O porteiro não estava acostumado a ver você acompanhado, estranhou:
- Está tudo bem, seu Gustavo?
- Sim, tudo ótimo, Antonio.
- Se o senhor precisar de alguma coisa, estou as suas ordens.
- Obrigado, Antonio.
No elevador, senti uma vontade enorme de beijar você, mas notei uma câmera. O tal Antonio devia estar de olho em nós. Me contive, lembrando do nosso primeiro beijo, dentro do elevador. Você me abraçou por trás e me deu um beijo no pescoço.
- Não, Guto. Estamos sendo observados.
- Bobinha! Ele já deve ter visto coisas que a gente nem imagina: beijos, amassos, e sei lá mais o quê.
- Tá bom, mas não precisamos ser os protagonistas.
Ainda abraçado a mim, você falou num tom de voz mais intimista:
- Eu estava lembrando do nosso primeiro beijo, foi no elevador.
- Eu, também, estava lembrando disso. Foi tão bom, mas eu fiquei atordoada com toda aquela situação.
- Se você quiser, eu aperto todos os botões, páro o elevador, apago as luzes e a gente faz um "remake". Quer?
- Não, engraçadinho!
O elevador chegou no seu andar. Você pegou minha mão e me conduziu até a porta do seu apartamento. Abriu a porta. Acendeu a luz do corredor de entrada:
- Primeiro, as damas.
Sua casa era bem arrumadinha para um homem solteiro. Não se via nada fora do lugar. Nada de bagunça. Eu sei que você não me levaria para um lugar que estivesse de pernas pro ar, nem eu esperava um muquifo, bagunçado e mal cheiroso. Tudo simples e de bom gosto. Só havia o necessário, não havia acessórios, adornos, enfeites, apenas móveis dispostos de maneira harmônica. Havia um único porta-retrato, com uma foto de todos da sua família, que ficava na estante, ao lado da televisão.
- Você não vai acender as luzes? - perguntei.
- Não. Se você quiser, acendo todas, arrumo até um holofote para iluminar você, minha querida. É que você tem luz própria para iluminar tudo ao seu redor. Vem.
Você estendeu a mão. Sei que estava ansioso, achei que não precisávamos ter pressa. Sentei-me no sofá.
- Espera.
Você ajoelhou-se na minha frente, pôs suas mãos nos meus joelhos e os acariciou.
- Que foi? Se arrependeu de ter vindo até aqui? Se você quiser ir embora...
- Não. Não quero ir embora, quero ficar.
- Mas o que há? Parece que você está com medo!
- Sim, estou com medo, Guto.
- De mim, amada?
- Não, meu querido, de mim. Eu nunca quiz tanto alguém como eu quero você. Eu nunca amei tanto como estou amando você. Estou com medo do que estou sentindo. É tão forte e intenso que me assusta!
Você deslizou suas mãos pelas minhas pernas e tirou meus sapatos. Sentou-se ao meu lado, no sofá, e puxou minhas pernas para cima das suas. Fixou seus olhos nos meus.
- Eu acalmaria você se confessasse que tinha medo de sentir o que sinto agora?
- Como assim?
- Depois... você sabe, eu não quiz me envolver, seriamente, com ninguém. Mesmo quando conheci você, não estava levando à sério. Você é quase dez anos mais nova que eu, achava que você só queria curtir com um cara mais velho. Convivendo com você, dia após dia, conhecendo você como eu conheço hoje, eu fui me soltando. E, quando me dei conta, já estava envolvido e apaixonado por você. Aos poucos, você me conquistou. Você é especial e importante para mim. Esse sentimento que bate forte dentro de você, também acontece comigo.
- Por que não me falou?
- Tinha receio de parecer ridículo, piegas. Senti o seu receio de não estar sendo correspondida em seu amor. Eu, também, tinha o mesmo receio. Você sabe, gato escaldado tem medo de água fria.
- Guto, você duvidou do meu amor?
- Confesso que, no início, sim, Mila. Eu não tinha certeza o quanto você me amava e o quanto eu era importante na sua vida. Acho que você, também, ficou nessa incerteza comigo, por isso não falava do seu sentimento, nem eu do meu. Hoje, eu sei o que você sente por mim.
- Você tem razão. Há pouco tempo, comecei a ter certeza do seu amor por mim, mesmo você não falando nada.
Você me puxou para cima de suas pernas, eu passei meu braço envolta do seu pescoço.
- Eu amo você, Mila. Você entrou na minha vida, como quem não quer nada e derreteu meu coração de gelo.
Sorri:
- Eu ouvi, algumas vezes, que o gelo estava derretendo e não entendia. Agora, compreendo.
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