Escutei a Sandrinha dizendo:
- Hoje, ela não saiu mais cedo. Eu é que já estou indo. Tenho prova na primeira aula.
Sabia que era você que tinha chegado. Fui atá a recepção.
- Não vou me demorar muito, já estou finalizando o relatório sobre aquela empresa. Boa prova, Sandrinha. Tenho certeza que você terá uma boa nota.
- Tomara! Quando sair, desligue tudo, tranque tudo. Ah! E juízo vocês dois - recomendou, saindo e fechando a porta.
A Sandrinha era uma moça esforçada, que trabalhava desde os quinze anos para ajudar a família. Tinha o sonho de formar-se e tentar uma carreira pública na área jurídica. Havia ficado noiva, há poucos meses, de seu namorado de três anos, que estava no último ano da faculdade e estagiava num grande escritório. Eram apaixonados, um pelo outro e pelo Direito.
Olhei para você e perguntei se queria me acompanhar até minha sala, eu não iria demorar muito, mas não queria deixá-lo sozinho, ali, na recepção. Você pegou uma revista qualquer e acomodou-se numa poltrona:
- Não. Espero você aqui. Não se preocupe, pode ir acabar o que tem pra fazer. - Baixou o tom de voz, como se estivesse falando com os seus botões - Eu posso perder o juízo.
Fiz que não ouvi. E ri, sem deixar você perceber, enquanto voltava para minha sala. Minutos depois, tudo terminado, peguei minha bolsa, agenda, chaves:
- Podemos ir.
- Desligou tudo? Trancou tudo?
- Sim, Sandrinha II, só falta daqui, da recepção.
Aquele final de tarde prometia ser muito divertido, depois do estresse do dia anterior. Nós merecíamos um pouco de diversão. Dirigimo-nos para o elevador, que logo abriu suas portas para nós. O elevador estava vazio, a maioria das pessoas já tinha ido embora. O prédio estava semi-deserto e silencioso. Assim que entrei, senti um calafrio estranho. Olhei para você, pensando em comentar alguma coisa. Não deu tempo. As portas fecharam-se e, em segundos, a luz apagou-se completamente e o elevador parou. Não chegou a descer um andar. Me apavorei:
- Gustavo, me dê sua mão, por favor!
- Calma, Mila. O prédio tem gerador, a gente vai sair logo daqui. Não se aflija!
Meu problema não era estar presa no elevador, não era claustrofobia, era o escuro. A fobia do escuro, nictofobia. Queria falar isso pra você, mas minha respiração ia ficando cada vez mais acelerada. Tinha dificuldade para respirar. Minha bolsa, agenda, chaves já haviam caído no chão do elevador. Só faltava eu ir pr'o chão, também. Não faltava muito para isso acontecer, minhas pernas já estavam trêmulas. De repente, uma luz fraquinha, que soube depois, era uma luz auxiliar, que funcionava com o gerador, acendeu.
- Tá vendo? Logo, a gente sai daqui. Não precisava se apavorar. Procure ficar mais calma, você não está sozinha, estou aqui com você, Mila.
Tão bonitinho o jeito que falou comigo! Me senti a Bela em perigo e o seu Herói salvador. Estava encostada num lado do elevador, próximo aos botões de controle, você ainda segurava a minha mão. E estava tão perto, que sentia o calor do seu corpo e seu perfume. Minha respiração estava voltando ao normal. Levantei meu rosto e meus olhos encontraram os seus. Nesse momento, senti você me abraçar, lentamente, pela cintura, aproximando-se mais do meu rosto. Fechei os olhos, assim que seus lábios tocaram, suavemente, os meus. Deixei-me envolver pela ternura dos seus lábios, explorando os meus até nossas bocas se unirem num beijo pleno e completo... Até sermos interrompidos pelo interfone do elevador:
- Alguém ficou preso aí? Tem alguém aí?
Sorri, baixei a cabeça e a encostei no seu peito, que continuou abraçado a mim. Respondeu ao porteiro:
- Sim, Severino. Estamos aqui, aguardando. Quanto tempo vai demorar?
- Não mais que cinco minutos, Sr. Gustavo. A Dra. Camila está com o senhor? Estão bem?
- Sim, ela está e estamos bem, obrigado.
- Como ele sabia que estávamos aqui? - perguntei.
- Eu avisei que passaria no seu escritório. Não gosto de ter surpresas. Pedi que nos avisasse de qualquer coisa.
Fiquei em silêncio, aproveitando o aconchego do seu abraço por mais alguns instantes. Quando o elevador começou a funcionar, você pegou minhas coisas que tinham caído no chão, ou melhor, que eu não consegui segurar. Logo, ganhávamos a rua.
Apesar do imprevisto e, sobretudo por causa dele, que acabou por nos unir, foi um final de tarde delicioso. Fomos a uma sorveteria, esfriar uma parte da situação que passei, a da fobia. A outra parte, mais carinhosa, você não me deixou esquecer. Nem eu queria.
Quando parou o carro em frente do edifício onde moro, convidei-o a subir. Você disse que não poderia, que seus pais estavam aguardando você para o jantar. Da próxima vez, subiria, prometeu. Sorri. Você acariciou meu rosto e me deu um beijo de novela, com vontade de beijar, com paixão. Senti um frio na barriga, meu rosto queimava. O beijo no elevador tinha sido ótimo, terno e suave. Aquele era diferente, quente, com desejo e cheio de segundas intenções. Senti meu coração acelerar. Estava confusa. Afastei-me, delicadamente:
- Não deixe seus pais esperando! - falei, séria.
Você sorriu:
- Amanhã a gente se fala.
