O Dr. Arnaldo disse que precisava dar uns telefonemas, mas desconfio que foi desculpa para nos deixar a sós. Disse que aguardaria seu pai chegar com seu irmão, para começar a tomar as providências cabíveis. Assim que ele saiu do quarto, você disse:
- Estou com sede.
Eu me levantei:
- Eu pego água pra você.
Você me segurou pela mão, quase me puxando.
- Estou com sede da sua boca, do seu beijo.
Impossível resistir ao seu apelo. Passei a mão pelos seus cabelos, acariciei seu rosto com as pontas dos dedos e abaixei-me para beijá-lo. Sua mão entrou por debaixo dos meus cabelos, acarinhando meu pescoço e minha nuca, fazendo com que eu sentisse um arrepio na espinha. Mordi meu lábio inferior, levemente, antes de beijar sua boca. Um barulho no corredor fez eu me afastar.
- Não faz assim, amor.
- Eu estou bem vivo, menina. Este acidente em nada me afetou.
- Percebi. Senti, também. Lembre-se que nós estamos em um hospital. Quando você sair... bom... aí é diferente.
- Por que você não fala o que tem vontade com todas as palavras?
- Você sabe que esse é o meu jeito.
- Deixa de lado essa inibição, pelo menos comigo. Nós vamos viver sob o mesmo teto, minha querida esposa.
- Tá, vou tentar, mas você sabe que me sinto constrangida.
- No começo, sim. Depois você vai se soltando. Vamos tentar. Quando eu sair do hospital, o quê vamos fazer?
- Amor.
- Fala a frase toda.
- Que chato! Quando você sair do hospital, nós vamos fazer amor.
- Você conseguiu! Tá vendo? Daqui a algum tempo, você vai falar transar, depois, fazer sexo, depois trepar.
- Você está muito assanhado! Acho que o acidente afetou sua cabeça! Deve ter caído algum parafuso dessa cachola.
Você riu. Uma enfermeira entrou com uma medicação para ser ministrada. Enquanto isso, fui até a janela, respirar um pouco. Logo que ela saiu, sentei-me, novamente, ao seu lado. Eu tinha ficado séria, porque me senti constrangida.
- Me desculpa, Mila. Deixei você chateada.
- Constrangida.
- Não foi minha intenção. Só queria que você se soltasse comigo.
- Isso vai acontecer naturalmente. Não adianta apressar as coisas.
Nesse momento, a porta se abriu e Dona Isabel adentrou no quarto, com cara de choro, seguida por seu pai, seu irmão e Dr. Arnaldo.
- Filho, o quê foi isso? Você está bem?
Levantei-me e dei meu lugar para sua mãe sentar-se ao seu lado. Juntei-me ao Dr. Arnaldo, ainda sob o efeito do constrangimento que você me causou. Ele percebeu:
- Você está séria, calada. Que foi?
- Nada. Enfim, todo esse estresse com essa situação do Gustavo, me deixou com dor de cabeça. Até saber que estava tudo bem com ele, eu fiquei muito nervosa.
- É melhor você ir para sua casa e descansar um pouco. Eu vou sair com o Augusto, tomar algumas providências e deixo você na sua casa. O Gustavo está bem. E a Isabel não vai sair daqui tão cedo. Amanhã, você volta. E não precisa ir trabalhar.
- Obrigado, Dr. Arnaldo.
Seu Otávio aproximou-se e nos agradeceu por tudo. Dr Arnaldo disse que iria me dar uma carona até em casa, que toda aquela situação tinha me afetado e eu não estava muito bem. Fui até você para me despedir.
- Vou pegar uma carona com o Dr. Arnaldo. Amanhã, eu volto pra ver você, Guto
- Você não está bem, Mila. Que foi?
- Estou bem sim, só um pouco cansada. Amanhã estarei melhor.
- Tem certeza?
- Você vai ver. Vou deixá-lo no colinho da mamãe. Ninguém melhor que Dona Isabel para cuidar desse garotão.
- Obrigado, Camila, por se preocupar com meu filho e cuidar dele com amor e carinho.
- A senhora sabe o que sinto por seu filho.
- Sei, Camila. E sei como ficou angustiada até saber que ele estava bem. Vá descansar, você está precisando, sua carinha não está boa. Amanhã, você estará melhor e poderá vir ver o nosso garotão.
- Tá certo. Tchau, Dona Isabel. Tchau, amor.
Ainda ouvi sua mãe comentar com você:
- Gustavo, você deu um grande susto nessa moça, viu como ela ficou abalada por sua causa?
No caminho para casa, não prestei muita atenção na conversa do Dr. Arnaldo com o Augusto, mas ouvi que falavam sobre o seu acidente.
- É incrível que o Gustavo só tenha quebrado o pulso.
- Pelo que entendi, quando ele percebeu que a colisão era inevitável, ele tentou evitar que batesse de frente e virou o volante para a direita. Isso evitou que ele machucasse as pernas, porém a força com que o "air bag" se abriu, fraturou o pulso. Mas a parte de trás do carro, não teve como evitar. Pelo que sei, ficou bem estragada.
- Puxa! Meu irmão poderia ter quebrado as pernas, ou ficar preso nas ferragens. Que horror!
- Seu irmão é um homem de sorte, Augusto. E inteligente também, ele pensou rápido. Foi o quê o salvou.
Em casa, contei a todos sobre o seu acidente. Disseram que iriam comigo visitá-lo, no dia seguinte.
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