Domingo amanheceu radiante, um belo dia de sol. A casa de seus pais era ampla e arejada. A sala de estar era conjugada com a de jantar e, ambas, davam acesso ao jardim interno, onde antes havia uma piscina. Como era de pouco uso, a área foi aterrada, foi construída uma churrasqueira com cobertura, espaço para geladeira, pia, etc. Foram espalhadas cadeiras e mesas com guardas-sol. Havia uma passagem lateral, com uma porta, que dava acesso da garagem ao jardim interno. Poderia se fazer uso dessa passagem, quando não o fizesse pela entrada principal da casa. Era um aconchegante espaço para reunião de familiares e amigos.
Todos os convidados estavam presentes: Dr. Felício e a esposa Vera, Sandrinha e o noivo Lúcio, eu e minha família e, é claro, os convidados de honra, Dr. Arnaldo e sua esposa Rita. Sua irmã Denise estava com o namorado Alex. E seu irmão, Luís Augusto, que é ator, trouxe um amigo e uma amiga. Depois das apresentações, formaram-se grupos: sua mãe Isabel, uma senhora simpática e brincalhona, logo juntou-se a Dona Carol, minha mãe, e as esposas dos advogados, Rita e Vera. Tornou-se um grupo muito animado. Meu pai começou a conversar com o Dr. Felício sobre engenharia e arquitetura. O filho do Dr. Felício estava na Espanha fazendo um curso de especialização. Bia se enturmou com seu irmão e os amigos do teatro. Sandrinha e o noivo engataram um papo animado com sua irmã e o namorado. Nós, ficamos conversando com seu pai e o Dr. Arnaldo.
Seu pai, Otávio, trabalhou numa grande empresa e, depois de formado, passou a tomar conta do departamento jurídico dessa empresa até aposentar-se. O Dr. Arnaldo convidou-o a juntar-se a ele e ao Dr. Felício no escritório, mas ele não aceitou. Falou que sentia que nenhum dos filhos tenham seguido seus passos e ingressado na faculdade de Direito.
- Cada um está feliz fazendo o que gosta. Gustavo é um homem de negócios, esperto, tem visão de futuro, saiu-se muito bem nesse ramo de comércio exterior. Augusto é das artes, puxou a mãe, é ator, me disse que conseguiu um papel numa novela, vai fazer televisão. Denise não quer ver ninguém doente, por isso se preocupa, demais até, com o quê comemos, é nutricionista.
Seu pai interessou-se quando soube que eu era advogada, que comecei no escritório como secretária, fui estagiária e passei a ser assistente dos dois advogados. Vi que aquela conversa não iria me agradar. Adorei quando Bia me chamou, me desculpei e saí. Não era nada importante. Estava com sede e fui buscar um refrigerante. Augusto aproximou-se, puxando conversa:
- Sua irmã é muito simpática. Ela nos convidou para vê-la cantar.
- Sou suspeita pra falar alguma coisa, não só porque sou irmã, mas eu gosto. Pergunta pro Guto o que ele achou, ele já viu ela cantar.
- Fico feliz, Camila, que meu irmão e você estejam se dando bem.
- Eu também fico muito feliz, mas, me desculpa, por que essa colocação?
- Depois do que ele passou com a tal da Cíntia, eu pensei que ele não se interessaria por mais ninguém.
Começou a aparecer uma estória. Quem era essa Cíntia? O quê aconteceu? O quê ela fez? Ele começou, agora eu queria saber; e tudo. E eu acho é que ele queria mesmo era contar; porquê, eu não sei.
- Cíntia? O quê aconteceu?
- Ele ainda não contou pra você? Ih, acho que falei demais.
Segurei ele pelo braço, sem deixar as pessoas perceberem, e intimei:
- Você começou, agora conta.
- Tá bom, mas você tem de me prometer que não vai dizer pra ele que fui eu que contei pra você. Vamos sentar ali.