Você esperou que eu entrasse no edifício, antes de sair com o carro. Achei gentil sua preocupação comigo. E subi para casa.
sábado, 27 de fevereiro de 2010
domingo, 21 de fevereiro de 2010
Meu pai me deixou em frente do edifício, me deu um beijo e as recomendações de um pai zeloso. Subi e encontrei a Sandrinha, que havia chegado havia instantes e já tinha recebido um telefonema do Dr. Arnaldo. Ele pediu que ela ligasse para minha casa para saber como eu estava e avisar que, se não estivesse bem, poderia ficar em casa. Na correreria do dia anterior, ele esqueceu de pedir isso a ela, que já tirava o fone do gancho:
- Oi, Mila! Já ia ligar para sua casa. Como você está? Melhorou?
- Oi, Sandrinha! Tanto que já estou aqui. O fato de ontem me deixou muito abalada porque lembrou da morte de um primo muito querido da minha mãe, que eu e minha irmã considerávamos como um tio. Até hoje, eu não me conformo. Mas já passou, acabou, vamos mudar de assunto.
- Tudo bem. Se você está em condições de trabalhar, o Dr. Felício, ontem, depois que voltamos ao escritório, me passou uma pilha de coisas pra fazer. Se você estiver sossegada, agora de manhã, e puder me ajudar, eu agradeço.
- Claro, agora estou livre. Só quando o Dr. Arnaldo e o Dr. Felício chegarem é que saberei o que terei que fazer hoje.
- Bom dia, meninas! - reconheci aquela voz aveludada.
- Bom dia, Gustavo! Tudo bem?
- Eu que tenho de perguntar isso a você, Mila.
- Enquanto vocês decidem quem pergunta o quê para quem, eu vou fazer um cafezinho pra gente começar o dia - falou a Sandrinha, usando isso como uma estratégia para nos deixar a sós.
- Tá tudo bem, já estou legal. Obrigado por ter me levado em casa. E desculpa pelo inconveniente que posso ter causado.
- Pára com isso! Você não causou nada e não tem de agradecer nada. Além do quê, eu conheci sua mãe, uma senhora encantadora e sua irmãzinha, uma gracinha de menina. Se eu tivesse dez anos a menos, talvez me interessasse por ela - riu. Sua família é formada por mulheres muito bonitas e uma delas, com certeza, muito especial.
Fiquei um tanto constrangida com o jeito que falou. Uma cantada, elogiando a família. Saí pela tangente:
- Falta você conhecer o Sr. Paulo. Ele está mais para fera que para bela...
- Você não me assusta. E pode ter certeza que vou conhecê-lo logo. Sua mãe me convidou para jantar e eu disse que combinaria com você. A menos que você não queira que eu vá...
- Imagine, Gustavo! Será um prazer receber você em casa.
- Gostaria de convidar você para almoçar, hoje, mas tenho um compromisso de negócios. Não saia mais cedo, que passo aqui no final da tarde. Vamos tomar alguma coisa, depois levo você para casa.
De novo. Você não convida, você determina e pronto. Você toma as decisões e as sentencia: 'não saia mais cedo', 'passo aqui', 'vamos tomar alguma coisa', 'levo você para casa'. O que acontece se eu não obedecer suas ordens? Você vai fazer beicinho e chorar? Vai me pôr nos joelhos e dar palmadas na minha bunda? Que mania você tem! E o pior: eu acabo aceitando e me deixando nas suas mãos.
- Tá bom.
A Sandrinha entrou com o cafezinho cheiroso e fresquinho, que acabara de fazer...
- Oi, Mila! Já ia ligar para sua casa. Como você está? Melhorou?
- Oi, Sandrinha! Tanto que já estou aqui. O fato de ontem me deixou muito abalada porque lembrou da morte de um primo muito querido da minha mãe, que eu e minha irmã considerávamos como um tio. Até hoje, eu não me conformo. Mas já passou, acabou, vamos mudar de assunto.
- Tudo bem. Se você está em condições de trabalhar, o Dr. Felício, ontem, depois que voltamos ao escritório, me passou uma pilha de coisas pra fazer. Se você estiver sossegada, agora de manhã, e puder me ajudar, eu agradeço.
- Claro, agora estou livre. Só quando o Dr. Arnaldo e o Dr. Felício chegarem é que saberei o que terei que fazer hoje.
- Bom dia, meninas! - reconheci aquela voz aveludada.
- Bom dia, Gustavo! Tudo bem?
- Eu que tenho de perguntar isso a você, Mila.
- Enquanto vocês decidem quem pergunta o quê para quem, eu vou fazer um cafezinho pra gente começar o dia - falou a Sandrinha, usando isso como uma estratégia para nos deixar a sós.
- Tá tudo bem, já estou legal. Obrigado por ter me levado em casa. E desculpa pelo inconveniente que posso ter causado.
- Pára com isso! Você não causou nada e não tem de agradecer nada. Além do quê, eu conheci sua mãe, uma senhora encantadora e sua irmãzinha, uma gracinha de menina. Se eu tivesse dez anos a menos, talvez me interessasse por ela - riu. Sua família é formada por mulheres muito bonitas e uma delas, com certeza, muito especial.
Fiquei um tanto constrangida com o jeito que falou. Uma cantada, elogiando a família. Saí pela tangente:
- Falta você conhecer o Sr. Paulo. Ele está mais para fera que para bela...
- Você não me assusta. E pode ter certeza que vou conhecê-lo logo. Sua mãe me convidou para jantar e eu disse que combinaria com você. A menos que você não queira que eu vá...
- Imagine, Gustavo! Será um prazer receber você em casa.
