segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Logo percebi que não iríamos almoçar em algum restaurante das proximidades, porque você avisou que iríamos de carro. Onde esse camarada vai me levar? - Passou pela minha cabeça. Fiquei na minha, impassível.
Não prestei atenção no caminho, só nas trivialidades que conversávamos: muito trabalho, ou não, como foi o final de semana, onde fomos, o quê cada um gosta de fazer nos fins de semana, o quê gostamos, o quê ouvimos, o quê lemos, o quê assistimos, etc.
Chegamos a um restaurante afastado do centro, cercado por um amplo gramado, algumas árvores frondosas e outras, nem tanto. Havia uma grande variedade de plantas e flores; duas namoradeiras de balanço e dois bancos de madeira ficavam dispostos estrategicamente no grande jardim. A sede do restaurante era revestida de madeira tratada em estilo colonial. No interior, muito tranquilo, viam-se clientes ecléticos e de bom gosto: casais, família com filhos, homens bem vestidos trajando terno e gravata e mulheres elegantes de 'tailleur' e salto agulha, provavelmente executivos e pessoas de negócios. O local era amplo e não chegava a estar lotado, não havia o burburinho e corre-corre dos 'fast-foods' do centro.
Você escolheu um lugar próximo a uma janela, de onde teríamos uma bela visão do jardim. Você me perguntou o quê gostaria de beber. Achamos melhor pedir coquetel de frutas, refrescante e sem álcool.
- Camila, eu quero me desculpar pelo jeito que tratei você, na semana passada.
- Como? Do quê está falando?
- Do dia que você trouxe o vasinho de flores. Eu nem falei com você, não fui muito educado. Eu estava muito preocupado e com uma situação para resolver naquela manhã, que poderia custar o meu emprego. Nada que justifique o jeito que agi com você, sempre tão simpática e educada comigo.
Então, era isso o quê estava acontecendo? Com certeza, você reverteu muito bem a situação. Para quem correu o risco de ficar desempregado, deve ter recebido um aumento. Aquele restaurante não deveria ser tão barato. Será que você estava querendo me impressionar? Fiquei encucada. E você deu uma pisada de bola legal, quando disse que sempre fui 'simpática e educada' com você. Fala sério! Que coisa mais sem graça para se falar para uma mulher!
- Imagine, Gustavo! Você foi muito gentil e cavalheiro! - Dei o troco, na mesma moeda, com uma pontinha, quase imperceptível, de escárnio.
Você é esperto, deve ter percebido a mensagem nas entrelinhas. Deu um sorriso enigmático. Ficou sério e olhou bem dentro dos meus olhos:
- Me perdoa?
Por que você faz isto? Como não perdoar um homem maravilhoso, que estava na minha frente, expondo uma situação difícil pela qual passara? Tive vontade de fazer um carinho no seu rosto. Continuei olhando nos seus olhos e sorri com sinceridade.
Nosso almoço foi descontraído; saímos do restaurante como se nos conhecéssemos há anos. Quando estávamos entrando no prédio, seu telefone celular tocou e você disse que precisava atender, que depois falaria comigo. Não esperei por você, subi apressada, pois sabia que tinha demorado no almoço. A Sandrinha percebeu a mudança:
- Esse almoço demorado fez muito bem a você. Está com outra cara e acho que aquela dorzinha de cabeça deve estar bem longe. - Sorriu - O Dr. Arnaldo já procurou por você duas vezes. Tem serviço pra você.
Ainda bem que era o Dr. Arnaldo que estava me procurando. Se fosse o Dr. Felício, ele já estaria furioso, gritando, tendo um 'piti'. Desculpei-me com o Dr. Arnaldo, que disse que só ficou preocupado, pois eu não costumo demorar no almoço, mas eu não precisava explicar. Notou, no meu rosto, que aquele almoço havia me feito muito bem e sorriu, maliciosamente. Pediu-me alguns serviços de cartório e, depois, poderia ir para casa.
Eu só queria guardar aquele nosso almoço, em todos os detalhes, na minha memória. Se não acontecesse mais nada entre nós, eu teria uma boa lembrança para recordar...

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