sexta-feira, 5 de março de 2010

Demorei para conseguir dormir. Ficava olhando para o teto do quarto e pensando nos últimos acontecimentos. Há poucos dias, nem sabia seu nome. Agora, já estávamos aos beijos. Não sabia quem você era e descubro que você é filho de um amigo de faculdade do meu chefe. O que mais estaria por vir? Que mais sei de você? Sei que, há algum tempo, resolveu deixar a casa dos pais para morar sozinho. Você disse que queria total independência, mas não entrou em detalhes sobre isso. Eu perguntei se você já havia sido casado. Disse que não e mudou logo de assunto. Deu a impressão que alguma coisa a respeito desse assunto incomodava você. Pode ser só impressão.
De repente, fiquei insegura em relação a você. Será que eu não demonstrei interesse demais, insinuando alguma coisa? Lembrei-me da Dri, falando para pegar você de canto. Não fiz isso, literalmente, mas será que não sugeri com o olhar? E você? Se interessou mesmo por mim? Ou estará aproveitando-se de uma situação? As coisas foram acontecendo entre nós, os fatos foram se sucedendo e, pronto, estávamos envolvidos. Aconteceu tão depressa, que chega a me assustar! Ou será que não? Serei eu, a estar procurando chifre em cabeça de cavalo?
O cansaço me dominou e acabei dormindo. Acordei com dor de cabeça e avisei que chegaria mais tarde no escritório.
Cheguei com cara de poucos amigos. A Sandrinha me olhou e disse que havia um recado na minha mesa. Agradeci e fui para minha sala.
Em cima da mesa, havia uma caixa retangular e um envelope com um cartão. Senti um doce aroma de chocolate. Pensei com os meus botões: " O que será, agora? Algum convite ou alguma desculpa?" Estava mal humorada. Meus pensamentos durante a noite estragaram um final de tarde delicioso. E ali, estava eu, com cara de idiota, segurando o envelope e supondo o que poderia ser.
- Não vai ler? - a Sandrinha apareceu com um café - Foi um entregador que trouxe, assim que cheguei. Tome o café. Parece que um trem passou em cima de você! Mais tarde, quando estiver melhor, se quiser conversar, sabe onde estou.
- Valeu, Sandrinha!
Um entregador que trouxe. Interessante. Já comecei a ficar intrigada. Era melhor ler e saber. De repente, nem era seu. Poderia ser de algum cliente do escritório. Ou do Dr. Arnaldo, que sempre se lembrava de mim e da Sandrinha com chocolate. Por que eu achei que poderia ser seu? Por que meus pensamentos ficavam sempre voltados para você? Já estava ficando fissurada por sua causa. Você entrou na minha vida e estava detonando, causando uma revolução, mexendo com todos os meus sentimentos, me deixando confusa. Não em relação a você, mas confusa comigo comigo mesmo. Nunca senti algo tão... tão... sei lá, forte, intenso...
Abri o envelope, finalmente. Diante de meus olhos, desenhava palavras escritas com uma letra bonita e masculina, segura e determinada: "Mila, querida, ontem à noite, surgiram algumas questões urgentes de trabalho a serem resolvidas. Estou viajando com os diretores para o interior para uma reunião. Devo retornar só no final da tarde ou no começo da noite. Ligo pra você à noite. Sinto não ter passado por aí, para lhe desejar um bom dia. Espero que entenda. De qualquer forma, que você tenha um bom dia, sem novidades ruins. Beijos. Gustavo. P.S.: Depois vou querer, pelo menos, um beijo com sabor do seu chocolate favorito".
Como você sabe se é meu chocolate favorito? Abri a caixa. Fiquei surpresa e sorri. Acho que você tem bola de cristal ou é um bruxo. Realmente, eram meus favoritos. E por que não entenderia o seu trabalho? Eu não entenderia e não aceitaria, se fosse o contrário: se você deixasse seus compromissos profissionais só para ficar comigo. Temos muito tempo. Já tinha tomado o café da Sandrinha e resolvi saborear um bombom. Dei uma mordida e fiquei 'viajando', pensando na morte da bezerra, com um esboço bobo de sorriso no rosto. A voz do Dr. Arnaldo me trouxe de volta à terra:
- Bom dia, Dra. Camila. O gelo está derretendo, não é?
- Quê? Bom dia, Dr. Arnaldo. Que gelo?
- Nada, não. Deixa pra lá. De noite, vocês conversam. Temos muito trabalho, hoje. Vou precisar que você resolva uns assuntos na Junta Comercial e, se der tempo, vou querer que você me encontre no Fórum.
Tudo bem, mãos à obra. Comecei a juntar as coisas. Como ele sabia que iríamos conversar à noite? Deduzi que você devia ter ligado para ele. E foi através do Dr. Arnaldo que você descobriu o meu chocolate favorito. Mas que gelo era esse que estava derretendo? Não tinha tempo para pensar nisso agora. Depois, tiraria isso a limpo.

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