- Gostaria de convidar você para almoçar, hoje, mas tenho um compromisso de negócios. Não saia mais cedo, que passo aqui no final da tarde. Vamos tomar alguma coisa, depois levo você para casa.
De novo. Você não convida, você determina e pronto. Você toma as decisões e as sentencia: 'não saia mais cedo', 'passo aqui', 'vamos tomar alguma coisa', 'levo você para casa'. O que acontece se eu não obedecer suas ordens? Você vai fazer beicinho e chorar? Vai me pôr nos joelhos e dar palmadas na minha bunda? Que mania você tem! E o pior: eu acabo aceitando e me deixando nas suas mãos.
- Tá bom.
A Sandrinha entrou com o cafezinho cheiroso e fresquinho, que acabara de fazer...
sábado, 20 de fevereiro de 2010
Hoje, acordei muito estranha. Deve ter sido por tudo que passei ontem, o tranquilizante que tomei e acabei por não jantar. Tudo me fez acordar me sentindo esquisita. Levantei e tomei um banho demorado para tirar aquela sensação. Estranhei meu pai estar em casa àquela hora. Quando me levanto, ele já tomou café e já saiu para o trabalho. Como ele é engenheiro, ele gosta de chegar na obra antes que os trabalhadores comecem o turno, para inspecionar e dar instruções.
A família parecia estar me esperando, para saborearmos o café da manhã que Dona Carolina, minha mãe, preparou com muito capricho. A primeira a falar foi Bianca, minha irmã cinco anos mais nova:
- Mila, você está bem? Dormiu bem? Não teve pesadelos? Ficamos sabendo o quê aconteceu.
Meu pai olhou para ela, que entendeu seu olhar e calou-se.
- Filha, ficamos muito preocupados com você e sua reação. Felizmente, depois que fizeram a varredura no prédio, só encontraram uma caixa de sapatos num dos banheiros, com os sapatos, que alguém esqueceu. Algum paranóico ligou e informou que poderia ser uma bomba.
- Ou foi uma brincadeira de muito mau gosto - completou Dona Carol.
- Ainda bem que foi só um susto - disse.
- Mila, me conta, quem é aquele gato que trouxe você para casa? Trabalha com você? É advogado, também? Um pouco velho pr'o meu gosto, mas muito estiloso. Combina com você. Ele tem um 'sex appeal' de quem sabe das coisas, hein?
- Bia, mais respeito! - repreendeu meu pai. Minha irmã falava o que pensava e, muitas vezes, falava sem pensar. Meu pai, quando ela exagerava ou era incoveniente, a repreendia. Achei engraçado o jeito dela fala de vc. Tive vontade de rir, mas me segurei por causa de papai, que era do tipo machista, antiquado. Minha mãe entrou na conversa:
- Um rapaz muito educado, ficou muito preocupado com a Mila. Eu fiz questão que ele tomasse um café, antes de ir embora. Ficamos conversando um pouco e, ele me contou, que o pai dele e o Dr. Arnaldo, um dos chefes da Mila, são amigos desde o tempo da faculdade. Quando o pai dele começou a fazer faculdade, já era casado e ele já tinha nascido. Então, ele conhece o Dr. Arnaldo desde garotinho.
Essa informação eu ainda não tinha. Eu queria tirar mais coisas que eles tinham conversado, mas o Sr. Paulo foi logo me avisando que iria me levar para o trabalho, para não fazer hora com o café para não me atrasar.
- Traga-o, qualquer dia, para jantar, Mila. Eu já o convidei. Ele ficou de combinar com você.
Você conseguiu conquistar as mulheres da família. Só falta o paizão. Que já estava abrindo a porta do apartamento com as chaves do carro na mão e me apressando.
A família parecia estar me esperando, para saborearmos o café da manhã que Dona Carolina, minha mãe, preparou com muito capricho. A primeira a falar foi Bianca, minha irmã cinco anos mais nova:
- Mila, você está bem? Dormiu bem? Não teve pesadelos? Ficamos sabendo o quê aconteceu.
Meu pai olhou para ela, que entendeu seu olhar e calou-se.
- Filha, ficamos muito preocupados com você e sua reação. Felizmente, depois que fizeram a varredura no prédio, só encontraram uma caixa de sapatos num dos banheiros, com os sapatos, que alguém esqueceu. Algum paranóico ligou e informou que poderia ser uma bomba.
- Ou foi uma brincadeira de muito mau gosto - completou Dona Carol.
- Ainda bem que foi só um susto - disse.
- Mila, me conta, quem é aquele gato que trouxe você para casa? Trabalha com você? É advogado, também? Um pouco velho pr'o meu gosto, mas muito estiloso. Combina com você. Ele tem um 'sex appeal' de quem sabe das coisas, hein?
- Bia, mais respeito! - repreendeu meu pai. Minha irmã falava o que pensava e, muitas vezes, falava sem pensar. Meu pai, quando ela exagerava ou era incoveniente, a repreendia. Achei engraçado o jeito dela fala de vc. Tive vontade de rir, mas me segurei por causa de papai, que era do tipo machista, antiquado. Minha mãe entrou na conversa:
- Um rapaz muito educado, ficou muito preocupado com a Mila. Eu fiz questão que ele tomasse um café, antes de ir embora. Ficamos conversando um pouco e, ele me contou, que o pai dele e o Dr. Arnaldo, um dos chefes da Mila, são amigos desde o tempo da faculdade. Quando o pai dele começou a fazer faculdade, já era casado e ele já tinha nascido. Então, ele conhece o Dr. Arnaldo desde garotinho.
Essa informação eu ainda não tinha. Eu queria tirar mais coisas que eles tinham conversado, mas o Sr. Paulo foi logo me avisando que iria me levar para o trabalho, para não fazer hora com o café para não me atrasar.
