quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Procuramos pelo médico que havia atendido você. Disseram que ele ainda estava lhe examinando. Uma enfermeira nos atendeu e pediu que aguardássemos, que o doutor viria conversar conosco, em seguida. Ela perguntou se éramos da família. Como sei que eles só dão informações de um paciente para familiares, respondi rapidamente, antes que o Dr. Arnaldo pudesse abrir a boca:
- Sou a mulher dele. Este é o tio, irmão do pai dele.
O Dr. Arnaldo me olhou, esperou a enfermeira afastar-se e falou:
- Mila, vocês ainda não casaram.
- Me desculpa pela mentira. Se eu não falasse que éramos da família, eles iriam nos negar informações sobre a real condição do Guto. E eu disse ser a mulher dele, não a esposa.
- Você ama demais nosso garotão, não é?
- Mais que tudo, Dr. Arnaldo. Por isso, estou tão angustiada por saber dele.
- Ele é forte, você vai ver que deve estar tudo bem.
- Tomara!
O médico veio conversar conosco. Minhas mãos suavam frio.
- Vocês são parentes do Gustavo?
- Sim. Como ele está?
Médico é pior que advogado, gosta de valorizar, enrolar, falar termos técnicos, dificultar para o interlocutor, para o leigo:
- Nossa preocupação maior são os órgãos internos e a possibilidade de hemorragia. Mas já fizemos uma tomografia e parece que nenhum órgão foi afetado. Seu marido teve muita sorte de estar usando o cinto de segurança e o "air bag" diminuiu bem a pancada. Se não fosse por isso, ele poderia até ter morrido. Ele fraturou o pulso esquerdo e teve apenas escoriações. Ele está bem, mas deverá permanecer em observação por mais vinte e quatro horas.
- Podemos vê-lo?
- Sim, ele foi sedado para não sentir muita dor, deve estar acordando. Vou acompanhá-los.
Minha ansiedade era evidente. O médico abriu a porta do quarto e anunciou, solenemente, nossa presença:
- Gustavo, sua esposa e seu tio estão aqui.
Meio sonolento, deitado na cama, com o rosto arranhado, gesso imobilizando o pulso, você abriu os olhos. Corri para perto de você:
- Meu amor, que foi isso?
Você ficou me olhando, sem dizer nada. Eu olhei para o Dr. Arnaldo, sem entender seu silêncio.
- Guto, sou eu, Mila. Você não está me reconhecendo?
- Claro que estou. Estou olhando como você é linda. Eu não perdi a memória. Tio, só não me lembro do meu casamento com esta bela moça já ter acontecido.
- Que bom que não aconteceu nada de grave com você, Gustavo. A Mila falou que éramos da família porque ficou receiosa que nos sonegassem informações a respeito do seu estado de saúde.
- Que susto, Guto! Eu fiquei apavorada quando a Sandrinha me avisou que o hospital estava me telefonando.
- Não fique, menina. Eu estou aqui, meio quebrado, mas vivo. Logo, estarei inteiro, só para você.
- Eu fiquei tão preocupada que não liguei para sua casa, seus pais ainda não sabem do seu acidente. Queria me certificar que você estava bem.
- Fez bem, querida, em não preocupar meus pais.
- Pode deixar, Gustavo. Eu ligo para meu amigo Otávio. Qualquer coisa, eu passo o telefone para você.
Enquanto o Dr. Arnaldo afastava-se um pouco para avisar seus pais, você tomou minha mão:
- Não vai dar um beijinho neste infermo, para uma recuperação mais rápida?
Dei-lhe um breve beijo em seus lábios.
- Que beijo sem graça!
- Você está num hospital, querido. Prometo beijos mais ardentes para quando você sair.
- Só beijos ardentes?
- Pra começar, não acha que tá bom?
- Então, quero ir embora agora.
- Você não pode. O médico falou que vai deixar você de molho por vinte e quatro horas em observação.
Você beijou minha mão e a apertou, baixou a voz para dizer:
- Eu acelerei um pouco porque queria almoçar com você.
Foi a minha vez de ficar olhando pra você, sem falar nada.
- Que foi? Perdeu a voz?
- Você vai me prometer que nunca mais vai fazer isso. Se tivesse acontecido alguma coisa com você... ai, ai, ai. - As lágrimas voltaram a verter dos meus olhos. - Eu não saberia viver sem você. Por favor, amado, não faça mais essas loucuras, eu não quero perder você. Prefiro ficar sem você por algumas horas, do que ficar sem você pelo resto da vida.
- Eu só queria estar junto de você, querida.
- Nós temos a vida inteira para ficar juntos, você vai até enjoar.
- Garanto que não. Enxugue essas lágrimas, minha menina. Eu prometo que não vou deixar você, mesmo se eu morrer, vou ficar como o "Ghost", ao seu lado, em espírito.
- Não brinca com isso, nem me fale em morrer. Se você morrer, eu mato você.
- Aí eu vou ficar morto duas vezes.
O Dr. Arnaldo juntou-se a nós. Puxou uma cadeira e sentou-se ao meu lado, que estava sentada mais próxima de você.
- Já conversei com seu pai, Gustavo. Sua mãe estava ao lado e, quando ouviu seu pai falando em acidente e hospital, ficou desesperada. Tive de esperar ele acalmar a Isabel, que não parava de chorar. Ela não ficou sossegada enquanto não falou comigo e eu a assegurei que você estava bem, que a Camila estava aqui ao seu lado, que tudo foi grande um susto. Eles estão vindo para cá, com o Augusto. E ele, ficou de ligar para o Alex e pedir a ele que informe a Denise.
- Isso tudo, porque não aconteceu nada de grave, Arnaldo. Imagine se tivesse acontecido!
- Nem queremos imaginar, querido!
- O médico disse que você teve sorte, Gustavo. Você é tão prudente, o quê aconteceu?
- Eu devo ter me distraído por algum instante e, um segundo, basta para acontecer acidente, Arnaldo.
- Ainda bem que você estava com o cinto de segurança e seu carro ter "air bag" foi uma sorte. Foram isso que não deixaram acontecer nada de grave com você.
- E o meu carro? Deve ter ficado bem estragadinho. Será vai ser perda total?
- Não se preocupe com isso agora, Gustavo. Quando seu irmão chegar, vou com ele cuidar dessa questão. Quanto ao seguro do veículo, eu agilizo tudo pra você. Já pedi para o Felício informar sobre seu acidente no seu escritório.
- Obrigado, tio Arnaldo.
- Esse negócio de tio foi idéia da sua esposa.
- É, Arnaldo, ela é bonitinha, e pensa rápido.
- Ei, olha como fala!
Todos rimos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário