para o banheiro. A Bianca viu e foi atrás de mim.
- Que foi, Mila? Você não está bem? Você está vomitando?
- Alguma coisa que comi me fez mal.
- Será?
- Vou tomar alguma coisa para o estômago, ou fígado, e vou melhorar.
- Você não vai tomar nem café?
- Bia, nem me fale em café que minha ânsia aumenta.
- Mila! Será que você não está grávida?
- Que idéia, Bia!
- Pensa bem, há quanto tempo veio sua última menstruação?
- No mês passado, eu acho.
- Ih, maninha, com tantas coisas acontecendo na sua vida, você se esqueceu de se previnir.
- Pode ser, mas o Guto nunca esquece.
- Nenhuma vez?
- Só me lembro da primeira vez que tomamos banho juntos, mas só ficamos "brincando", como você gosta de falar.
- Taí, acho melhor você fazer o teste da farmácia, desconfio que, daqui a alguns meses, serei titia.
- Nem me fale, Bia. Eu fico apavorada desde já.
- Deixa de ser boba, Camila! Mesmo que você não fosse casar com o bonitão, você vai ter um filho do homem que você ama... Seu telefone está tocando...
- Deve ser o Gustavo, que deve estar cansado de esperar. Atende pra mim, Bia. E pede pra ele subir.
A Bia lhe contou que eu não estava me sentindo bem e pediu pra você subir. Ela não falou nada do enjôo e da disconfiança que tinha. Você ficou todo preocupado comigo:
- Que aconteceu, querida? O que você tem?
- Nada. Estou indisposta.
- Ela está com enjôo - completou Bia.
Minha mãe lhe ofereceu café.
- Não fala em café, mãe, que a Mila fica mais enjoada.
- Mas a Mila gosta de café, Bia.
- Só o nome está me dando enjôo, mãe.
- Filha, você está grávida?
- Amor?...
- Não sei. Estou enjoada. Por enquanto, é só isso.
- Já falei que você tem de fazer o teste da farmácia, para tirar a dúvida. Se der negativo, tudo bem. Se der positivo, você vai fazer outros exames.
- Eu vou até a farmácia buscar esse teste. Eu sou o mais interessado em saber se vou ser pai. Volto logo.
Você saiu em busca de uma farmácia para comprar o tal teste de gravidez. Voltou com três marcas diferentes. A Bia brincou:
- É só a Mila que precisa fazer o teste, Gustavo. Eu e a mamãe não estamos com sintomas.
- Tudo bem, cunhada. Eu não sabia o qual comprar, por isso trouxe os três.
- Vamos fazer isso logo. Também estou ansiosa.
- Vou ajudar você, Mila - disse minha irmã.
Fomos para o banheiro fazer o tal teste. Demoramos um pouco. Bianca quiz usar os três "kits"; não queria que pairasse dúvidas. Sabíamos que você estava impaciente e mamãe, ansiosa. Enfim, saimos do banheiro. Eu e minha irmã estávamos sérias. A Bia fez questão de fazer o comunicado:
- Sr. Gustavo, eu quero avisá-lo que, a partir de hoje, o senhor terá atender todos os pedidos, por mais estranho que pareça, da mãe do seu filho, ou filha. O senhor. vai ser papai de um bebezinho chorão.
Seus olhos, que estavam fixos nos meus, desde que entramos na sala, ficaram cheios de lágrimas. Era a primeira vez que via você ficar tão emocionado, e não conteve as lágrimas.
- Camila, você não sabe como estou feliz! Esse é o presente mais lindo que você podia me dar. Deus me abençoou quando conheci você, agora abençoou nós dois e o nosso amor. Eu amo você cada vez mais!
Você ajoelhou-se, acariciou e beijou minha barriga.
- Não disse que será um bebezinho chorão? Se puxar o pai...
- Gustavo, estou feliz, mas também estou com medo. Nunca pensei em ser mãe assim tão rápido.
- Minha filha, não se preocupe. Tudo vai dar certo. Essa criança já é muito amada por todos. Eu estarei sempre ao seu lado pra ajudar você.
- Não fique preocupada, querida. Não vai faltar quem tranquilize você. Minha mãe também pode ajudar.
- Vai ser uma disputa de avós para paparicar esse pimpolho.
- E você, cunhada, não vai mimar o sobrinho?
- Eu vou ensiná-lo a cantar, ou tocar algum instrumento. Mas só depois que ele parar de chorar e sujar as fraldas.
- Ela fala assim, Guto, mas vai ser a mais grudada ao nenê.
- Tá bom, mas não conte comigo pra trocar as fraldas. E por falar nisso, agora vocês terão de, como diz a Mila, tomar as providências cabíveis: médico, exames, pré-natal, além de começar a pensar no enxoval, etc.
- Querida, faço questão de acompanhar você sempre que for ao médico e fazer os exames.
- E seu trabalho? Nem sempre você poderá me acompanhar, amor. Fique sossegado, a mamãe e a Bia poderão me acompanhar.
- Sabia que ia sobrar pra mim!
- Eu acompanho minha filha, Gustavo. Quando você puder ir, você vai; quando não for possível, eu e a Bianca estaremos com ela.
- Obrigado, Dona Carol. Mas vou fazer questão de ir no exame de ultrassom. Vou querer conhecer nosso filho antes dele nascer.
- Vocês vão querer saber se vai ser menino ou menina? - indagou mamãe.
- Eu gostaria de saber, mãe. Não sei o Guto. Se ele não quiser, tudo bem. Quem chegar, será benvindo, ou benvinda.
- O importante é que nasça com saúde e lindo como a mãe. Também gostaria de saber. Se for menino, já compro uma camisetinha do time do papai. Se for menina, um vestidinho nas cores do time do vovô.
- Vocês torcem para o mesmo time, não adianta querer fazer média. Coitadinho desse bebê! Desde cedo querem ensiná-lo a ser brega!
- Você não tem jeito, maninha!
- Filha, você vai trabalhar? Mesmo indisposta?
- Não vai não, Dona Carol. Vou ligar para o Arnaldo e avisar que ela não irá trabalhar. Mila, ligue para seu médico, ou médica, e veja se pode atender você ainda hoje. Eu irei com você.
- Gustavo, jante conosco hoje. O Paulo gostará de receber essa notícia de você.
- Combinado, Dona Carol. Amanhã, daremos a notícia em casa, para minha família.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Dois dias depois, você recebeu alta e sua mãe insistiu para que você ficasse uns dias com ela e seu pai. Você resistiu, mas acabou aceitando. Eu, também, dei uma forcinha para que você aceitasse ficar com seus pais. Você queria voltar logo para o trabalho e, na casa deles, era mais fácil conter você em casa.
Continuei trabalhando no escritório, naquela semana. Ligava pra você todos os dias e ficávamos um tempão conversando. Naquele final de semana, seus pais convidou-nos para passarmos o domingo juntos. Precisávamos acertar os detalhes do nosso noivado. A família do Alex, também, havia sido convidada. Ele e a Denise acharam ótima a idéia de Dona Isabel de oficializar as duas uniões no mesmo dia. Nós só não íamos casar no mesmo dia. Uma, você tinha pressa e a Dê queria esperar mais. Ela queria um casamento tradicional, na igreja, eu queria uma cerimônia mais informal, menos pomposa.
Duas semanas depois, seus pais recepcionaram a todos com um jantar magnífico. Alex e Denise reconfirmaram o compromisso que já tinham assumido no aniversário dela. E nós oficializamos o nosso noivado, com as alianças e champanhe, como queria minha irmã.
Eu continuava trabalhando no escritório. Contudo, meu amigo Carlos me apontou uma possibilidade. Eu gostei da idéia e comecei a trabalhar nela, a projetá-la, a desenvolvê-la. Nas minhas horas vagas, me debruçava em cima desse projeto.
Minha amiga Adriana, depois de uma longa viagem pela Europa, havia retornado. Estivera trabalhando e fazendo cursos pela empresa. Ela me ligou, querendo saber das novidades:
- E aí, amiga, já deu uns catas naquele cara que você estava paquerando? Ou já partiu pra outra?
- Nem te conto, Dri. Não parti pra outra, não.
- Então me conta. Deu uns catas nele?
- Estamos noivos, Dri.
- Não acredito! Parabéns! Me conta como rolou essa paixão?
- Foram tantos acontecimentos que nos envolveram... Pra começar, ele é filho do melhor amigo do meu chefe, lá no escritório.
Contei a ela como fomos nos envolvendo e nos apaixonando.
- E eu queria aproveitar para convidar você para ser minha madrinha.
- Camila, que lindo! Claro que aceito seu convite. Só tem um problema, eu vou ficar no país até o final do ano. No começo do ano que vem, vou ser transferida e trabalhar numa filial na Europa.
- Nossa, que chique! Mas fique tranquila, meu noivo tem pressa na nossa união.
- Em vez de ser você a ter pressa, ele é que é o apressado? Puxa, que amor!
- E você, como está seu relacionamento com o engenheiro de alimentos?
- Estamos bem. Ele, também, será transferido. Nós iremos morar juntos na Europa.
- Que bom. Que tal marcarmos um almoço ou jantar, para eu conhecer o seu engenheiro e para você conhecer o meu noivo?
- Legal, Mila. Vou combinar com ele e ligo pra você.
- Vou ficar esperando.
Naquela semana, saimos juntos para jantar. Diego, o engenheiro de alimentos era um homem de, aproximadamente, trinta anos e de poucas palavras. Você e eu não ficamos muito à vontade com ele. Já Adriana, era alegre e espontânea, gostava de falar e brincar, como a Bianca. Você a achou muito simpática e chegou a comentar que o cara não merecia a mulher que estava com ele.