- Traga-o, qualquer dia, para jantar, Mila. Eu já o convidei. Ele ficou de combinar com você.
Você conseguiu conquistar as mulheres da família. Só falta o paizão. Que já estava abrindo a porta do apartamento com as chaves do carro na mão e me apressando.
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
Cheguei junto com a Sandrinha. Entramos no prédio e ela já foi me contando a novidade:
- Seu amigo veio buscar você, ontem. Ficou com cara de bobo quando falei que você saiu para fazer um serviço e não voltou.
Achei engraçado o jeito dela falar e sorri. Gostei de saber que você foi me procurar no final do expediente. Ela continuou:
- Mila, você não é assim. O rapaz já veio procurar por você duas vezes e você não estava. Por que você está fazendo isso com ele? Ele parece ser um cara legal.
Eu? Imagine! Parece que você ganhou uma aliada, uma defensora. Expliquei que, nas duas vezes, eu não sabia que você iria até lá. E havia sido com você que eu havia almoçado, que você poderia ter me avisado que passaria lá no escritório depois. Ela fez uma carinha maliciosa de 'já entendi'.
Estávamos esperando o elevador, quando o Dr. Arnaldo chegou acompanhado do Dr. Felício. Eu e a Sandrinha nos olhamos. Sabíamos que, quando os dois chegavam cedo e juntos, ou iam fazer algum serviço importante ou o pepino era muito grande para resolver.
Subimos todos juntos e os dois foram direto para a sala do Dr. Felício. Ficamos curiosas, mas tínhamos serviço a fazer. Mais tarde, a gente ficaria sabendo o que era.
Cerca de uma hora depois, notamos uma movimentação estranha no prédio. Não deu nem pra pensar no que era. Entrou um policial no escritório, perguntou quantas pessoas estavam lá e todos deviam sair o mais depressa possível, mas sem correr e sem pânico. Não era possível nem pegar nossos pertences. O policial nos indicou a escada, quando fizemos menção de irmos na direção do elevador. As pessoas que desciam dos andares superiores, mostravam um semblante de preocupação, outras de medo. Alguns 'boys' achavam tudo engraçado.
Não nos disseram o quê estava acontecendo. Por duas ocasiões, ocorreram fatos que precisaram isolar dois escritórios de advogados, pois os clientes estavam causando problemas. O primeiro, num caso de separação, apesar de ter concordado, o marido não aceitava ficar longe dos filhos. Ameaçou matar a ex-esposa e, depois, dar cabo na própria vida. Os negociadores levaram mais de duas horas para convencer o cidadão a soltar a mulher e a se entregar.
O outro caso não foi passional, foi criminal. O irmão de um integrante de uma facção criminosa ficou descontente com a atuação do advogado, no caso do irmão, que já tinha outras condenações, começou a quebrar o escritório e ameaçou cortar o pescoço do causídico. No final das contas, como não era réu primário, foi fazer companhia para o irmão.
Descemos os cinco andares até a rua, que estava bloqueada. O quarteirão estava interditado. Policiais com aqueles cachorros lindos, que eu adoro, passavam por entre as pessoas que desciam dos andares. Essa situação é diferente - pensei. No instante seguinte, tive a certeza. Policiais com capacetes e roupas especiais, pesadas, escudos de proteção e outros apetrechos, adentravam, cuidadosamente, no prédio. Olhei para as viaturas estacionadas na rua e, numa delas, na maior, estava escrito "esquadrão anti-bombas". Gelei.
Os policiais conduziam as pessoas para mais longe possível do prédio. Tive uma sensação muito ruim. Lembrei-me de onze de setembro, em 2001, dos atentados ao WTC (World Trade Center). O primo Artur, que eu e minha irmã chamávamos de tio, apesar de ser primo da minha mãe, morreu naquele trágico episódio. Ele havia ido para os Estados Unidos trabalhar como garçom. Esse fato me marcou demais, nós gostávamos muito dele.
Parei próximo de um carro que estava estacionado. Minhas pernas tremiam, apoiei-me no veículo. Não vi você aproximar-se.
- Camila, você está bem?
Não, não estava. A Sandrinha comentou que eu estava pálida. Eu não conseguia falar nada. Parecia que eu não estava ali. Ouvi o Dr. Felício falar para me levar para o hospital. O Dr. Arnaldo disse que sabia porque eu tinha ficado tão abalada e pediu que você me levasse para casa e lhe deu meu endereço. Não me lembro de detalhes. Só me recordo de ter chorado muito e, depois, de minha mãe ter me dado um tranquilizante.
- Seu amigo veio buscar você, ontem. Ficou com cara de bobo quando falei que você saiu para fazer um serviço e não voltou.
Achei engraçado o jeito dela falar e sorri. Gostei de saber que você foi me procurar no final do expediente. Ela continuou:
- Mila, você não é assim. O rapaz já veio procurar por você duas vezes e você não estava. Por que você está fazendo isso com ele? Ele parece ser um cara legal.
Eu? Imagine! Parece que você ganhou uma aliada, uma defensora. Expliquei que, nas duas vezes, eu não sabia que você iria até lá. E havia sido com você que eu havia almoçado, que você poderia ter me avisado que passaria lá no escritório depois. Ela fez uma carinha maliciosa de 'já entendi'.
Estávamos esperando o elevador, quando o Dr. Arnaldo chegou acompanhado do Dr. Felício. Eu e a Sandrinha nos olhamos. Sabíamos que, quando os dois chegavam cedo e juntos, ou iam fazer algum serviço importante ou o pepino era muito grande para resolver.
