sábado, 25 de setembro de 2010

Muitas mudanças estavam ocorrendo. A empresa em que você trabalha estava expandindo, crescendo e o conjunto de escritórios já não suportava mais atender a demanda que vinha se apresentando. Compraram um pequeno, mas moderno e espaçoso prédio, um pouco distante do centro, e programaram a mudança. Aos poucos, conforme, iam ficando prontas as instalações, móveis e documentos iam sendo transferidos. Você disse que queria ser um dos últimos a ir para o novo endereço e explicou as razões: sua esposa estava para dar a luz, a qualquer momento, e você, como pai de primeira viagem, queria estar por perto.
No escritório de advocacia, também, haviam mudanças. O escritório, também, iria ter sede própria. Dr. Arnaldo e Dr. Felício compraram uma casa, não tão moderna quanto gostariam, mas foi o que conseguiram encontrar não muito longe do centro. Sandrinha havia se formado e, enquanto esperava a sua carteira definitiva da OAB, estagiava comigo. Aliás, ela fazia todo o trabalho, não me deixava fazer nada, com a desculpa da minha gravidez. Eu não reclamava. Dr. Arnaldo e Dr. Felício gostavam muito dela e, como eles sabiam que, depois do nascimento do bebê, eu não voltaria a trabalhar, estavam apostando nela para ficar no meu lugar. Ela já conhecia o escritório, os advogados, o serviço e boa parte dos clientes, por quê investir numa pessoa que nada sabia? Contrataram, por hora, antes da mudança, uma recepcionista, Márcia, eficiente, simpática, mas pouco amigável. Sandrinha explicava o serviço a ela, depois vinha torcendo o nariz. Eu ria, dizia:
- Dra. Sandra, a Marcinha está te chamando na recepção!
- Fica me tirando, fica, Mila! Você não vai ter de ver a cara dessa metida todo dia. Ah, ela não gosta de apelidos, nem diminutivos, nem pense em chamá-la de Marcinha.
- É, Sandrinha é só você, única e exclusiva! E por falar em exclusiva, a senhora está muito bonita, muito produzida, onde pensa que vai? Alguma audiência especial? Ou a audiência será com um certo Dr. Lúcio, após o expediente?
- Dra. Camila, a senhora é muito perspicaz, nada lhe escapa, seria uma boa detetive, uma policial, já pensou na possibilidade? Dra. Camila, delegada de polícia, que máximo!
- Nem pensar, Sandrinha! Longe de mim ficar atrás de bandidos! Ainda mais agora com esse barrigão. E logo mais, com um bebezinho chorando, querendo mamar, um maridão chegando do serviço, esperando o jantar e a mulher chegando junto, com um monte de armas enfiadas nas roupas e toda suja, porque entrou no meio do mato no encalço de bandidos. Imagine a cena! O Guto pegava o nenê e ia pra casa da mãe.
A Sandrinha riu:
- Não seja dramática, Mila. Existem muitas delegadas casadas e que são mães e não fazem esse drama!
- Tá bom, mas essa não é a minha praia! E não tente mudar de assunto, o foco é você, não eu. Vai me contar ou é segredo de estado?
- Não tem jeito, né? Quando você quer uma coisa, você acaba conseguindo. Taí seu marido que não me deixa mentir!
- Não fui eu que pedi ele em casamento! Não mude de assunto de novo!
- Não vou mudar, Mila. Vou te contar. Hoje, não terá nada a fazer, à tarde. Vou almoçar com o Lúcio e não voltarei mais. Ele recebeu uma promoção no escritório em que trabalha e quer escolher uma data para a nossa união.
- Parabéns para vocês dois! Até que enfim vai sair esse casório! Então, logo, a Dra. Sandra fará parte do clube das senhoras casadas!
- Clube do qual a senhora entrou há pouco tempo, não é mesmo, Dra. Camila?
Ríamos de nossa conversa, quando o Dr. Arnaldo entrou na sala. Estava muito alinhado, com um terno escuro, gravata combinando, camisa branca, sapatos lustrosos.
- Meninas, eu e o Felício não voltaremos para o escritório, depois do almoço. A Sandrinha também, não voltará, como já tinha me pedido. A Mila vai fazer um exame e, depende de quanto tempo demorar por lá, talvez, também, nem volte. Se houver necessidade e for urgente, vocês tem como me localizar e ao Felício, se precisarem de alguma coisa, aqui, no escritório, só ficará a Dona Márcia, à tarde.
- Tudo bem. Bom almoço!
Dr. Arnaldo e Dr. Felício iam ser homenageados num almoço na Associação Comercial local pelos trabalhos realizados e por sempre participarem de eventos beneficentes na região. Aquela seria uma tarde sem trabalho para todos.
O interfone tocou:
- Dra. Camila, o Dr. Gustavo está aqui. Posso pedir para que entre?
- Eu já estou saindo, Dona Márcia!
Sandrinha fez uma careta.

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