domingo, 29 de agosto de 2010

O Dr. Arnaldo disse que precisava dar uns telefonemas, mas desconfio que foi desculpa para nos deixar a sós. Disse que aguardaria seu pai chegar com seu irmão, para começar a tomar as providências cabíveis. Assim que ele saiu do quarto, você disse:
- Estou com sede.
Eu me levantei:
- Eu pego água pra você.
Você me segurou pela mão, quase me puxando.
- Estou com sede da sua boca, do seu beijo.
Impossível resistir ao seu apelo. Passei a mão pelos seus cabelos, acariciei seu rosto com as pontas dos dedos e abaixei-me para beijá-lo. Sua mão entrou por debaixo dos meus cabelos, acarinhando meu pescoço e minha nuca, fazendo com que eu sentisse um arrepio na espinha. Mordi meu lábio inferior, levemente, antes de beijar sua boca. Um barulho no corredor fez eu me afastar.
- Não faz assim, amor.
- Eu estou bem vivo, menina. Este acidente em nada me afetou.
- Percebi. Senti, também. Lembre-se que nós estamos em um hospital. Quando você sair... bom... aí é diferente.
- Por que você não fala o que tem vontade com todas as palavras?
- Você sabe que esse é o meu jeito.
- Deixa de lado essa inibição, pelo menos comigo. Nós vamos viver sob o mesmo teto, minha querida esposa.
- Tá, vou tentar, mas você sabe que me sinto constrangida.
- No começo, sim. Depois você vai se soltando. Vamos tentar. Quando eu sair do hospital, o quê vamos fazer?
- Amor.
- Fala a frase toda.
- Que chato! Quando você sair do hospital, nós vamos fazer amor.
- Você conseguiu! Tá vendo? Daqui a algum tempo, você vai falar transar, depois, fazer sexo, depois trepar.
- Você está muito assanhado! Acho que o acidente afetou sua cabeça! Deve ter caído algum parafuso dessa cachola.
Você riu. Uma enfermeira entrou com uma medicação para ser ministrada. Enquanto isso, fui até a janela, respirar um pouco. Logo que ela saiu, sentei-me, novamente, ao seu lado. Eu tinha ficado séria, porque me senti constrangida.
- Me desculpa, Mila. Deixei você chateada.
- Constrangida.
- Não foi minha intenção. Só queria que você se soltasse comigo.
- Isso vai acontecer naturalmente. Não adianta apressar as coisas.
Nesse momento, a porta se abriu e Dona Isabel adentrou no quarto, com cara de choro, seguida por seu pai, seu irmão e Dr. Arnaldo.
- Filho, o quê foi isso? Você está bem?
Levantei-me e dei meu lugar para sua mãe sentar-se ao seu lado. Juntei-me ao Dr. Arnaldo, ainda sob o efeito do constrangimento que você me causou. Ele percebeu:
- Você está séria, calada. Que foi?
- Nada. Enfim, todo esse estresse com essa situação do Gustavo, me deixou com dor de cabeça. Até saber que estava tudo bem com ele, eu fiquei muito nervosa.
- É melhor você ir para sua casa e descansar um pouco. Eu vou sair com o Augusto, tomar algumas providências e deixo você na sua casa. O Gustavo está bem. E a Isabel não vai sair daqui tão cedo. Amanhã, você volta. E não precisa ir trabalhar.
- Obrigado, Dr. Arnaldo.
Seu Otávio aproximou-se e nos agradeceu por tudo. Dr Arnaldo disse que iria me dar uma carona até em casa, que toda aquela situação tinha me afetado e eu não estava muito bem. Fui até você para me despedir.
- Vou pegar uma carona com o Dr. Arnaldo. Amanhã, eu volto pra ver você, Guto
- Você não está bem, Mila. Que foi?
- Estou bem sim, só um pouco cansada. Amanhã estarei melhor.
- Tem certeza?
- Você vai ver. Vou deixá-lo no colinho da mamãe. Ninguém melhor que Dona Isabel para cuidar desse garotão.
- Obrigado, Camila, por se preocupar com meu filho e cuidar dele com amor e carinho.
- A senhora sabe o que sinto por seu filho.
- Sei, Camila. E sei como ficou angustiada até saber que ele estava bem. Vá descansar, você está precisando, sua carinha não está boa. Amanhã, você estará melhor e poderá vir ver o nosso garotão.
- Tá certo. Tchau, Dona Isabel. Tchau, amor.
Ainda ouvi sua mãe comentar com você:
- Gustavo, você deu um grande susto nessa moça, viu como ela ficou abalada por sua causa?
No caminho para casa, não prestei muita atenção na conversa do Dr. Arnaldo com o Augusto, mas ouvi que falavam sobre o seu acidente.
- É incrível que o Gustavo só tenha quebrado o pulso.
- Pelo que entendi, quando ele percebeu que a colisão era inevitável, ele tentou evitar que batesse de frente e virou o volante para a direita. Isso evitou que ele machucasse as pernas, porém a força com que o "air bag" se abriu, fraturou o pulso. Mas a parte de trás do carro, não teve como evitar. Pelo que sei, ficou bem estragada.
- Puxa! Meu irmão poderia ter quebrado as pernas, ou ficar preso nas ferragens. Que horror!
- Seu irmão é um homem de sorte, Augusto. E inteligente também, ele pensou rápido. Foi o quê o salvou.
Em casa, contei a todos sobre o seu acidente. Disseram que iriam comigo visitá-lo, no dia seguinte.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Procuramos pelo médico que havia atendido você. Disseram que ele ainda estava lhe examinando. Uma enfermeira nos atendeu e pediu que aguardássemos, que o doutor viria conversar conosco, em seguida. Ela perguntou se éramos da família. Como sei que eles só dão informações de um paciente para familiares, respondi rapidamente, antes que o Dr. Arnaldo pudesse abrir a boca:
- Sou a mulher dele. Este é o tio, irmão do pai dele.
O Dr. Arnaldo me olhou, esperou a enfermeira afastar-se e falou:
- Mila, vocês ainda não casaram.
- Me desculpa pela mentira. Se eu não falasse que éramos da família, eles iriam nos negar informações sobre a real condição do Guto. E eu disse ser a mulher dele, não a esposa.
- Você ama demais nosso garotão, não é?
- Mais que tudo, Dr. Arnaldo. Por isso, estou tão angustiada por saber dele.
- Ele é forte, você vai ver que deve estar tudo bem.
- Tomara!
O médico veio conversar conosco. Minhas mãos suavam frio.
- Vocês são parentes do Gustavo?
- Sim. Como ele está?
Médico é pior que advogado, gosta de valorizar, enrolar, falar termos técnicos, dificultar para o interlocutor, para o leigo:
- Nossa preocupação maior são os órgãos internos e a possibilidade de hemorragia. Mas já fizemos uma tomografia e parece que nenhum órgão foi afetado. Seu marido teve muita sorte de estar usando o cinto de segurança e o "air bag" diminuiu bem a pancada. Se não fosse por isso, ele poderia até ter morrido. Ele fraturou o pulso esquerdo e teve apenas escoriações. Ele está bem, mas deverá permanecer em observação por mais vinte e quatro horas.
- Podemos vê-lo?
- Sim, ele foi sedado para não sentir muita dor, deve estar acordando. Vou acompanhá-los.
Minha ansiedade era evidente. O médico abriu a porta do quarto e anunciou, solenemente, nossa presença:
- Gustavo, sua esposa e seu tio estão aqui.
Meio sonolento, deitado na cama, com o rosto arranhado, gesso imobilizando o pulso, você abriu os olhos. Corri para perto de você:
- Meu amor, que foi isso?
Você ficou me olhando, sem dizer nada. Eu olhei para o Dr. Arnaldo, sem entender seu silêncio.
- Guto, sou eu, Mila. Você não está me reconhecendo?
- Claro que estou. Estou olhando como você é linda. Eu não perdi a memória. Tio, só não me lembro do meu casamento com esta bela moça já ter acontecido.
- Que bom que não aconteceu nada de grave com você, Gustavo. A Mila falou que éramos da família porque ficou receiosa que nos sonegassem informações a respeito do seu estado de saúde.
- Que susto, Guto! Eu fiquei apavorada quando a Sandrinha me avisou que o hospital estava me telefonando.
- Não fique, menina. Eu estou aqui, meio quebrado, mas vivo. Logo, estarei inteiro, só para você.
- Eu fiquei tão preocupada que não liguei para sua casa, seus pais ainda não sabem do seu acidente. Queria me certificar que você estava bem.
- Fez bem, querida, em não preocupar meus pais.
- Pode deixar, Gustavo. Eu ligo para meu amigo Otávio. Qualquer coisa, eu passo o telefone para você.
Enquanto o Dr. Arnaldo afastava-se um pouco para avisar seus pais, você tomou minha mão:
- Não vai dar um beijinho neste infermo, para uma recuperação mais rápida?
Dei-lhe um breve beijo em seus lábios.
- Que beijo sem graça!
- Você está num hospital, querido. Prometo beijos mais ardentes para quando você sair.
- Só beijos ardentes?
- Pra começar, não acha que tá bom?
- Então, quero ir embora agora.
- Você não pode. O médico falou que vai deixar você de molho por vinte e quatro horas em observação.
Você beijou minha mão e a apertou, baixou a voz para dizer:
- Eu acelerei um pouco porque queria almoçar com você.
Foi a minha vez de ficar olhando pra você, sem falar nada.
- Que foi? Perdeu a voz?