Subimos todos juntos e os dois foram direto para a sala do Dr. Felício. Ficamos curiosas, mas tínhamos serviço a fazer. Mais tarde, a gente ficaria sabendo o que era.
Cerca de uma hora depois, notamos uma movimentação estranha no prédio. Não deu nem pra pensar no que era. Entrou um policial no escritório, perguntou quantas pessoas estavam lá e todos deviam sair o mais depressa possível, mas sem correr e sem pânico. Não era possível nem pegar nossos pertences. O policial nos indicou a escada, quando fizemos menção de irmos na direção do elevador. As pessoas que desciam dos andares superiores, mostravam um semblante de preocupação, outras de medo. Alguns 'boys' achavam tudo engraçado.
Não nos disseram o quê estava acontecendo. Por duas ocasiões, ocorreram fatos que precisaram isolar dois escritórios de advogados, pois os clientes estavam causando problemas. O primeiro, num caso de separação, apesar de ter concordado, o marido não aceitava ficar longe dos filhos. Ameaçou matar a ex-esposa e, depois, dar cabo na própria vida. Os negociadores levaram mais de duas horas para convencer o cidadão a soltar a mulher e a se entregar.
O outro caso não foi passional, foi criminal. O irmão de um integrante de uma facção criminosa ficou descontente com a atuação do advogado, no caso do irmão, que já tinha outras condenações, começou a quebrar o escritório e ameaçou cortar o pescoço do causídico. No final das contas, como não era réu primário, foi fazer companhia para o irmão.
Descemos os cinco andares até a rua, que estava bloqueada. O quarteirão estava interditado. Policiais com aqueles cachorros lindos, que eu adoro, passavam por entre as pessoas que desciam dos andares. Essa situação é diferente - pensei. No instante seguinte, tive a certeza. Policiais com capacetes e roupas especiais, pesadas, escudos de proteção e outros apetrechos, adentravam, cuidadosamente, no prédio. Olhei para as viaturas estacionadas na rua e, numa delas, na maior, estava escrito "esquadrão anti-bombas". Gelei.
Os policiais conduziam as pessoas para mais longe possível do prédio. Tive uma sensação muito ruim. Lembrei-me de onze de setembro, em 2001, dos atentados ao WTC (World Trade Center). O primo Artur, que eu e minha irmã chamávamos de tio, apesar de ser primo da minha mãe, morreu naquele trágico episódio. Ele havia ido para os Estados Unidos trabalhar como garçom. Esse fato me marcou demais, nós gostávamos muito dele.
Parei próximo de um carro que estava estacionado. Minhas pernas tremiam, apoiei-me no veículo. Não vi você aproximar-se.
- Camila, você está bem?
Não, não estava. A Sandrinha comentou que eu estava pálida. Eu não conseguia falar nada. Parecia que eu não estava ali. Ouvi o Dr. Felício falar para me levar para o hospital. O Dr. Arnaldo disse que sabia porque eu tinha ficado tão abalada e pediu que você me levasse para casa e lhe deu meu endereço. Não me lembro de detalhes. Só me recordo de ter chorado muito e, depois, de minha mãe ter me dado um tranquilizante.
Logo percebi que não iríamos almoçar em algum restaurante das proximidades, porque você avisou que iríamos de carro. Onde esse camarada vai me levar? - Passou pela minha cabeça. Fiquei na minha, impassível.
Não prestei atenção no caminho, só nas trivialidades que conversávamos: muito trabalho, ou não, como foi o final de semana, onde fomos, o quê cada um gosta de fazer nos fins de semana, o quê gostamos, o quê ouvimos, o quê lemos, o quê assistimos, etc.
Chegamos a um restaurante afastado do centro, cercado por um amplo gramado, algumas árvores frondosas e outras, nem tanto. Havia uma grande variedade de plantas e flores; duas namoradeiras de balanço e dois bancos de madeira ficavam dispostos estrategicamente no grande jardim. A sede do restaurante era revestida de madeira tratada em estilo colonial. No interior, muito tranquilo, viam-se clientes ecléticos e de bom gosto: casais, família com filhos, homens bem vestidos trajando terno e gravata e mulheres elegantes de 'tailleur' e salto agulha, provavelmente executivos e pessoas de negócios. O local era amplo e não chegava a estar lotado, não havia o burburinho e corre-corre dos 'fast-foods' do centro.
Você escolheu um lugar próximo a uma janela, de onde teríamos uma bela visão do jardim. Você me perguntou o quê gostaria de beber. Achamos melhor pedir coquetel de frutas, refrescante e sem álcool.
- Camila, eu quero me desculpar pelo jeito que tratei você, na semana passada.
- Como? Do quê está falando?
- Do dia que você trouxe o vasinho de flores. Eu nem falei com você, não fui muito educado. Eu estava muito preocupado e com uma situação para resolver naquela manhã, que poderia custar o meu emprego. Nada que justifique o jeito que agi com você, sempre tão simpática e educada comigo.
Então, era isso o quê estava acontecendo? Com certeza, você reverteu muito bem a situação. Para quem correu o risco de ficar desempregado, deve ter recebido um aumento. Aquele restaurante não deveria ser tão barato. Será que você estava querendo me impressionar? Fiquei encucada. E você deu uma pisada de bola legal, quando disse que sempre fui 'simpática e educada' com você. Fala sério! Que coisa mais sem graça para se falar para uma mulher!
- Imagine, Gustavo! Você foi muito gentil e cavalheiro! - Dei o troco, na mesma moeda, com uma pontinha, quase imperceptível, de escárnio.
Você é esperto, deve ter percebido a mensagem nas entrelinhas. Deu um sorriso enigmático. Ficou sério e olhou bem dentro dos meus olhos:
- Me perdoa?