Dirigimo-nos para uma mesinha de canto e nos acomodamos:
- Pode deixar, sou uma pessoa discreta. Se ele não contou alguma coisa até agora, é porque ele acha que não chegou a hora. Se ele achar que deve, vai contar, seja lá o que for. Se não contar, é porque não mereço a confiança dele. E ele não está me levando à sério. E o melhor, então, é cair fora.
- Calma, Camila! Tenho certeza que, mais cedo ou mais tarde, ele vai contar. Não é fácil pra ele, você vai entender. Você é a primeira namorada que ele traz em casa depois do que aconteceu. E ainda com sua família. Você acha que se ele não estivesse levando à sério, o relacionamento de vocês, ele juntaria nossas famílias, mesmo informalmente? Ele frequenta sua casa e interage bem com sua família. Você trabalha com o melhor amigo do nosso pai, que sempre tratou o Gustavo como um filho. Meu irmão é muito discreto, não é de falar de namorada, ficante, seja lá o que for, ele nunca foi de falar. De você, ele já falou algumas vezes.
- Tudo bem, Augusto, espero que ele tenha falado bem de mim. Mas conta, o quê aconteceu com essa Cíntia?
- Eu não sei como, nem onde eles se conheceram, mas eles namoraram cerca de oito meses. Ele gostava muito dela, até queria casar. Resolveram ir morar junto. Meu irmão montou um apartamento, comprou móveis, etc. Moraram juntos por seis meses. Minha mãe não gostava dela, parece que sabia que ela não era lá essas coisas. Vivia falando, pra ele, que ela não era mulher pra ele. Certa vez, ele teve de viajar a trabalho e iria demorar alguns dias. Porém, o negócio deu certo logo e ele voltou rápido. Quando ele chegou perto do prédio, viu que ela estava dentro do carro do chefe dela, vinte anos mais velho, quase em "vias de fato", se é que me entende. Ele descobriu que o caso dos dois era antigo, que já durava há anos. Acabou ali. Ele mesmo juntou as coisas dela e a pôs para fora do apartamento. Juntou as coisas dele e veio pra cá.
Fiquei estarrecida. Comecei a entender algumas coisas.
- Depois, ele voltou pra lá?
- Não. Ele se desfez daquele apartamento. O que ele mora é outro. Você já foi até lá?
- Não. Ele me convidou uma vez, mas não aceitei.
- Você ganhou mil pontos com ele. Ele não leva ninguém pra casa dele. Lá é o santuário dele. Quando ele saía com alguma possível namorada, ele levava pra outros lugares.
- Motéis, você diz.
- Nunca pra casa dele. Depois disso, ele se tornou um homem muito frio, mais reservado, sério, só pensava em trabalho. Nos finais de semana, ficava fazendo planilhas de custo, sei lá, lendo jornal ou revistas de negócios. Saía muito pouco. Você mudou isso. Eu vejo um brilho diferente nos olhos dele quando ele fala de você. Aliás, o mesmo brilho que vejo nos seus, agora, procurando por ele.
Sorri:
- Seu irmão é especial para mim.
Você vinha caminhando em nossa direção.
- Valeu pela confiança, Augusto!
Você aproximou-se:
- Será que estou sendo traído pelo próprio irmão? Vou ficar com ciúmes.
- Ela estava me contando que você já viu a Bia cantar. Ela nos convidou para ir vê-la.
- Maninho, a irmãzinha canta e encanta, vocês vão gostar muito.
A Bia também aproximou-se, você abraçou-a, sorri e falei:
- O objeto da conversa chegou. É melhor mudar de assunto.
O dia transcorreu agradável. Porém, tudo que seu irmão me contou, não saía da minha cabeça. Fiquei pensando nessa fulana, Cíntia. Um homem maravilhoso como você, apaixonado por ela, querendo casar, e a retardada tendo um caso com um ar casado, vinte anos mais velho? O que essa mulher tinha na cabeça? Titica de galinha? Azar dela.
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