- Você vai me prometer que nunca mais vai fazer isso. Se tivesse acontecido alguma coisa com você... ai, ai, ai. - As lágrimas voltaram a verter dos meus olhos. - Eu não saberia viver sem você. Por favor, amado, não faça mais essas loucuras, eu não quero perder você. Prefiro ficar sem você por algumas horas, do que ficar sem você pelo resto da vida.
- Eu só queria estar junto de você, querida.
- Nós temos a vida inteira para ficar juntos, você vai até enjoar.
- Garanto que não. Enxugue essas lágrimas, minha menina. Eu prometo que não vou deixar você, mesmo se eu morrer, vou ficar como o "Ghost", ao seu lado, em espírito.
- Não brinca com isso, nem me fale em morrer. Se você morrer, eu mato você.
- Aí eu vou ficar morto duas vezes.
O Dr. Arnaldo juntou-se a nós. Puxou uma cadeira e sentou-se ao meu lado, que estava sentada mais próxima de você.
- Já conversei com seu pai, Gustavo. Sua mãe estava ao lado e, quando ouviu seu pai falando em acidente e hospital, ficou desesperada. Tive de esperar ele acalmar a Isabel, que não parava de chorar. Ela não ficou sossegada enquanto não falou comigo e eu a assegurei que você estava bem, que a Camila estava aqui ao seu lado, que tudo foi grande um susto. Eles estão vindo para cá, com o Augusto. E ele, ficou de ligar para o Alex e pedir a ele que informe a Denise.
- Isso tudo, porque não aconteceu nada de grave, Arnaldo. Imagine se tivesse acontecido!
- Nem queremos imaginar, querido!
- O médico disse que você teve sorte, Gustavo. Você é tão prudente, o quê aconteceu?
- Eu devo ter me distraído por algum instante e, um segundo, basta para acontecer acidente, Arnaldo.
- Ainda bem que você estava com o cinto de segurança e seu carro ter "air bag" foi uma sorte. Foram isso que não deixaram acontecer nada de grave com você.
- E o meu carro? Deve ter ficado bem estragadinho. Será vai ser perda total?
- Não se preocupe com isso agora, Gustavo. Quando seu irmão chegar, vou com ele cuidar dessa questão. Quanto ao seguro do veículo, eu agilizo tudo pra você. Já pedi para o Felício informar sobre seu acidente no seu escritório.
- Obrigado, tio Arnaldo.
- Esse negócio de tio foi idéia da sua esposa.
- É, Arnaldo, ela é bonitinha, e pensa rápido.
- Ei, olha como fala!
Todos rimos.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Na segunda-feira, eu era só sorriso. Nada me tiraria do sério. A felicidade estava estampada em meu rosto. Quando cheguei no escritório, Sandrinha foi a primeira a notar a mudança no meu semblante:
- Bom dia, Mila. Pelo que estou percebendo, o fim de semana foi muito bom. Você está com uma ótima aparência.
- Nossa, Sandrinha, aconteceram tantas coisas neste final de semana. Aliás, desde sexta-feira estão acontecendo muitas coisas, ou melhor, a semana passada toda. Porém, o que interessa é que o final de semana foi maravilhoso.
- Alguma coisa me diz que um certo Gustavo é o motivo principal dessa euforia.
- Parece que está escrito na minha testa, não é, Sandrinha?
- Vai me contar ou vai ficar fazendo suspense?
- Claro, de qualquer forma, você vai ficar sabendo. Nós vamos nos unir, casar.
- Dra. Camila, meus parabéns! Vocês formam um lindo casal.
- Não me chame assim, Sandrinha. Você, não. Eu não vou chamar você de Dra. Sandra, quando você se formar.
- Tá bom, Mila. Me desculpa. Eu considero muito você. Mas, me conta, como o bonitão fez o pedido?
- É uma longa estória. Tenho que começar contando a você o que aconteceu a semana passada. Eu contei da Dê, irmã dele, o quê aconteceu um dia antes do níver dela. Depois, no dia seguinte, no jantar, o namorado dela, o Alex, deu um anel de noivado a ela.
- Tudo isso você me contou.
- Mas não contei o que aconteceu na sexta-feira.
- Não, você foi almoçar e demorou bastante. Depois, quando voltou disse que ia subir até o escritório do Gustavo e quando voltou, pegou suas coisas e foi embora. O quê aconteceu? Vocês brigaram?
- Não. Naquele dia, o Guto não iria poder almoçar comigo. E eu tinha que colocar uma conversa em dia com o Carlos, meu amigo jornalista.
- O Carlos Santana? O Gustavo não gostou, ficou com ciúmes e brigou com você, foi isso?
- Não, o Guto sempre soube que o Carlos é só meu amigo, desde o tempo da faculdade. Acho que ele nunca viu motivo para sentir ciúmes. Eu almocei com o Carlos e, depois, ele me levou até a emissora, para conhecer o "habitat" dele. É interessante, mas deve ser uma loucura trabalhar sempre correndo contra o tempo.
- E...?
- Quando cheguei, não tinha nada para fazer. Eu resolvi fazer uma visitinha surpresa para o meu lindinho. Você nem imagina quem subiu comigo no elevador até o escritório dele.
- Quem?
- A "ex", a tal de Cíntia, um tipo bem perua. Eu não sabia que era ela, mas alguma coisa naquela mulher não estava no lugar. Na verdade, ela não estava no lugar.
- E aí vocês sairam no tapa?
- Sandrinha, você está parecendo minha irmã ou minha amiga Adriana! Eu fiquei na minha, pra ver qual era a dela. Ela disse que estava desempregada e precisava de referências. Eu acabei falando umas verdades para ela. O Gustavo não gostou nada dela ter ido procurá-lo. O clima entre nós ficou chato por causa disso tudo. Resolvemos ir pra casa, cada um pra sua. E deixar a poeira baixar. No sábado, saimos, fomos jantar e...
- E ele fez o pedido?
- Não, eu passei a noite no apartamento dele.
- Ai, ai, ai.
- Como eu nunca passei a noite fora de casa, você nem imagina a bronca do meu pai em nós dois. O Gustavo entendeu a preocupação, mas enfrentou meu pai. Aí, ele aproveitou e falou que queria ficar comigo, queria casar, que já estava na hora de assumir um compromisso.
- Que lindo! Parece estória de novela! E pra quando é o casório?
- Não sei. Por vontade do Guto, eu já estaria morando com ele. Ainda vamos juntar as famílias para oficializar. Eu estive pensando nessa estória de casamento. Eu sei que é o sonho de muitas mulheres, mas, na verdade, eu não gostaria de casar na igreja, véu, grinalda e flor de laranjeira, ao som da marcha nupcial. Eu acho isso muito batido. Se vamos casar, queria algo diferente.
- Eu adoro casamentos diferentes e inusitados. Talvez, você possa fazer seu vestido de noiva num tom de vermelho bem vibrante.
- Eu iria adorar inovar desse jeito. Ao som de uma balada romântica do Bon Jovi, solos de guitarra. Nossa, que escândalo! Seria o máximo! Os mais velhos iriam detestar, inclusive nossos pais.
- Seria incrível, Mila.
- É, mas sei que terei de ser mais tradicional. Sem marcha nupcial, com certeza!
Nesse momento, o Dr. Arnaldo chegou e veio em minha direção:
- Meus parabéns, Camila. Já fiquei sabendo da novidade. Vocês se completam e formam um casal muito bonito.
- Nossa! Obrigado, Dr. Arnaldo. Como ficou sabendo tão rápido?
- Encontrei o Gustavo, agora. Ele estava saindo para uma reunião, mas parou um minutinho só para me contar que vocês assumiram um compromisso e vão se casar.
- Como o senhor disse uma vez, o gelo derreteu.
- Que gelo? - indagou Sandrinha, sem entender sobre o quê falávamos.
- Não é nada, Sandrinha. É coisa de casal.
O Dr. Felício adentrou no recinto e quiz saber o quê se passava ali. Dr. Arnaldo informou a ele, que me cumprimentou. A manhã transcorreu tranquila, sem atropelos. Resolvi que não iria almoçar, só tomaria um suco e comeria um sanduiche natunal. Como você não havia ligado, achei que a tal reunião havia se estendido para um almoço de negócios. Não me preocupei, pois sabia da sua rotina. À tarde, nos veríamos, nos falaríamos e algo mais. Mal sabia que o pior estava por vir. A Sandrinha entrou correndo na minha sala, nem usou o interfone:
- Mila, atende o telefone, é urgente, é do hospital?
- Hospital?...Alô?...Sim, é Camila, o quê aconteceu?...Sim, Gustavo é meu noivo...Acidente? Como ele está?...Estou indo, imediatamente.
Comecei a tremer, meus olhos não conseguiam segurar as lágrimas.
- O que foi, Mila? O quê aconteceu com Gustavo?
- Ele sofreu um acidente de carro. Eu não sei como ele está, não me falaram. Dizem que não falam por telefone. Sandrinha, temo pelo pior.
- Não, Mila. Não pense assim. Vai dar tudo certo.
- Estou indo para o hospital. Avise o Dr. Arnaldo, por favor. Depois, de lá, darei notícias.
- Não precisa me avisar, eu vou com você, Camila.
- Dr. Arnaldo...
- O Gustavo é como um filho pra mim. Vamos?
