terça-feira, 10 de agosto de 2010

Na segunda-feira, eu era só sorriso. Nada me tiraria do sério. A felicidade estava estampada em meu rosto. Quando cheguei no escritório, Sandrinha foi a primeira a notar a mudança no meu semblante:
- Bom dia, Mila. Pelo que estou percebendo, o fim de semana foi muito bom. Você está com uma ótima aparência.
- Nossa, Sandrinha, aconteceram tantas coisas neste final de semana. Aliás, desde sexta-feira estão acontecendo muitas coisas, ou melhor, a semana passada toda. Porém, o que interessa é que o final de semana foi maravilhoso.
- Alguma coisa me diz que um certo Gustavo é o motivo principal dessa euforia.
- Parece que está escrito na minha testa, não é, Sandrinha?
- Vai me contar ou vai ficar fazendo suspense?
- Claro, de qualquer forma, você vai ficar sabendo. Nós vamos nos unir, casar.
- Dra. Camila, meus parabéns! Vocês formam um lindo casal.
- Não me chame assim, Sandrinha. Você, não. Eu não vou chamar você de Dra. Sandra, quando você se formar.
- Tá bom, Mila. Me desculpa. Eu considero muito você. Mas, me conta, como o bonitão fez o pedido?
- É uma longa estória. Tenho que começar contando a você o que aconteceu a semana passada. Eu contei da Dê, irmã dele, o quê aconteceu um dia antes do níver dela. Depois, no dia seguinte, no jantar, o namorado dela, o Alex, deu um anel de noivado a ela.
- Tudo isso você me contou.
- Mas não contei o que aconteceu na sexta-feira.
- Não, você foi almoçar e demorou bastante. Depois, quando voltou disse que ia subir até o escritório do Gustavo e quando voltou, pegou suas coisas e foi embora. O quê aconteceu? Vocês brigaram?
- Não. Naquele dia, o Guto não iria poder almoçar comigo. E eu tinha que colocar uma conversa em dia com o Carlos, meu amigo jornalista.
- O Carlos Santana? O Gustavo não gostou, ficou com ciúmes e brigou com você, foi isso?
- Não, o Guto sempre soube que o Carlos é só meu amigo, desde o tempo da faculdade. Acho que ele nunca viu motivo para sentir ciúmes. Eu almocei com o Carlos e, depois, ele me levou até a emissora, para conhecer o "habitat" dele. É interessante, mas deve ser uma loucura trabalhar sempre correndo contra o tempo.
- E...?
- Quando cheguei, não tinha nada para fazer. Eu resolvi fazer uma visitinha surpresa para o meu lindinho. Você nem imagina quem subiu comigo no elevador até o escritório dele.
- Quem?
- A "ex", a tal de Cíntia, um tipo bem perua. Eu não sabia que era ela, mas alguma coisa naquela mulher não estava no lugar. Na verdade, ela não estava no lugar.
- E aí vocês sairam no tapa?
- Sandrinha, você está parecendo minha irmã ou minha amiga Adriana! Eu fiquei na minha, pra ver qual era a dela. Ela disse que estava desempregada e precisava de referências. Eu acabei falando umas verdades para ela. O Gustavo não gostou nada dela ter ido procurá-lo. O clima entre nós ficou chato por causa disso tudo. Resolvemos ir pra casa, cada um pra sua. E deixar a poeira baixar. No sábado, saimos, fomos jantar e...
- E ele fez o pedido?
- Não, eu passei a noite no apartamento dele.
- Ai, ai, ai.
- Como eu nunca passei a noite fora de casa, você nem imagina a bronca do meu pai em nós dois. O Gustavo entendeu a preocupação, mas enfrentou meu pai. Aí, ele aproveitou e falou que queria ficar comigo, queria casar, que já estava na hora de assumir um compromisso.
- Que lindo! Parece estória de novela! E pra quando é o casório?
- Não sei. Por vontade do Guto, eu já estaria morando com ele. Ainda vamos juntar as famílias para oficializar. Eu estive pensando nessa estória de casamento. Eu sei que é o sonho de muitas mulheres, mas, na verdade, eu não gostaria de casar na igreja, véu, grinalda e flor de laranjeira, ao som da marcha nupcial. Eu acho isso muito batido. Se vamos casar, queria algo diferente.
- Eu adoro casamentos diferentes e inusitados. Talvez, você possa fazer seu vestido de noiva num tom de vermelho bem vibrante.
- Eu iria adorar inovar desse jeito. Ao som de uma balada romântica do Bon Jovi, solos de guitarra. Nossa, que escândalo! Seria o máximo! Os mais velhos iriam detestar, inclusive nossos pais.
- Seria incrível, Mila.
- É, mas sei que terei de ser mais tradicional. Sem marcha nupcial, com certeza!
Nesse momento, o Dr. Arnaldo chegou e veio em minha direção:
- Meus parabéns, Camila. Já fiquei sabendo da novidade. Vocês se completam e formam um casal muito bonito.
- Nossa! Obrigado, Dr. Arnaldo. Como ficou sabendo tão rápido?
- Encontrei o Gustavo, agora. Ele estava saindo para uma reunião, mas parou um minutinho só para me contar que vocês assumiram um compromisso e vão se casar.
- Como o senhor disse uma vez, o gelo derreteu.
- Que gelo? - indagou Sandrinha, sem entender sobre o quê falávamos.
- Não é nada, Sandrinha. É coisa de casal.
O Dr. Felício adentrou no recinto e quiz saber o quê se passava ali. Dr. Arnaldo informou a ele, que me cumprimentou. A manhã transcorreu tranquila, sem atropelos. Resolvi que não iria almoçar, só tomaria um suco e comeria um sanduiche natunal. Como você não havia ligado, achei que a tal reunião havia se estendido para um almoço de negócios. Não me preocupei, pois sabia da sua rotina. À tarde, nos veríamos, nos falaríamos e algo mais. Mal sabia que o pior estava por vir. A Sandrinha entrou correndo na minha sala, nem usou o interfone:
- Mila, atende o telefone, é urgente, é do hospital?
- Hospital?...Alô?...Sim, é Camila, o quê aconteceu?...Sim, Gustavo é meu noivo...Acidente? Como ele está?...Estou indo, imediatamente.
Comecei a tremer, meus olhos não conseguiam segurar as lágrimas.
- O que foi, Mila? O quê aconteceu com Gustavo?
- Ele sofreu um acidente de carro. Eu não sei como ele está, não me falaram. Dizem que não falam por telefone. Sandrinha, temo pelo pior.
- Não, Mila. Não pense assim. Vai dar tudo certo.
- Estou indo para o hospital. Avise o Dr. Arnaldo, por favor. Depois, de lá, darei notícias.
- Não precisa me avisar, eu vou com você, Camila.
- Dr. Arnaldo...
- O Gustavo é como um filho pra mim. Vamos?
Fomos para o hospital. Meu coração estava nas mãos, as lágrimas não paravam de rolar pelo meu rosto. Chegando lá, aquele cheiro característico de álcool, éter, medicamentos, me deixou atordoada, mas mantive-me firme. Queria saber de você, meu amor, queria vê-lo, saber se estava tudo bem e como estava.

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