Por que você faz isto? Como não perdoar um homem maravilhoso, que estava na minha frente, expondo uma situação difícil pela qual passara? Tive vontade de fazer um carinho no seu rosto. Continuei olhando nos seus olhos e sorri com sinceridade.
Nosso almoço foi descontraído; saímos do restaurante como se nos conhecéssemos há anos. Quando estávamos entrando no prédio, seu telefone celular tocou e você disse que precisava atender, que depois falaria comigo. Não esperei por você, subi apressada, pois sabia que tinha demorado no almoço. A Sandrinha percebeu a mudança:
- Esse almoço demorado fez muito bem a você. Está com outra cara e acho que aquela dorzinha de cabeça deve estar bem longe. - Sorriu - O Dr. Arnaldo já procurou por você duas vezes. Tem serviço pra você.
Ainda bem que era o Dr. Arnaldo que estava me procurando. Se fosse o Dr. Felício, ele já estaria furioso, gritando, tendo um 'piti'. Desculpei-me com o Dr. Arnaldo, que disse que só ficou preocupado, pois eu não costumo demorar no almoço, mas eu não precisava explicar. Notou, no meu rosto, que aquele almoço havia me feito muito bem e sorriu, maliciosamente. Pediu-me alguns serviços de cartório e, depois, poderia ir para casa.
Eu só queria guardar aquele nosso almoço, em todos os detalhes, na minha memória. Se não acontecesse mais nada entre nós, eu teria uma boa lembrança para recordar...
Não prestei atenção no caminho, só nas trivialidades que conversávamos: muito trabalho, ou não, como foi o final de semana, onde fomos, o quê cada um gosta de fazer nos fins de semana, o quê gostamos, o quê ouvimos, o quê lemos, o quê assistimos, etc.
Chegamos a um restaurante afastado do centro, cercado por um amplo gramado, algumas árvores frondosas e outras, nem tanto. Havia uma grande variedade de plantas e flores; duas namoradeiras de balanço e dois bancos de madeira ficavam dispostos estrategicamente no grande jardim. A sede do restaurante era revestida de madeira tratada em estilo colonial. No interior, muito tranquilo, viam-se clientes ecléticos e de bom gosto: casais, família com filhos, homens bem vestidos trajando terno e gravata e mulheres elegantes de 'tailleur' e salto agulha, provavelmente executivos e pessoas de negócios. O local era amplo e não chegava a estar lotado, não havia o burburinho e corre-corre dos 'fast-foods' do centro.
Você escolheu um lugar próximo a uma janela, de onde teríamos uma bela visão do jardim. Você me perguntou o quê gostaria de beber. Achamos melhor pedir coquetel de frutas, refrescante e sem álcool.
- Camila, eu quero me desculpar pelo jeito que tratei você, na semana passada.
- Como? Do quê está falando?
- Do dia que você trouxe o vasinho de flores. Eu nem falei com você, não fui muito educado. Eu estava muito preocupado e com uma situação para resolver naquela manhã, que poderia custar o meu emprego. Nada que justifique o jeito que agi com você, sempre tão simpática e educada comigo.
Então, era isso o quê estava acontecendo? Com certeza, você reverteu muito bem a situação. Para quem correu o risco de ficar desempregado, deve ter recebido um aumento. Aquele restaurante não deveria ser tão barato. Será que você estava querendo me impressionar? Fiquei encucada. E você deu uma pisada de bola legal, quando disse que sempre fui 'simpática e educada' com você. Fala sério! Que coisa mais sem graça para se falar para uma mulher!
- Imagine, Gustavo! Você foi muito gentil e cavalheiro! - Dei o troco, na mesma moeda, com uma pontinha, quase imperceptível, de escárnio.
Você é esperto, deve ter percebido a mensagem nas entrelinhas. Deu um sorriso enigmático. Ficou sério e olhou bem dentro dos meus olhos:
- Me perdoa?
Por que você faz isto? Como não perdoar um homem maravilhoso, que estava na minha frente, expondo uma situação difícil pela qual passara? Tive vontade de fazer um carinho no seu rosto. Continuei olhando nos seus olhos e sorri com sinceridade.
Nosso almoço foi descontraído; saímos do restaurante como se nos conhecéssemos há anos. Quando estávamos entrando no prédio, seu telefone celular tocou e você disse que precisava atender, que depois falaria comigo. Não esperei por você, subi apressada, pois sabia que tinha demorado no almoço. A Sandrinha percebeu a mudança:
- Esse almoço demorado fez muito bem a você. Está com outra cara e acho que aquela dorzinha de cabeça deve estar bem longe. - Sorriu - O Dr. Arnaldo já procurou por você duas vezes. Tem serviço pra você.
Ainda bem que era o Dr. Arnaldo que estava me procurando. Se fosse o Dr. Felício, ele já estaria furioso, gritando, tendo um 'piti'. Desculpei-me com o Dr. Arnaldo, que disse que só ficou preocupado, pois eu não costumo demorar no almoço, mas eu não precisava explicar. Notou, no meu rosto, que aquele almoço havia me feito muito bem e sorriu, maliciosamente. Pediu-me alguns serviços de cartório e, depois, poderia ir para casa.
Eu só queria guardar aquele nosso almoço, em todos os detalhes, na minha memória. Se não acontecesse mais nada entre nós, eu teria uma boa lembrança para recordar...
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
Hora de voltar à realidade. Segunda-feira. Não queria ir trabalhar. Cheguei atrasada. Entrei no edifício apressada e, no saguão, apertei o botão para chamar o elevador. Instintivamente, olhei para o salão de espera, onde ficam dispostos alguns sofás e poltronas para os clientes aguardarem. Você estava folheando uma revista, sem muito interesse e, quando me viu, largou-a e veio em minha direção:
- Bom dia, Camila. Gostaria de conversar um pouquinho com você, pode ser?