Fomos para o hospital. Meu coração estava nas mãos, as lágrimas não paravam de rolar pelo meu rosto. Chegando lá, aquele cheiro característico de álcool, éter, medicamentos, me deixou atordoada, mas mantive-me firme. Queria saber de você, meu amor, queria vê-lo, saber se estava tudo bem e como estava.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Foi um ótimo domingo em família. À noite, fomos a casa de seus pais. Você estava ansioso para comunicá-los sobre nossa união. Denise havia saído com Alex e Augusto, também, não estava. Seus pais estavam sozinhos e ficaram muito felizes com nossa visita. Você começou a falar, em tom solene:
- Pai, mãe, eu gostaria de fazer um comunicado a vocês. Eu decidi me unir a esta linda moça que me acompanha e que, ultimamente, está sempre ao meu lado, nos bons momentos e nos que não são tão bons, também. Ela conseguiu derreter o gelo em que meu coração havia se transformado e resgatou em mim, um homem que eu jamais pensei em ser.
Eu sorri para você e entrelacei meus dedos entre os seus. Você beijou minha mão. Seu Otávio permanecia sério, Dona Isabel sorria, mas seus olhos estavam marejados de lágrimas.
- Filho, estou feliz porque vejo o amor entre vocês. Quando você falou da Camila, pela primeira vez, eu me preocupei. Depois, quando a conheci, e a família dela, notei a educação que eles deram a ela, e percebi que você tinha tirado uma sorte grande. Desde o primeiro dia, que a conheci, eu percebi que ela olhava pra você cheia de amor. Ia depender de você, deixar-se conquistar por esse amor. Porque ela estava disposta a conquistar você e seu amor.
- Nossa! Dona Isabel, eu fui tão transparente assim?
- Não, minha filha, é que o amor deixa as pessoas, principalmente nós mulheres, com uma aura iluminada. E se você fosse uma impostora, dissimulada, meu faro de mãe detectaria logo. Vou dizer uma coisa pra você, Camila. E olha que sogra não costuma falar essas coisas, mas você é um presente dos deuses para o Gustavo.
- Fico muito feliz com sua aprovação, Dona Isabel. O Gustavo é que tudo de bom pra mim. Se eu sonhasse com um príncipe encantado, como nos contos de fada, ele não chegaria a ser metade do que o Guto é.
- Pai, o senhor não vai falar nada?
- Sua mãe, também, fala por mim, filho. Eu gostei da Camila desde o primeiro dia. Aliás, isso foi unanimidade aqui em casa. Sabe por quê? Porque todos nós notamos a sinceridade dela. E você é sim, transparente, Camila. Você nunca conseguiria mentir, fingir algo que você não é. Seria uma péssima advogada de defesa, se não estivesse convicta da inocência do seu cliente. Ou seria uma péssima promotora, se não estivesse convencida da culpa do réu.
Seu pai tinha de lembrar da profissão que eu estava prestes a largar. Baixei os olhos, você me abraçou. Ele continuou:
- Menina, você conseguiu o quê algumas mulheres, mais experientes que você, tentaram e não conseguiram, derreter o coração de pedra e gelado deste meu filho. Ele, hoje, é outra pessoa. Graças a você, ele voltou a ser uma pessoa melhor. Até conosco, da família, ele é mais carinhoso, mais afetuoso. Eu só espero que vocês não arraste este noivado por muito tempo.
- Pai, por mim, acabaria hoje mesmo, eu já queria levá-la pra minha casa, mas não é certo. Os pais dela, também, não iriam aprovar.
- Não precisa exagerar, Gustavo. Precisamos reunir as famílias num jantar ou almoço para oficializar.
- Se a Denise não se incomodar, poderemos chamar a família do Alex, também. Claro, se vocês dois não se opuserem. Oficializaremos os dois noivados, dos nossos dois filhos. - sugeriu Dona Isabel.
- Eu gosto da idéia, Dona Isabel. Por mim, tudo bem. Guto?
- Também, não me oponho. Se a Dê e o Alex toparem sua sugestão, mãe, pode marcar.

domingo, 1 de agosto de 2010

- Onde está o Gustavo? - perguntou Dona Carol
- No meu quarto, cochilando.
- Você passa a noite na cama dele e ele fica na sua, durante o dia, a diferença é que agora ele está sozinho, coitado! - Bia não deixava passar nada.
- Ele está descansando um pouco, Bia.
- Irmãzinha, você deixou-o tão cansado assim?
- Papai também está cochilando no sofá, você vai perguntar se a mamãe deixou-o cansado, Bia?
- Ei, vocês duas, vamos acabar logo com essa louça. Eu ainda quero fazer um bolo para o lanche - determinou Dona Carol.
- De chocolate? - eu e Bia perguntamos juntas.
- Pode ser. Se o Gustavo também gostar, faço de chocolate.
- Então, pode fazer, mãe. Ele gosta.
- Olha só, mãe. Ela já conhece os gostos do futuro marido.
- Muito bom. Vai aprendendo Bianca. Se você quer agradar seu marido, seu namorado, vai conhecendo os gostos dele. Nada pior do que você querer agradar e chegar com algo que ele não gosta, seja lá o que for. Isso vale pra ele, também.
- Observadora como a Mila é, acho difícil que aconteça.
- Mas pode acontecer. Aí, você tem de compensar a gafe.
- Já sei, por alguma coisa que ele adore de paixão, não é mesmo, Dona Carol?
- Isso mesmo, Mila. Aprendeu direitinho.
- Ih, tô vendo que vou bombar nessa matéria!
- Com o tempo, você vai aprendendo, Bianca. Ou achará outros meios de agradar o seu escolhido.
- Que assim seja, mamãe!
Mamãe começou a fazer o bolo, eu e Bia nos encarregamos de preparar um suco, sanduiches, café, patê, etc. Algum tempo depois, ouvimos a televisão transmitindo jogo de futebol.
- Papai já está assistindo futebol - falei.
Bia deu uma olhada pela porta da cozinha:
- E ele não está só. Agora, ele arrumou companhia. Será que os dois torcem para o mesmo time?
Bastou Bianca falar, para o tal time fazer um gol e os dois vibrarem.
- É, maninha, domingo à tarde, papai vai levar o seu fofo pro jogo.
- Deixa eles se entenderem, Bia, pelo menos assim, papai não fica pegando no nosso pé. E se eu passar a noite fora de casa, ele não embaça.
- Esperta você, hein, Mila? Já está pensando em passar outras noites fora de casa, é?
- Bia, agora ele é meu noivo, em breve, estaremos dividindo o mesmo teto.
- Filha, eu sei que você está muito feliz, mas sei, também, que vou sentir muito a sua falta, quando você deixar esta casa.
- Não, mamãe, eu estarei sempre aqui, não vai dar para sentir falta.
- E se ela tiver um montão de filhos, esta casa vai ficar parecendo uma creche, pode esperar - Bia não perdia uma.
- Por que você acha que vou ter um montão de filhos, Bia?
Bia riu:
- O Gustavo não tem cara de perder tempo. E eu acho que você... bom, pode ser que eu esteja enganada. Mas logo, deve pintar um herdeiro por aí.
- Não vamos colocar o carro na frente dos bois, Bianca. Tudo tem seu tempo.- falou mamãe.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Depois do almoço, papai deitou-se no sofá e cochilou. Chamei você para meu quarto, queria falar com você. Mamãe e Bia ficaram na cozinha cuidando da louça. Fechei a porta, não queria ser interrompida. Você brincou:
- O que você vai fazer comigo? Seus pais estão lá fora, hein!
- Eu quero falar com você. Lembra que eu disse que, quando eu tomasse uma decisão, você seria o primeiro a ficar sabendo? Pois, então. Eu tomei uma decisão. Eu sei que não vai agradar algumas pessoas, mas se eu não a tomasse, seria como se tivesse me auto flagelando.
- O que foi, querida? Que decisão é essa que tomou? O que tanto a afligia?
- Minha profissão, Gustavo. Vou abandonar o Direito. Não me sinto à vontade para exercer a profissão. Eu achei que poderia, mas cada vez que tenho que desempenhar a função, me sinto sufocada, tolhida, infeliz. Não me sinto realizada.
- E o que você pretende fazer?
- Ainda não tenho muita certeza. O Carlos, você lembra dele, o jornalista, me convidou para fazer um teste para trabalhar na redação da emissora em que ele trabalha, mas não aceitei. Eu disse a ele que essa loucura de trabalhar com jornalismo, também não tem a minha cara. Ele ficou de me ajudar a encontrar alguma coisa que eu possa fazer.
- E você já pretende deixar o escritório do Arnaldo?
- Ainda não. Não vou deixá-los assim. Também, tenho de amadurecer o que vou fazer. Enquanto isso, continuo com eles. Eu não sei, mas acho melhor, também, ainda não contar para minha família.
- Também acho melhor, Camila. Até você decidir o que vai fazer, além de ser minha esposa e mãe dos nossos filhos, você não deve contar a eles sua decisão. Não comente nada nem no escritório. De repente, você pode repensar e voltar atrás. Por enquanto, não conte a ninguém. O que você decidir fazer, que deixe você feliz e realizada, vai me deixar feliz também. Eu darei o meu apoio. Só espero que não escolha algo que me deixe sozinho e abandonado por muito tempo, como ser aeromoça ou trabalhar em cruzeiros internacionais.
- Imagine que eu iria deixar você por tanto tempo! De jeito nenhum, amor. É mais fácil eu decidir ser sua secretária, para ficar na sua sombra, que largar você solto por aí.
- Eu iria adorar ter você como minha secretária. Iria chamar você toda hora, pedir para você sentar no meu colo e anotar alguma coisa na minha agenda, ou qualquer coisa assim, só para beijar seu pescoço e acariciar suas coxas.
- Isso é assédio. Você pode ser denunciado e responder por isso.
- Olha aí, lá vem a advogada. Quer largar a profissão, mas parece que já incorporou muita doutrina, doutora Camila.
