Meu pai me deixou em frente do edifício, me deu um beijo e as recomendações de um pai zeloso. Subi e encontrei a Sandrinha, que havia chegado havia instantes e já tinha recebido um telefonema do Dr. Arnaldo. Ele pediu que ela ligasse para minha casa para saber como eu estava e avisar que, se não estivesse bem, poderia ficar em casa. Na correreria do dia anterior, ele esqueceu de pedir isso a ela, que já tirava o fone do gancho:
- Oi, Mila! Já ia ligar para sua casa. Como você está? Melhorou?
- Oi, Sandrinha! Tanto que já estou aqui. O fato de ontem me deixou muito abalada porque lembrou da morte de um primo muito querido da minha mãe, que eu e minha irmã considerávamos como um tio. Até hoje, eu não me conformo. Mas já passou, acabou, vamos mudar de assunto.
- Tudo bem. Se você está em condições de trabalhar, o Dr. Felício, ontem, depois que voltamos ao escritório, me passou uma pilha de coisas pra fazer. Se você estiver sossegada, agora de manhã, e puder me ajudar, eu agradeço.
- Claro, agora estou livre. Só quando o Dr. Arnaldo e o Dr. Felício chegarem é que saberei o que terei que fazer hoje.
- Bom dia, meninas! - reconheci aquela voz aveludada.
- Bom dia, Gustavo! Tudo bem?
- Eu que tenho de perguntar isso a você, Mila.
- Enquanto vocês decidem quem pergunta o quê para quem, eu vou fazer um cafezinho pra gente começar o dia - falou a Sandrinha, usando isso como uma estratégia para nos deixar a sós.
- Tá tudo bem, já estou legal. Obrigado por ter me levado em casa. E desculpa pelo inconveniente que posso ter causado.
- Pára com isso! Você não causou nada e não tem de agradecer nada. Além do quê, eu conheci sua mãe, uma senhora encantadora e sua irmãzinha, uma gracinha de menina. Se eu tivesse dez anos a menos, talvez me interessasse por ela - riu. Sua família é formada por mulheres muito bonitas e uma delas, com certeza, muito especial.
Fiquei um tanto constrangida com o jeito que falou. Uma cantada, elogiando a família. Saí pela tangente:
- Falta você conhecer o Sr. Paulo. Ele está mais para fera que para bela...
- Você não me assusta. E pode ter certeza que vou conhecê-lo logo. Sua mãe me convidou para jantar e eu disse que combinaria com você. A menos que você não queira que eu vá...
- Imagine, Gustavo! Será um prazer receber você em casa.
- Gostaria de convidar você para almoçar, hoje, mas tenho um compromisso de negócios. Não saia mais cedo, que passo aqui no final da tarde. Vamos tomar alguma coisa, depois levo você para casa.
De novo. Você não convida, você determina e pronto. Você toma as decisões e as sentencia: 'não saia mais cedo', 'passo aqui', 'vamos tomar alguma coisa', 'levo você para casa'. O que acontece se eu não obedecer suas ordens? Você vai fazer beicinho e chorar? Vai me pôr nos joelhos e dar palmadas na minha bunda? Que mania você tem! E o pior: eu acabo aceitando e me deixando nas suas mãos.
- Tá bom.
A Sandrinha entrou com o cafezinho cheiroso e fresquinho, que acabara de fazer...
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