- Bom dia, Gustavo. Eu estou super atrasada e deixei algumas coisas pendentes para resolver hoje de manhã, já que não consegui resolvê-las na sexta, à tarde. Tem de ser agora?
Percebi uma pontinha de decepção com minha resposta indiferente a você, que pensou rápido e me deixou sem saída:
- Não, nós conversaremos no almoço. Passo no escritório para almoçarmos juntos.
Você não me convidou para almoçar, nem sabia se eu queria almoçar com você, se podia. Simplesmente, determinou uma situação, impôs que almoçaríamos juntos e pronto. Fiquei tão surpresa e sem atitude, que só consegui espremer um 'tá'.
O elevador chegou e subimos juntos com várias outras pessoas, que também aguardavam para subir. Quando desci, fiz um aceno com a mão, sem sorrir. Você só meneou a cabeça.
Não quiz ficar pensando nisso, porque poderia desconcentrar-me do trabalho. Quanto mais aproximava a hora do almoço, eu ia ficando mais nervosa; estava me dando um frio na barriga, um gelo na boca do estômago. Tive até de tomar um calmante fitoterápico. A Sandrinha me viu tomando o comprimido e perguntou se eu estava bem. Menti para ela, disse que estava com um pouquinho de dor de cabeça, porque me concentrei demais fazendo uma pesquisa para o Dr. Arnaldo. Ela:
- Daqui a pouco passa. Logo, você vai almoçar e, quando voltar, já vai estar bem.
Almoçar, era aquela palavra que estava me causando calafrios. Não sabia o que esperar daquele almoço.
Quando você chegou, por volta de meio dia e meia, a Sandrinha estava lanchando na copa. Achei ótimo, porque ela poderia falar mais do que deveria e contar que eu não estava muito bem. Mal sabia ela o que se passava comigo! Uma expectativa angustiante...
- Bom dia, Camila. Gostaria de conversar um pouquinho com você, pode ser?
- Bom dia, Gustavo. Eu estou super atrasada e deixei algumas coisas pendentes para resolver hoje de manhã, já que não consegui resolvê-las na sexta, à tarde. Tem de ser agora?
Percebi uma pontinha de decepção com minha resposta indiferente a você, que pensou rápido e me deixou sem saída:
- Não, nós conversaremos no almoço. Passo no escritório para almoçarmos juntos.
Você não me convidou para almoçar, nem sabia se eu queria almoçar com você, se podia. Simplesmente, determinou uma situação, impôs que almoçaríamos juntos e pronto. Fiquei tão surpresa e sem atitude, que só consegui espremer um 'tá'.
O elevador chegou e subimos juntos com várias outras pessoas, que também aguardavam para subir. Quando desci, fiz um aceno com a mão, sem sorrir. Você só meneou a cabeça.
Não quiz ficar pensando nisso, porque poderia desconcentrar-me do trabalho. Quanto mais aproximava a hora do almoço, eu ia ficando mais nervosa; estava me dando um frio na barriga, um gelo na boca do estômago. Tive até de tomar um calmante fitoterápico. A Sandrinha me viu tomando o comprimido e perguntou se eu estava bem. Menti para ela, disse que estava com um pouquinho de dor de cabeça, porque me concentrei demais fazendo uma pesquisa para o Dr. Arnaldo. Ela:
- Daqui a pouco passa. Logo, você vai almoçar e, quando voltar, já vai estar bem.
Almoçar, era aquela palavra que estava me causando calafrios. Não sabia o que esperar daquele almoço.
Quando você chegou, por volta de meio dia e meia, a Sandrinha estava lanchando na copa. Achei ótimo, porque ela poderia falar mais do que deveria e contar que eu não estava muito bem. Mal sabia ela o que se passava comigo! Uma expectativa angustiante...
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
Resolvi que iria dar um tempo. Não queria mais vê-lo durante um tempo. Queria avaliar o meu real interesse por você. Passei o resto da semana me esquivando de encontrar você. Chegava sempre depois da Sandrinha e saía antes dela, só para não ficar sozinha no escritório e correr o risco de você passar por lá. Ela percebeu que eu estava diferente, mais calada. E perguntou se era algo relacionado com o rapaz que havia me procurado, no dia seguinte que levei o vasinho para o escritório. Que rapaz? Não estava sabendo de nada.
Ela contou que estava se preparando para ir embora, quando o rapaz apareceu e perguntou por mim. Ela disse que eu havia saído um pouco mais cedo e, se ele quisesse deixar algum recado, ela daria no dia seguinte, pela manhã. Ele agradeceu, disse que falaria comigo depois, não era nada urgente e, para ela, não falar nada que ele estivera lá. Por quê? Ela nem sabia o nome dele! Como falaria ou não? Não quiz saber. No final de semana, fui para o interior com a família. Aniversário de um tio, churrasco, piscina, primos. Não queria pensar em nada.
Ela contou que estava se preparando para ir embora, quando o rapaz apareceu e perguntou por mim. Ela disse que eu havia saído um pouco mais cedo e, se ele quisesse deixar algum recado, ela daria no dia seguinte, pela manhã. Ele agradeceu, disse que falaria comigo depois, não era nada urgente e, para ela, não falar nada que ele estivera lá. Por quê? Ela nem sabia o nome dele! Como falaria ou não? Não quiz saber. No final de semana, fui para o interior com a família. Aniversário de um tio, churrasco, piscina, primos. Não queria pensar em nada.