- Não tem como fugir, querido. Muito do aprendizado vai me acompanhar a vida toda. Eu vou deixar de exercer, mas não vou deixar de ser.
- Vem cá. Não se preocupe. Você vai se sair bem no que escolher e eu estarei com você.
- Guto, agradeço por não me recriminar e me achar imatura por tomar uma decisão assim, a essa altura do campeonato. Seu apoio é muito importante para mim.
- Não é imaturidade, amor. As pessoas mudam. Tem gente que muda de profissão depois de dez, vinte anos exercendo uma, que não gostava, por outra, que lhe traz mais alegria. Agora, vem cá, quero um beijo, estou com saudades da sua boca.
Deitamos na minha cama e ficamos abraçados, em silêncio, durante algum tempo. Você adormeceu. Levantei bem devagar, fechei a cortina e cobri você com uma manta. Fui para a cozinha com mamãe e Bia.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Fui para meu quarto, trocar de roupa. Bia veio atrás de mim, sedenta por detalhes da minha noite:
- Você vai me contar?
- Se quer detalhes picantes, esquece. Eu conheço você, adora essas coisas.
- Não é isso, Mila. Dessa vez, eu sei que não ficou só na tentativa, como você me contou. Aqueles dois imbecis que você se relacionou não eram de nada. O Gustavo, porém, é um homem experiente, que sabe das coisas. Deve ter feito tudo direitinho e não deve ter deixado você na mão.
- O Gustavo é um homem maravilhoso e muito carinhoso...
- E gostosão.
- Bia, como você fala assim do meu namorado?
- Primeiro, ele não é mais o seu namorado, agora é seu noivo, futuramente seu marido, mas já é o seu homem, querida irmã. Depois, falo o que ele aparenta ser como homem. Não fique com ciúmes, eu prefiro rapazes um pouco mais jovens, que não sejam tão sérios como o seu fofo.
- Minha irmã, você fala com tanta segurança, como se fosse uma 'expert' no assunto!
- Posso não ser uma 'expert', mas tenho muito mais experiência que você, Mila.
- Você nunca me contou...
- Claro, tinha receio que você pudesse contar para a mamãe, porque eu era mais nova e tinha de seguir seu exemplo. Papai e mamãe pegaram tanto no seu pé, que esqueceram um pouco de mim. Então, pude respirar um pouco, sem a pressão que havia sobre você.
- Você tem razão, papai e mamãe me reprimiram bastante. Mas isso não importa mais. Eu quero saber de você e o que minha irmã caçula pode me ensinar com sua vasta experiência.
- Também, não sou tão rodada assim. Não sou 0 km, mas o ponteiro não andou tanto. Vou contar pra você. Minha primeira vez foi com aquele nosso vizinho, o Bruno, que a mãe era professora. Eu tinha dezessete anos, quase dezoito.
- Eu me lembro, vocês estavam sempre estudando juntos.
- Não era bem estudar que fazíamos juntos, principalmente quando ficávamos sozinhos. Podemos dizer que aprendemos muito, um com o outro. Depois disso, você sabe os poucos namorados que tive. E não tive nenhuma aventura avulsa por aí. Se não estou namorando, não saio por aí procurando um extra, eu me viro sozinha.
- Como assim?
- Tenho meus brinquedos de criança grande.
- Bia! Eu nunca imaginei...
- Você nem imagina que certos brinquedos são melhores que alguns namorados que tive.
- Você não tem receio que alguém possa encontrar esses apetrechos em seu quarto?
- Não, eles ficam bem guardados e trancados, não tem perigo. Você deveria experimentar alguma coisinha assim.
- Talvez eu pudesse precisar antes, agora não.
- Aí que você se engana, Mila. Você não vai precisar para brincar sozinha, mas poderá achar coisinhas muito interessantes para brincar a dois. Coisinhas para deixar o clima mais...sexy entre vocês. Eu vou levar você a uma sex shop e vou dar um presente para vocês dois. Você vai escolher o que quiser.
- Bianca, o que eu posso querer?
- Não sei, lá você escolhe. Não precisa ser algo que você se envergonhe. Pode ser um óleo para massagem, que, tenho certeza, ambos irão gostar e não é nada inibidor.
- Tá bom, me convenceu.
- Eu não ia querer que você saisse de lá trazendo uma fantasia e botas de couro e um chicotinho para você, ou uma boneca inflável para o Guto.
Começamos a rir da situação.
- Já pensou se o Gustavo visse você vestida de espartilho de couro, botas de cano longo, batom bem vermelho e um chicotinho na mão?
- Das duas, uma, Bia. Ou ele iria adorar a novidade, ou detestar, pegar o chicote e me bater na bunda.
- Você é exagerada, Mila. Acho que vocês iriam se divertir muito.
Rimos muito. Estava escovando os cabelos para prendê-lo, puxando para trás, quando Bia viu meus brincos.
- Mila, que brincos lindos! Quando você comprou? Você não me mostrou. Você me empresta qualquer dia?
- Esses não.
- Por que não?
- Porque esses são especiais. Foi um presente do meu noivo.
- Hum, fresca! Fez amor com ele uma vez, ganhou um presente caro e ficou metida.
- Duas.
- Duas o quê?
- Hoje, de manhã, também. Ontem, à noite, e hoje.
- Minha irmã, você está querendo tirar o atraso? Gostou da brincadeira, né, sua safada?! E eu achando que eu era sapeca!
- Bianca, eu estou amando, pense o que quiser.
- Mila, você está feliz como nunca vi, isso é o que importa. Você está amando e é muito amada por aquele homem bonitão que está na sala com nossos pais. Espero, algum dia, encontrar um "Gustavo" na minha vida, que me faça feliz, como você está e sinta-se feliz ao meu lado, como ele está ao seu.
- Você vai encontrar, Bianca. Quando menos esperar.
Mamãe veio nos chamar para ajudar no almoço. Queria fazer alguma coisa especial para o domingo. Tinha um convidado especial, o futuro membro da família. Ela já gostava dele desde o primeiro momento que o conhecera. E conhecendo Dona Carol, sabia que iria começar a mimá-lo como um filho.

domingo, 4 de julho de 2010

Fomos para minha casa. Eu já estava com o coração na mão. Tive de tocar a campainha, porque, para ajudar, esqueci minhas chaves. Ouvi meu pai, perguntar, nervoso, quase gritando:
- Onde está a Camila? Não chegou ainda?
Através da porta, ouvi a Bia responder:
- Acabou de chegar. E não está sozinha.
Minha irmã abriu a porta para entrarmos. Quando passei, ela falou baixinho no meu ouvido:
- Você está cheirando a sabonete.
Meu pai estava com cara de poucos amigos, só faltava estar com o cinto na mão para me bater:
- Isso são horas de uma moça de família chegar em casa? Você nunca fez isso, eu exijo uma explicação. Onde a senhora estava até essa hora?
Meu pai estava tão nervoso, que havia ignorado sua presença.
- Seu Paulo, eu posso explicar.
- Sr. Gustavo, o senhor, que me parecia um rapaz responsável, sério, desaparece com minha filha até essa hora! Acho bom os dois explicarem.
- Primeiro, eu sou sim, um homem sério e responsável, senão não estaria aqui, dando explicações ao senhor. A Camila estava comigo, no meu apartamento.
A Bianca, que estava só ouvindo a conversa, arregalou os olhos, quando ouviu você falar onde eu estava.
- E o senhor me diz isso numa boa? Que passou a noite com minha filha? Só falta me dizer que não aconteceu nada de mais, que passaram a noite jogando dominó.
- Eu estou contando a verdade. É melhor do que lhe falar que fomos pra balada, dançamos a noite toda, bebemos, fumamos ou sei lá mais o quê. E o senhor sabe que não ficamos jogando dominó.
- Então, você confirma que vocês dormiram juntos?
- Sim, já que o senhor quer que eu fale com todas as letras, dormimos juntos sim, fizemos amor sim. Camila não é mais uma criança, é uma moça responsável. Eu amo sua filha, ela é a mulher da minha vida.
Eu não conseguia falar nada, nem mover-me. Bia estava boquiaberta. Dona Carol permanecia sentada no sofá, só observando. E você acrescentou, já começando a ficar irritado com a situação:
- E se o senhor for daqueles pais antiquados, retrógrados, que põe a filha para fora de casa por ela passar a noite com um homem, e for pôr a Mila pra fora de casa por causa disso, eu já a levo embora pra minha casa, agora.
Chegou a vez da Dona Carol interferir:
- Calma, Gustavo. Nós não estamos no século passado, ninguém vai pôr ninguém pra fora de casa. Nós só ficamos preocupados, porque a Mila nunca passou a noite fora de casa.
- Me desculpa, Dona Carol, não quiz ofendê-los.
- Eu compreendo. Meu marido saiu do sério e você se irritou. Tudo bem. Desde a primeira vez, que você veio aqui, trazer a Mila, eu percebi que você a olhava de forma diferente. Eu sempre soube que vocês iriam ficar juntos. Até que demorou. Vocês são jovens, tem mais é que se amarem.
- Dona Carol, a senhora está surprendendo! - brincou a Bia.
- Seu pai já foi um jovem impetuoso, ele sabe do que estou falando.
Bia já escrachou:
- Mamãe contando segredos de alcova com papai!
- Comporte-se, Bia - bronqueou papai.
Bia nem ligou:
- Então, a senhora e o papai andaram dando uns catas antes de se casarem?
- Bianca, já falei.
