sexta-feira, 11 de junho de 2010

Você entendeu que seria melhor deixar a poeira baixar. Nada como colocar a cabeça no travesseiro para os pensamentos entrarem no lugar. Uma noite de sono faria bem para nós dois. Você havia ficado muito irritado com a visita inesperada daquela mulher. Tentou esconder sua irritação de mim, mas eu percebi. Acho que, se você pudesse, a teria jogado pela janela. Senti, pela sua voz, ao falar com ela, que você não tinha nenhum sentimento por ela. Nem raiva, ódio, mágoa pela traição, nem restava qualquer sentimento de carinho que você havia sentido, um dia, por ela. Simplesmente, ela deixou de existir pra você.
Nos últimos dias, comecei a ter certeza do seu amor por mim. Por tudo que acontecera, tudo que você dissera. Estava claro para mim. Você estava falando o que sentia, abrindo seu coração. O quê, antes parecia difícil, quase impossível, já não era mais. Você estava conseguindo expressar o que sentia. Antes, você parecia uma pessoa incapaz de demonstrar seus sentimentos, ainda mais na presença de outras pessoas. Tudo isso me deixava insegura. Eu não sabia se você estava comigo por estar ou se gostava mesmo de mim. Você havia mudado. Já não tinha receio de demonstrar o quê sentia, nem na presença de outras pessoas.
Lembrei-me da tal estória do gelo estar derretendo. Será que todos referiam-se a você? A você ter endurecido a ponto de ficar com o coração como um "iceberg"? Ninguém me explicava, mas eu começava a entender. Sorri e tive um pensamento típico da Bia: nós vamos pegar esse gelo, fazer uma batida de limão e encher o latão.
À noite, você foi me buscar. Eu já estava arrumada, mas para valorizar o conteúdo, demorei uns minutinhos a mais. Só para deixá-lo esperando. Enquanto isso, você conversava com minha mãe, que queria saber da sua irmã.
Entrei na sala, linda e maravilhosa, num vestido vermelho, dei-lhe um rápido 'selinho' e perguntei:
- Podemos ir?
- Tomem cuidado vocês dois, a cidade está muito perigosa. - recomendou Dona Carol.
No elevador, você me abraçou e disse baixinho no meu ouvido:
- Você está linda, Mila. Onde quer ir?
- Estou nas suas mãos. Vou onde você me levar. Não sei, mas nesta semana, você havia me convidado para ir ao restaurante em que almoçamos quando saímos pela primeira vez. Eu acho que...
- Perfeito. É um lugar agradável e perfeito para nós dois.
O local ficava diferente à noite. Luzes artificiais incidiam no jardim, deixando um agradável clima romântico. E aquele aroma verde de flores, ervas e grama pairava no ar. A noite estava clara, lua cheia e céu estrelado. Pura magia. Romantismo típico para casais apaixonados. Negócios e família, só na hora do almoço.
Você estava mais carinhoso e atencioso. Não comentamos o que havia acontecido durante a semana. Parecia que havíamos selado um pacto silencioso entre nós, em não comentar os acontecimentos da semana que nos aborreceram. Aquela noite era só nossa. Nenhum assunto, nem ninguém estaria entre nós. Nossos olhos expressavam o que nossos lábios não falavam. Ao final do jantar, você acariciou uma de minhas mãos:
- Vamos?
Retirei minha mão, delicadamente, da sua e entrelacei meus dedos nos seus:
- Sim, vamos.
- Você não sabe pra onde! - brincou.
- Sim, eu sei. E mesmo que não soubesse, hoje eu só quero estar com você. Seja onde for.
Você apertou meus dedos entre os seus e deu um beijo no dorso da minha mão. Deixamos o restaurante e seguimos para o seu apartamento.

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