Passaram, aproximadamente, duas semanas. Já havíamos começado os preparativos do nosso 'enlace' (que palavra esquisita, antiga, fora de moda!). Enfim, optamos por uma cerimônia mais informal, que aconteceria de manhã, no sítio do Dr. Arnaldo, que seria o seu padrinho.
Entre os preparativos e o meu projeto, eu continuava trabalhando no escritório de advocacia. Você, como sempre, passava em casa para me levar. Às vezes, subia e tomava café conosco, outras vezes, me aguardava no carro.
Nesse dia, especificamente, você não ia subir, iria me esperar na portaria. Eu não levantei bem, estava com um pouco de tontura e enjoada. Apesar disso, me arrumei. Pensei comigo: devo ter comido alguma coisa que não caiu legal, antes de sair tomo algum remedinho e logo melhoro. Engano meu. Quando saí do quarto e senti o cheiro de café, o enjôo voltou com tudo e corri para o banheiro. A Bianca viu e foi atrás de mim.
- Que foi, Mila? Você não está bem? Você está vomitando?
- Alguma coisa que comi me fez mal.
- Será?
- Vou tomar alguma coisa para o estômago, ou fígado, e vou melhorar.
- Você não vai tomar nem café?
- Bia, nem me fale em café que minha ânsia aumenta.
- Mila! Será que você não está grávida?
- Que idéia, Bia!
- Pensa bem, há quanto tempo veio sua última menstruação?
- No mês passado, eu acho.
- Ih, maninha, com tantas coisas acontecendo na sua vida, você se esqueceu de se previnir.
- Pode ser, mas o Guto nunca esquece.
- Nenhuma vez?
- Só me lembro da primeira vez que tomamos banho juntos, mas só ficamos "brincando", como você gosta de falar.
- Taí, acho melhor você fazer o teste da farmácia, desconfio que, daqui a alguns meses, serei titia.
- Nem me fale, Bia. Eu fico apavorada desde já.
- Deixa de ser boba, Camila! Mesmo que você não fosse casar com o bonitão, você vai ter um filho do homem que você ama... Seu telefone está tocando...
- Deve ser o Gustavo, que deve estar cansado de esperar. Atende pra mim, Bia. E pede pra ele subir.
A Bia lhe contou que eu não estava me sentindo bem e pediu pra você subir. Ela não falou nada do enjôo e da disconfiança que tinha. Você ficou todo preocupado comigo:
- Que aconteceu, querida? O que você tem?
- Nada. Estou indisposta.
- Ela está com enjôo - completou Bia.
Minha mãe lhe ofereceu café.
- Não fala em café, mãe, que a Mila fica mais enjoada.
- Mas a Mila gosta de café, Bia.
- Só o nome está me dando enjôo, mãe.
- Filha, você está grávida?
- Amor?...
- Não sei. Estou enjoada. Por enquanto, é só isso.
- Já falei que você tem de fazer o teste da farmácia, para tirar a dúvida. Se der negativo, tudo bem. Se der positivo, você vai fazer outros exames.
- Eu vou até a farmácia buscar esse teste. Eu sou o mais interessado em saber se vou ser pai. Volto logo.
Você saiu em busca de uma farmácia para comprar o tal teste de gravidez. Voltou com três marcas diferentes. A Bia brincou:
- É só a Mila que precisa fazer o teste, Gustavo. Eu e a mamãe não estamos com sintomas.
- Tudo bem, cunhada. Eu não sabia o qual comprar, por isso trouxe os três.
- Vamos fazer isso logo. Também estou ansiosa.
- Vou ajudar você, Mila - disse minha irmã.
Fomos para o banheiro fazer o tal teste. Demoramos um pouco. Bianca quiz usar os três "kits"; não queria que pairasse dúvidas. Sabíamos que você estava impaciente e mamãe, ansiosa. Enfim, saimos do banheiro. Eu e minha irmã estávamos sérias. A Bia fez questão de fazer o comunicado:
- Sr. Gustavo, eu quero avisá-lo que, a partir de hoje, o senhor terá atender todos os pedidos, por mais estranho que pareça, da mãe do seu filho, ou filha. O senhor. vai ser papai de um bebezinho chorão.
Seus olhos, que estavam fixos nos meus, desde que entramos na sala, ficaram cheios de lágrimas. Era a primeira vez que via você ficar tão emocionado, e não conteve as lágrimas.
- Camila, você não sabe como estou feliz! Esse é o presente mais lindo que você podia me dar. Deus me abençoou quando conheci você, agora abençoou nós dois e o nosso amor. Eu amo você cada vez mais!
Você ajoelhou-se, acariciou e beijou minha barriga.
- Não disse que será um bebezinho chorão? Se puxar o pai...
- Gustavo, estou feliz, mas também estou com medo. Nunca pensei em ser mãe assim tão rápido.
- Minha filha, não se preocupe. Tudo vai dar certo. Essa criança já é muito amada por todos. Eu estarei sempre ao seu lado pra ajudar você.
- Não fique preocupada, querida. Não vai faltar quem tranquilize você. Minha mãe também pode ajudar.
- Vai ser uma disputa de avós para paparicar esse pimpolho.
- E você, cunhada, não vai mimar o sobrinho?
- Eu vou ensiná-lo a cantar, ou tocar algum instrumento. Mas só depois que ele parar de chorar e sujar as fraldas.
- Ela fala assim, Guto, mas vai ser a mais grudada ao nenê.
- Tá bom, mas não conte comigo pra trocar as fraldas. E por falar nisso, agora vocês terão de, como diz a Mila, tomar as providências cabíveis: médico, exames, pré-natal, além de começar a pensar no enxoval, etc.
- Querida, faço questão de acompanhar você sempre que for ao médico e fazer os exames.
- E seu trabalho? Nem sempre você poderá me acompanhar, amor. Fique sossegado, a mamãe e a Bia poderão me acompanhar.
- Sabia que ia sobrar pra mim!
- Eu acompanho minha filha, Gustavo. Quando você puder ir, você vai; quando não for possível, eu e a Bianca estaremos com ela.
- Obrigado, Dona Carol. Mas vou fazer questão de ir no exame de ultrassom. Vou querer conhecer nosso filho antes dele nascer.
- Vocês vão querer saber se vai ser menino ou menina? - indagou mamãe.
- Eu gostaria de saber, mãe. Não sei o Guto. Se ele não quiser, tudo bem. Quem chegar, será benvindo, ou benvinda.
- O importante é que nasça com saúde e lindo como a mãe. Também gostaria de saber. Se for menino, já compro uma camisetinha do time do papai. Se for menina, um vestidinho nas cores do time do vovô.
- Vocês torcem para o mesmo time, não adianta querer fazer média. Coitadinho desse bebê! Desde cedo querem ensiná-lo a ser brega!
- Você não tem jeito, maninha!
- Filha, você vai trabalhar? Mesmo indisposta?
- Não vai não, Dona Carol. Vou ligar para o Arnaldo e avisar que ela não irá trabalhar. Mila, ligue para seu médico, ou médica, e veja se pode atender você ainda hoje. Eu irei com você.
- Gustavo, jante conosco hoje. O Paulo gostará de receber essa notícia de você.
- Combinado, Dona Carol. Amanhã, daremos a notícia em casa, para minha família.
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