Minha irmã acabou descontraindo o clima. Até meu pai achou graça no jeito dela e desfez a expressão severa. Eu ainda permanecia paralizada. Apesar de tudo, sentia vontade chorar. Não sabia porquê. Estava tudo bem. Mas você ainda tinha o que falar:
- Seu Paulo, Dona Carol, peço que me perdoem ter saído do sério.
- Nós sabemos que você gosta de nossa filha, mas...
- ...mas eu quero aproveitar a presença de toda família, inclusive da Bia, porque eu gostaria de informá-los, inclusive eu nem falei com a Mila, mas se ela aceitar, eu quero me casar com ela, viver com ela, o que ela quiser. Eu sei que quero estar ao lado dela. Eu já passei por muitas coisas, traição, desilusões, decepções. Eu não acreditava mais no amor. Tornei-me um homem frio, sem sentimentos. Até conhecer a Camila. Ela foi chegando, de mansinho e me domou completamente. Agora, você me tem aos seus pés. - Você se ajoelhou na minha frente, tomou minha mão. - Quer passar o resto da sua vida comigo? Ou enquanto durar nosso amor? Eu espero que dure muito, muito, muito...por uma eternidade.
Eu não me contive. As lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto. Não esperava seu gesto, seu pedido, sua atitude. Tudo estava acontecendo tão rápido. Tinha certeza que amava você e queria você e ficar com você. Olhei para todos, ansiosos pela minha resposta, inclusive você.
- Você está certo disso, Gustavo?
- Eu não falaria tudo isso perante sua família se não estivesse certo do quero, Camila. Estou aqui me comprometendo com você e sua família porque amo você. E sei que você me ama também, portanto...
- Claro, amo você, quero ficar com você, o que for, a resposta é sim.
- Podemos brindar com champanhe? - perguntou Bia.
- Ainda é cedo - respondeu papai - Brindaremos no almoço. Hoje, nós temos um convidado especial, o mais novo membro da família.
- E as alianças, cunhado?
- Querida Bia, as alianças serão providenciadas e logo vamos juntar as famílias e oficializar nosso noivado, o mais breve possível, prometo.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

O sol já ardia quando acordei. Atordoada, levei alguns instantes para me dar conta de onde estava e do quê tinha acontecido. Estava só, nua, coberta por um lençol macio de seda, numa cama estranha. Vi minhas roupas arrumadas numa poltrona, meus sapatos estavam ao lado. Pensei em me levantar, me vestir e ir embora. Senti um aroma de café invadir o ambiente. Logo em seguida, você apareceu, lindo, com um 'robe de chambre' de seda, trazendo uma bandeja com café, suco de laranja, torradas, manteiga e geléia. Ainda meio zonza, sentei-me na cama.
- Bom dia, minha princesa. Queria fazer um café da manhã melhor, mas foi o que pude fazer. Dormiu bem, querida?
- Bom dia, amor. Dormi o sono dos deuses. Não vi você quando acordei, pensei que tinha me deixado sozinha.
- Imagine que eu ia abandonar você, deixá-la sozinha! Que idéia! Estava fazendo café pra acordar você.
No meio da bandeja de café, havia uma pequena caixa aveludada vermelha.
- O que é isso?
- É pra você. Eu ensaiei pra lhe dar isso ontem durante o jantar, mas tudo entre nós aconteceu de um jeito tão...
Abri a caixa, havia uma corrente de ouro com um pingente em forma de coração, onde estava gravado "Eu te amo", do outro lado, seu nome. Sorri. Você continuou:
- Você pode achar brega, não vou querer que você use isso, só guarde. Era dessa forma que eu ia me declarar a você.
- Gustavo, não precisava disso pra me falar do seu amor. Eu amo você demais, já falei pra você e não vou me cansar de falar. Eu não tinha certeza que viria acabar a noite na sua cama. Eu queria, mas não sabia o que iria acontecer e se iria acontecer.
- Eu tinha certeza que conseguiria trazer você pra minha cama.
- Pretencioso, convencido!
- Mas não sabia quando, querida! Eu queria tanto você, que ia ficar insistindo. Iria criar desculpas esfarrapadas pra trazer você aqui.
- Engraçadinho!
- A verdade, Camila, eu não esperava que você viesse pra cá. Eu já havia convidado você, uma vez, e você foi tão categórica no seu 'não', que me deixou sem jeito de convidar você, novamente. Quando você disse que eu poderia levar você pra qualquer lugar, eu entendi nas entrelinhas o que você estava insinuando, entendi que estava pronta para assumir uma nova situação.
- Sim, nós teríamos que nos acertar. Já não era sem tempo, né?
- Tenho mais uma coisa pra você.
- Você está cheio de surpresas, senhor Gustavo.
Você retirou do bolso do robe uma caixinha preta e colocou na bandeja, enquanto eu tomava um gole de suco de laranja.
- Abre, tenho certeza que você vai gostar.
Abri e encontrei um lindo par de brincos em ouro branco e safira.
- Gustavo, você...
- Quando nós fomos comprar o presente da Dê, notei que você gostou muito desses brincos, voltei na loja depois e comprei pra você.
- Não acredito! Você é maluco!
- Maluco por você, garota!
Passei um pouco de geléia numa torrada, ofereci a você, que deu uma mordida. Quando levei a torrada a boca, um pouco de geléia escorreu pelo meu queixo. Estendi a mão para alcançar um guardanapo. Você me deteve.
- Espere.
Você aproximou-se e lambeu a geléia do meu queixo. Fechei os olhos e senti sua boca quente pressionando a minha, sua língua a procura da minha. Deixei-me envolver no seu beijo cheio de paixão. Não demorou para estarmos, novamente, um nos braços do outro, abraçados, agarrados, entrelaçados. Deixamos a força desejo tomar conta de nós e de nossos corpos ardentes. Entregamo-nos, um ao outro, com muita volúpia, com todo o poder do nosso sentimento. Foi maravilhoso o prazer que experimentamos nessa entrega total e impudica.
- Você foi incrível, menina!
- Eu aprendo rápido, querido. E você me faz ser instintiva, meu amor.
- Ah! Ia me esquecendo. A Bia tentou falar com você, mas seu telefone cai na caixa postal, então ela me ligou, escondido de seus pais, disse que eles estão preocupados com você, que nunca passou a noite fora de casa.
- Agora que você me fala? Você falou que eu estava aqui?
- Não falei nada, mas sua irmã é esperta, ela disse: "não é da minha conta, mas se vocês estiverem num motel, é melhor deixar a brincadeira pra outro dia, meu pai está furioso."
- Não devíamos... Que horas são?
- Quase nove.
- É capaz de meu pai me matar. Sei que vou ouvir muito.
- Calma, Mila, você é maior, responsável, dona do seu nariz. Não precisa temer seu pai. Não se preocupe. Alguns minutos a mais não vão fazer diferença. Venha, vamos tomar um banho pra despertar. Vou levar você e vou acompanhá-la.
Você estava tranquilo, impassível, enquanto eu, já imaginava o que me aguardava. Sentia-me como uma adolescente, fugida de casa, para ir a um baile. Quando estava quase pronta, só faltando calçar os sapatos, você me abraçou:
- Tudo que eu disse a você, ontem à noite, eu reafirmo hoje. Amo você, minha menina.
- Você, agora, me fez sua mulher, meu amor.
- Eu sei, mas você vai ser sempre a minha menina.
Beijamo-nos.
- É melhor irmos, senão não sairemos daqui hoje.
Você riu.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Você me pegou no colo e levou-me pro seu quarto. Sentou-se na cama, fiquei sentada sobre suas pernas. Passei a mão em seus cabelos, levemente anelados, acariciei-lhe o rosto, macio, de barba feita. Tomei a iniciativa e beijei-lhe, suavemente, os lábios. E, novamente. Senti uma de suas mãos, sutilmente, abrir o zíper do meu vestido vermelho e alisar minhas costas. A outra mão, mais ousada, levantava meu vestido e acariciava minhas coxas. Segurei seu rosto, com uma de minhas mãos, e o beijei com sensualidade. Minha mão começou a procurar os botões de sua camisa e desabotoá-los, um a um, até deixar o seu peito nu e arranhá-lo, delicadamente, com as unhas. Você puxou meu vestido pelos ombros. Livrar-se, totalmente, dele foi fácil. Fiquei só de 'lingerie'. Deitei-me em sua cama. Era um convite para você juntar-se a mim. Queria você e queria ser sua. Você desfez-se da camisa, já totalmente aberta por mim, dos sapatos, das meias, da calça e deitou-se ao meu lado. Virei-me pra você, acariciei seu tórax e subi para seu peito e abracei você, por debaixo dos seus braços. Abraçamo-nos e beijamo-nos. Entreguei-me a você, de corpo e alma.
- Adoro seu bronzeado dourado - beijei seu pescoço e mordisquei a pontinha de sua orelha.
- Adoro sua pele macia de bebê! - você sussurrou no meu ouvido.
Depois, preocupado comigo, e tendo notado minha inexperiência, você indagou:
- Tudo bem?
- Tá, tudo.
- Por que você não me disse?
- Não queria influenciar você.
- Eu poderia ter sido mais cauteloso, ir mais devagar...
- Você foi perfeito. No começo, incomodou um pouquinho, mas depois foi muito bom.
- Eu não imaginava que você nunca... Eu ainda acho que deveria ter me contado.
- Já disse, não quiz influenciar. Me desculpa.
- Como assim, influenciar?