Ontem, foi um dia atípico para mim. O fato de ter encontrado você, logo de manhã, poderia ter me deixado feliz. Contudo, você estava diferente. Preocupado com algo, talvez. Problemas. Mas quem não os têm? Procurei me concentrar só no meu trabalho.
Por volta das quinze horas, o Dr. Felício, sócio do Dr. Arnaldo, me chamou na sua sala e pediu-me para ir ao banco. Havia uma série de coisas a fazer e resolver na agência. Ele devia estar muito bem humorado, porque me dispensou de voltar ao escritório, quando saísse do banco.
Não demorei tanto quanto o Dr. Felício achou que demoraria. Eu procurei o Rodrigo, que é o meu vizinho e trabalha lá no banco. Ele agilizou tudo pra mim. O Rodrigo é meu coringa naquela agência. Quando vejo que as coisas vão ser complicadas e demoradas, eu procuro por ele.
Saindo de lá, liguei pra Adriana, minha melhor amiga, desde os tempos do colégio e marcamos de colocar as fofocas em dia. A Adriana é secretária executiva numa empresa multinacional de alimentos. Está sempre acompanhando o chefe em viagens internacionais, quando são fechados grandes negócios, ou quando ele vai palestrar para bem sucedidos empresários. Ela ganha muito bem, mas me disse que isso é, apenas, um detalhe para ela; o importante é que está fazendo o que gosta e sempre aprendendo sobre o mundo empresarial. Desde adolescente, ela queria ser uma executiva, uma mulher envolvida com negócios. E se derem chance a ela, vai crescer mais ainda na empresa.
Encontramo-nos em um barzinho, estilo 'pub' inglês (mas sem os hooligans). Ainda era cedo, estava tranquilo, pudemos conversar à vontade. Ela me contou que começou a namorar um engenheiro de alimentos, divorciado, e está muito feliz com ele. Contei-lhe do Gustavo, ou do pouco que sei dele. Levei um puxão de orelha da minha amiga:
- Camila, você é muito romântica! Daqui a pouco, você passa da idade de casar, de juntar as coisas, de morar junto, sei lá, e você ainda está com esses amores de criança. Você está a fim do cara? Abre o jogo, chega junto, dá uma intimada, cata o cara num canto. Se o cara não estiver a fim, você fica sabendo logo e parte pra outra. Não fica sofrendo sem saber se tem motivo, ou não.
- Dri, você é muito prática, sabe que nunca faria algo assim, por mais que tivesse vontade. Você sabe que sempre fui tímida com os meninos.
- Amiga, já está na hora de deixar essa timidez para trás. Na hora, não. Já passou da hora. Você é linda, está com tudo em cima, precisa acreditar mais em você e no seu poder de sedução, ser mais ousada, arriscar mais. Seja uma mulher de atitude, você vai ver que tudo vai mudar na sua vida.
A conversa com a Dri me balançou, fiquei pensando no assunto por muito tempo. Realmente, as coisas precisariam mudar. Mas, o quê? E como?
Por volta das quinze horas, o Dr. Felício, sócio do Dr. Arnaldo, me chamou na sua sala e pediu-me para ir ao banco. Havia uma série de coisas a fazer e resolver na agência. Ele devia estar muito bem humorado, porque me dispensou de voltar ao escritório, quando saísse do banco.
Não demorei tanto quanto o Dr. Felício achou que demoraria. Eu procurei o Rodrigo, que é o meu vizinho e trabalha lá no banco. Ele agilizou tudo pra mim. O Rodrigo é meu coringa naquela agência. Quando vejo que as coisas vão ser complicadas e demoradas, eu procuro por ele.
Saindo de lá, liguei pra Adriana, minha melhor amiga, desde os tempos do colégio e marcamos de colocar as fofocas em dia. A Adriana é secretária executiva numa empresa multinacional de alimentos. Está sempre acompanhando o chefe em viagens internacionais, quando são fechados grandes negócios, ou quando ele vai palestrar para bem sucedidos empresários. Ela ganha muito bem, mas me disse que isso é, apenas, um detalhe para ela; o importante é que está fazendo o que gosta e sempre aprendendo sobre o mundo empresarial. Desde adolescente, ela queria ser uma executiva, uma mulher envolvida com negócios. E se derem chance a ela, vai crescer mais ainda na empresa.
Encontramo-nos em um barzinho, estilo 'pub' inglês (mas sem os hooligans). Ainda era cedo, estava tranquilo, pudemos conversar à vontade. Ela me contou que começou a namorar um engenheiro de alimentos, divorciado, e está muito feliz com ele. Contei-lhe do Gustavo, ou do pouco que sei dele. Levei um puxão de orelha da minha amiga:
- Camila, você é muito romântica! Daqui a pouco, você passa da idade de casar, de juntar as coisas, de morar junto, sei lá, e você ainda está com esses amores de criança. Você está a fim do cara? Abre o jogo, chega junto, dá uma intimada, cata o cara num canto. Se o cara não estiver a fim, você fica sabendo logo e parte pra outra. Não fica sofrendo sem saber se tem motivo, ou não.
- Dri, você é muito prática, sabe que nunca faria algo assim, por mais que tivesse vontade. Você sabe que sempre fui tímida com os meninos.
- Amiga, já está na hora de deixar essa timidez para trás. Na hora, não. Já passou da hora. Você é linda, está com tudo em cima, precisa acreditar mais em você e no seu poder de sedução, ser mais ousada, arriscar mais. Seja uma mulher de atitude, você vai ver que tudo vai mudar na sua vida.
A conversa com a Dri me balançou, fiquei pensando no assunto por muito tempo. Realmente, as coisas precisariam mudar. Mas, o quê? E como?
Assinar:
Postagens (Atom)