- Tá, eu vou contar. Tive um namorado, que eu gostava demais, as brincadeiras foram esquentando e quando chegou na hora H, eu contei, para ele, que eu era inexperiente. Ele ficou cheio de coisa, se eu tinha certeza, se queria mesmo, se ele era a pessoa certa, blablablá. Até que ele falou que preferia estar com uma pessoa mais experiente. Passou um tempão, antes que me envolvesse com outra pessoa. Eu gostava do rapaz, mas nem tanto quanto do outro. E a mesma coisa, quando chegou na hora dos finalmente, eu contei, mas ele não conseguia...você me entende, né? Tentamos mais umas duas vezes, mas ele não conseguia. Devia ter algum trauma, sei lá.
Você riu:
- Um 'expert' que queria aprender com uma garota experiente e um 'brocha', onde você encontrou esses caras?
- Vai ver que no mesmo lugar onde você encontrou a tal da Cíntia - respondi.
- Me desculpa, querida, não resisti. Essas pessoas pertencem ao passado e devem permanecer lá para sempre. Vamos deixá-las fora de nossas vidas e de nossa cama. Feito?
- Feito.
- Sei que insisti para você me contar, mas devia ter me contido. Depois disso, você não se envolveu com mais ninguém?
- Fechei-me para os relacionamentos. Tranquei meu coração e joguei a chave pela janela. Achei que não daria certo com mais ninguém, não queria saber de outra decepção. Mas alguém achou a chave que joguei fora e conheci um homem maravilhoso.
- E onde está essa maravilha? Vai me dizer que deixou você escapar?
- Não, não me deixou escapar, tanto que estou ao lado dele, em sua cama.
- Mila...
- Meu maravilhoso deus grego!
- Minha maravilhosa deusa do Olimpo, o importante é que agora você está aqui comigo, me fez e me faz o homem mais feliz do mundo, menina. Cada dia com você é uma emoção diferente. Cada dia, eu descubro uma mulher incrível. Eu te amo demais, Camila.
- Você sabe que também amo você, Gustavo. Ouvir você falar do seu amor e estar aqui com você era tudo que eu queria.
Nos beijamos, apaixonadamente. Permanecemos abraçados e adormecemos.

terça-feira, 15 de junho de 2010

O porteiro não estava acostumado a ver você acompanhado, estranhou:
- Está tudo bem, seu Gustavo?
- Sim, tudo ótimo, Antonio.
- Se o senhor precisar de alguma coisa, estou as suas ordens.
- Obrigado, Antonio.
No elevador, senti uma vontade enorme de beijar você, mas notei uma câmera. O tal Antonio devia estar de olho em nós. Me contive, lembrando do nosso primeiro beijo, dentro do elevador. Você me abraçou por trás e me deu um beijo no pescoço.
- Não, Guto. Estamos sendo observados.
- Bobinha! Ele já deve ter visto coisas que a gente nem imagina: beijos, amassos, e sei lá mais o quê.
- Tá bom, mas não precisamos ser os protagonistas.
Ainda abraçado a mim, você falou num tom de voz mais intimista:
- Eu estava lembrando do nosso primeiro beijo, foi no elevador.
- Eu, também, estava lembrando disso. Foi tão bom, mas eu fiquei atordoada com toda aquela situação.
- Se você quiser, eu aperto todos os botões, páro o elevador, apago as luzes e a gente faz um "remake". Quer?
- Não, engraçadinho!
O elevador chegou no seu andar. Você pegou minha mão e me conduziu até a porta do seu apartamento. Abriu a porta. Acendeu a luz do corredor de entrada:
- Primeiro, as damas.
Sua casa era bem arrumadinha para um homem solteiro. Não se via nada fora do lugar. Nada de bagunça. Eu sei que você não me levaria para um lugar que estivesse de pernas pro ar, nem eu esperava um muquifo, bagunçado e mal cheiroso. Tudo simples e de bom gosto. Só havia o necessário, não havia acessórios, adornos, enfeites, apenas móveis dispostos de maneira harmônica. Havia um único porta-retrato, com uma foto de todos da sua família, que ficava na estante, ao lado da televisão.
- Você não vai acender as luzes? - perguntei.
- Não. Se você quiser, acendo todas, arrumo até um holofote para iluminar você, minha querida. É que você tem luz própria para iluminar tudo ao seu redor. Vem.
Você estendeu a mão. Sei que estava ansioso, achei que não precisávamos ter pressa. Sentei-me no sofá.
- Espera.
Você ajoelhou-se na minha frente, pôs suas mãos nos meus joelhos e os acariciou.
- Que foi? Se arrependeu de ter vindo até aqui? Se você quiser ir embora...
- Não. Não quero ir embora, quero ficar.
- Mas o que há? Parece que você está com medo!
- Sim, estou com medo, Guto.
- De mim, amada?
- Não, meu querido, de mim. Eu nunca quiz tanto alguém como eu quero você. Eu nunca amei tanto como estou amando você. Estou com medo do que estou sentindo. É tão forte e intenso que me assusta!
Você deslizou suas mãos pelas minhas pernas e tirou meus sapatos. Sentou-se ao meu lado, no sofá, e puxou minhas pernas para cima das suas. Fixou seus olhos nos meus.
- Eu acalmaria você se confessasse que tinha medo de sentir o que sinto agora?
- Como assim?
- Depois... você sabe, eu não quiz me envolver, seriamente, com ninguém. Mesmo quando conheci você, não estava levando à sério. Você é quase dez anos mais nova que eu, achava que você só queria curtir com um cara mais velho. Convivendo com você, dia após dia, conhecendo você como eu conheço hoje, eu fui me soltando. E, quando me dei conta, já estava envolvido e apaixonado por você. Aos poucos, você me conquistou. Você é especial e importante para mim. Esse sentimento que bate forte dentro de você, também acontece comigo.
- Por que não me falou?
- Tinha receio de parecer ridículo, piegas. Senti o seu receio de não estar sendo correspondida em seu amor. Eu, também, tinha o mesmo receio. Você sabe, gato escaldado tem medo de água fria.
- Guto, você duvidou do meu amor?
- Confesso que, no início, sim, Mila. Eu não tinha certeza o quanto você me amava e o quanto eu era importante na sua vida. Acho que você, também, ficou nessa incerteza comigo, por isso não falava do seu sentimento, nem eu do meu. Hoje, eu sei o que você sente por mim.
- Você tem razão. Há pouco tempo, comecei a ter certeza do seu amor por mim, mesmo você não falando nada.
Você me puxou para cima de suas pernas, eu passei meu braço envolta do seu pescoço.
- Eu amo você, Mila. Você entrou na minha vida, como quem não quer nada e derreteu meu coração de gelo.
Sorri:
- Eu ouvi, algumas vezes, que o gelo estava derretendo e não entendia. Agora, compreendo.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Você entendeu que seria melhor deixar a poeira baixar. Nada como colocar a cabeça no travesseiro para os pensamentos entrarem no lugar. Uma noite de sono faria bem para nós dois. Você havia ficado muito irritado com a visita inesperada daquela mulher. Tentou esconder sua irritação de mim, mas eu percebi. Acho que, se você pudesse, a teria jogado pela janela. Senti, pela sua voz, ao falar com ela, que você não tinha nenhum sentimento por ela. Nem raiva, ódio, mágoa pela traição, nem restava qualquer sentimento de carinho que você havia sentido, um dia, por ela. Simplesmente, ela deixou de existir pra você.
Nos últimos dias, comecei a ter certeza do seu amor por mim. Por tudo que acontecera, tudo que você dissera. Estava claro para mim. Você estava falando o que sentia, abrindo seu coração. O quê, antes parecia difícil, quase impossível, já não era mais. Você estava conseguindo expressar o que sentia. Antes, você parecia uma pessoa incapaz de demonstrar seus sentimentos, ainda mais na presença de outras pessoas. Tudo isso me deixava insegura. Eu não sabia se você estava comigo por estar ou se gostava mesmo de mim. Você havia mudado. Já não tinha receio de demonstrar o quê sentia, nem na presença de outras pessoas.
Lembrei-me da tal estória do gelo estar derretendo. Será que todos referiam-se a você? A você ter endurecido a ponto de ficar com o coração como um "iceberg"? Ninguém me explicava, mas eu começava a entender. Sorri e tive um pensamento típico da Bia: nós vamos pegar esse gelo, fazer uma batida de limão e encher o latão.
À noite, você foi me buscar. Eu já estava arrumada, mas para valorizar o conteúdo, demorei uns minutinhos a mais. Só para deixá-lo esperando. Enquanto isso, você conversava com minha mãe, que queria saber da sua irmã.
Entrei na sala, linda e maravilhosa, num vestido vermelho, dei-lhe um rápido 'selinho' e perguntei:
- Podemos ir?
- Tomem cuidado vocês dois, a cidade está muito perigosa. - recomendou Dona Carol.
No elevador, você me abraçou e disse baixinho no meu ouvido:
- Você está linda, Mila. Onde quer ir?
- Estou nas suas mãos. Vou onde você me levar. Não sei, mas nesta semana, você havia me convidado para ir ao restaurante em que almoçamos quando saímos pela primeira vez. Eu acho que...
- Perfeito. É um lugar agradável e perfeito para nós dois.
O local ficava diferente à noite. Luzes artificiais incidiam no jardim, deixando um agradável clima romântico. E aquele aroma verde de flores, ervas e grama pairava no ar. A noite estava clara, lua cheia e céu estrelado. Pura magia. Romantismo típico para casais apaixonados. Negócios e família, só na hora do almoço.
Você estava mais carinhoso e atencioso. Não comentamos o que havia acontecido durante a semana. Parecia que havíamos selado um pacto silencioso entre nós, em não comentar os acontecimentos da semana que nos aborreceram. Aquela noite era só nossa. Nenhum assunto, nem ninguém estaria entre nós. Nossos olhos expressavam o que nossos lábios não falavam. Ao final do jantar, você acariciou uma de minhas mãos:
- Vamos?
Retirei minha mão, delicadamente, da sua e entrelacei meus dedos nos seus:
- Sim, vamos.
- Você não sabe pra onde! - brincou.
- Sim, eu sei. E mesmo que não soubesse, hoje eu só quero estar com você. Seja onde for.
Você apertou meus dedos entre os seus e deu um beijo no dorso da minha mão. Deixamos o restaurante e seguimos para o seu apartamento.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

A Sandrinha estava sozinha, Dr. Arnaldo e Dr. Felício já haviam ido embora. Não tinha nada para fazer. Resolvi fazer uma visita surpresa pra você. Dirigi-me para o hall, apertei o botão para chamar o elevador. A porta abriu-se. No interior, um senhor de terno, meia idade, e uma mulher, balzaquiana, estatura média, cabelos loiros com mechas, vestido preto, justo, saltos altos, chamaram minha atenção. A princípio, pensei que estivessem juntos, mas ele desceu, apenas, um andar acima.
A mulher parecia ansiosa. Ela desceu no mesmo andar que eu. Alguma coisa me dizia para deixá-la ir na frente. Queria ver onde ela iria. Disfarcei e fiz que arrumava alguma coisa no sapato. Não fiquei surpresa quando ela entrou no complexo onde ficava seu escritório. Diminui o passo e entrei atrás dela, o suficiente para saber quem ela procurava:
- Boa tarde, o senhor Gustavo está?
Ana Maria, a recepcionista, me viu. Ela sabia do nosso relacionamento. Ela era amiga da Sandrinha e sempre almoçavam juntas, pondo as fofocas em dia.
- Dra. Camila...
Fiz um sinal para ela e disse:
- Pode atendê-la, não estou com pressa, Ana.
A Ana era esperta, entendeu que eu queria saber quem era aquela mulher que procurava pelo meu namorado.
- Pois não, a quem devo anunciar? O senhor Gustavo aguarda a senhora?
- Não, mas diga-lhe que Cíntia quer falar com ele.
Quando ela disse o nome dela, fiquei indignada. Depois de tudo o que ela aprontou, ainda tinha coragem de procurá-lo? Qual a intenção dela, de estar ali, vestida daquele jeito? Será que ela sempre vestia-se assim? Ou seria para impressionar o Gustavo e ver se ele ainda sentia uma pontinha de interesse por ela? Seria a primeira vez que o procurava? Ou havia outras vezes? Aguçou minha curiosidade e minha raiva.
Aninha sentiu que alguma coisa não estava se encaixando. Fingiu tentar o interfone. E, com a desculpa de que você não estava na sala, adentrou pelo corredor para informá-lo que sua 'ex' estava lá procurando por você, e eu, também. Logo, em seguida, você apareceu. Olhou a mulher com frieza. Eu havia sentado numa poltrona ao lado da mesa da recepcionista.
- Desculpe-me, Gustavo, aparecer assim, sem avisar. Mas, se eu avisasse, sei que você não me receberia.
- Se você sabia, por que insistiu em vir assim mesmo?
- Nossa! Não precisa me tratar assim! Só estou aqui porque, talvez, você possa me ajudar. Pelos velhos tempos.
- Não existe velhos tempos e não acredito que eu possa ajudar em alguma coisa. O que você ainda quer de mim?
- Estou desempregada. Não vim aqui para pedir emprego, mas preciso de referências.
Eu estava na minha, só observando o desenrolar da conversa. Percebi que você já estava ficando irritado, mas contendo-se a todo custo. Aquela conversa podia tirar você do sério a qualquer momento. Quando ela lhe pediu referências, não resisti, minha língua foi mais rápida:
- E aquele senhor, vinte anos mais velho que você, que era seu chefe e amante, não poderia dar-lhe essas referências que precisa?
Todos voltaram-se para mim. Você ficou surpreso em saber que eu já sabia de tudo. Cíntia, intrigada e irritada com a minha intromissão, indagou:
- E essa aí, quem é?
- Essa aí, não. Não me iguale a você.
- É, menina, você precisa aprender muita coisa para ser igual a mim.
- Ser traíra, infiel, dissimulada, interesseira, mau caráter... Moça, na escola que você estudou, quero passar bem longe. Nisso, nunca serei igual a você.
- Gustavo, você não fala nada? - Cíntia buscou por seu apoio.
- Tudo o que eu tinha para falar pra você, eu já falei. Pedi pra me esquecer e não me procurar nunca mais.
Eu queria falar muito, mas apenas acrescentei:
- Você tinha tudo pra ser uma mulher muito feliz, ao lado de um homem maravilhoso, que te amava, mas jogou sua felicidade no lixo a troco de nada. Agora é tarde para chorar o leite derramado.
- Quem é você, garota?
- Ela é tudo que você jamais foi, e muito mais. Nem que você se esforçasse, chegaria a ser um décimo dessa pessoa maravilhosa. - você respondeu, olhando-me com carinho, antes que eu pudesse falar alguma coisa.
Cíntia entendeu que algo muito forte, intenso e especial nos unia. Entendeu que havia cometido um erro em procurar você. Não era benvinda, nem por você e, pelo que ela entendeu, nem por sua 'garota'. Só restava, então, ir embora. Desculpei-me com a Aninha pelo bate-boca que ela havia presenciado. Você, também, desculpou-se. Fomos para sua sala. Você rompeu o silêncio que pairava entre nós:
- Quem contou pra você?
- Não importa quem contou.
- Eu não imaginava que você soubesse. Por que você nunca me falou?
- Porque esperava que você me contasse.
- Não é fácil para um homem falar que foi traído.
- Eu sei e compreendo você.
- Ficou magoada comigo por não ter te contado?
- Não,... não sei,... eu esperava que você me contasse... Não foi legal o quê aconteceu, e como aconteceu.
- Me perdoa, Mila. Eu queria contar para você, mas não sabia como começar.
- Tá.
- Quer ir pra outro lugar, pra gente conversar?
- Não, estou cansada. Quero ir para casa. Amanhã será outro dia, gostaria de estar com você, pode ser?
- Claro, eu quero estar sempre com você. Amanhã, estaremos decansados e com a cabeça 'clean'. Vou levá-la para casa.
Era muita coisa para um dia. O almoço com o Carlos. A visita na emissora e a conversa com os colegas do Carlos. Os novos rumos profissionais que daria na minha vida. O aparecimento da ex do Gustavo, pedindo favor. Minha 'discussão' com ela. O Gustavo ficar sabendo que eu já sabia de tudo, sendo que eu esperava que ele me contasse. Eu ter certeza do que ele sentia por mim. Muita informação para um só dia.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

A semana havia sido muito cansativa, muitos acontecimentos, sentimentos intensos e eu estava ansiosa por um encontro que poderia mudar o rumo da minha vida. Não que fosse mudar completamente, mas me ajudaria a tomar a decisão que estava adiando. Teria uma direção a seguir, ajudaria a clarear minhas idéias. Cheguei cedo no restaurante e fiquei no bar, aguardando meu amigo. Eu sabia que ele poderia atrasar-se, mas não foi o que aconteceu.
- Camila, minha querida amiga, que bom que poderemos conversar!
- Carlos Santana, não é todo mundo que tem um amigo que aparece todo dia, na tv, em horário nobre, não é?
- Você está mais bonita que no tempo da faculdade, sabia, doutora? Como o amor deixa as mulheres mais bonitas!
- Por que diz isso?
- Eu estava trabalhando no dia do sequestro, mas vi você com aquele moreno, alto, bonito e sensual. Vai dizer que ele não é seu namorado?
- Olho de repórter, hein? É meu namorado, sim.
- Tá vendo?
- E você? Na última vez que conversamos, você me contou que tinha ido morar com a Marcinha.
- É, mas ela foi para Londres, ser correspondente, e eu fiquei a ver navios. Tudo bem, deixa pra lá, o importante é que ainda somos amigos. Às vezes, nos falamos por telefone ou pela internet.
- Ainda bem que ficou a amizade.
- Bom, mas que estória é essa de querer largar a profissão, doutora?
- Você descobriu cedo que não tinha nada a ver com o Direito, eu acho que persisti no erro. Gostava de algumas coisas, mas não da maioria. Na prática, é uma profissão muito chata, muito brocrática, não combina comigo. Admiro as pessoas que abraçam as carreiras jurídicas, mas não é a minha cara, não tenho o perfil.
- Você poderia ser jornalista, sabia? Você escreve tão bem! Eu me lembro que você escreveu toda a estória daquele júri simulado que você e seu grupo tiveram de fazer. Foi muito bom! E que estória!
- Eu só gosto de escrever, mas sair atrás de notícias, fazer reportagens malucas, perigosas, sensacionalistas, ou sei lá mais o quê, também não é a minha cara. Eu, por exemplo, nunca iria entrevistar aquele sequestrador, como você.
- Depois de almoçarmos, vou levar você até a redação da emissora. Só pra você conhecer, quem sabe você se anima?!
- Vou adorar conhecer esse ambiente de trabalho, porque é novo para mim, diferente, mas não é o que quero, ainda.
- Vamos ver!
Conheci a redação da emissora, os colegas de profissão de Carlos e cada um falou os prós e os contras da profissão. Cada vez mais, tinha certeza que não queria aquela vida de doidos para mim. Alguma coisa já começava a desenhar na minha mente. Conversei com Carlos e ele disse que me daria total apoio, e me ajudaria no que pudesse. Despedimo-nos e voltei para o escritório.