Fomos almoçar como combinamos, porém um telefonema da Sandrinha nos surpreendeu no meio da refeição:
- Mila, é melhor você voltar logo para o escritório.
- O que aconteceu, Sandrinha? Você está me assustando! Fala logo!
- Tem um policial aqui, ele quer falar com você. Acho que ele vai querer falar com o Gustavo, também.
- Aconteceu alguma coisa na minha casa? Com minha mãe, com a Bia, com meu pai? Fala, Sandrinha.
- Não, Mila. Fica tranquila, não aconteceu nada com sua família. Vem logo para o escritório, o policial não quer que eu fale por telefone.
- Tá, já estamos indo.
- Ela não adiantou nada o que é que está acontecendo?
- Não, mas tem um policial no escritório que quer falar com a gente. Me apavorei, agora, pensei que fosse algo com alguém da minha casa, mas a Sandrinha disse que não é isso. O que será que está pegando por lá?
- Vai saber! Pode ser alguma coisa com o Arnaldo ou o Felício, mas a gente só vai ficar sabendo se formos logo pra lá. Minha querida, hoje o dia promete!
No escritório, o policial nos contou que Dona Rita, esposa do Dr. Arnaldo, tinha ido ao banco para fazer um saque para pagar as funcionárias e fornecedores. Segundo o policial, "o meliante ganhou a fita no interior do banco e ficou na cola dela", seguiu-a de moto até a loja, no shopping, e a fez, junto com duas funcionárias, como reféns. Num descuido do assaltante, uma das funcionárias conseguiu fugir e avisar os seguranças e a polícia. O indivíduo dizia que queria mais dinheiro. O policial queria saber de nós, se o Dr. Arnaldo tinha algum desafeto, se estava trabalhando em algo que pudesse despertar alguma vingança de alguma parte insatisfeita, essas coisas. Tinha de investigar as possibilidades.
- Podemos ajudar de alguma forma? Meu pai também é advogado e amigo pessoal do Dr. Arnaldo. Se tiver algo que possamos fazer...
- O indivíduo está fazendo uma série de exigências para soltar as duas mulheres. Ele quer a mãe no local, já foram buscá-la. Pediu o advogado, também já foi providenciado. O mais complicado é que ele quer um jornalista famoso para dar uma entrevista exclusiva. Têm vários jornalistas no local, mas ele não quer nenhum dos que estão lá. Pode? Quer os cinco minutos de fama que tem direito. Ele quer que filme sua rendição para que sua integridade física seja preservada.
- Carlos Santana. Já verificaram? Ele aceitaria? - perguntei.
- Eu acho que sim. Carlos é muito famoso e está numa grande emissora.
- Você o conhece, Mila?
- Espere, faz um tempinho que não falo com ele, se o telefone dele não mudou, tá aqui...O Carlos começou a fazer Direito comigo, detestou e mudou para Jornalismo. Deu certo. Alô, Carlos? É a Camila, da faculdade, tudo bem? Não liguei pra conversar, não. Preciso de um favorzinho, se possível. Interessa pra você uma entrevista exclusiva com um indivíduo que mantém duas mulheres como reféns, sob a mira de um revólver? Uma delas é a esposa do meu chefe. Se você aceitar, sabe que existem riscos, apesar da polícia estar por perto...Vocês, jornalistas, são todos doidos... Valeu, Carlos!
Falei para o policial:
- Se puder entrar em contato com quem está negociando com o cara e informá-lo que o jornalista já está indo para lá, isso talvez o tranquilize.
- Tudo bem, vou informar através do rádio da viatura. Qualquer novidade, entraremos em contato com vocês.
- Desculpe, mas também vou. Meu pai não me perdoaria se eu deixasse o Dr. Arnaldo lá, sozinho, sem um amigo pra dar uma força e para representá-lo numa hora dessa.
- Eu também vou. Afinal, fui eu que fiz o contato com o jornalista.
A contra-gosto, o policial teve de aceitar que fôssemos para o local do sequestro. Faltava espaço para tantas viaturas e carros de imprensa. Nos aproximamos do policial que negociava com o sequestrador. Para um negociador, parecia já estar estressado:
- Esses dois, quem são? - perguntou ao policial que nos acompanhava, mas nem se importou com a resposta. Adiantei-me:
- Meu nome é Camila, sou advogada, trabalho com o Dr Arnaldo, marido de uma das vítimas. Eu falei com o jornalista Carlos Santana, que já está vindo para cá com sua equipe.
- Tá, podem ficar por aqui, mas não atrapalhem - falou com rispidez.
O Dr. Felício aproximou-se:
- Gustavo, Camila, espero que tudo acabe logo. O Arnaldo passou mal, está sendo medicado na ambulância, não quiz ir para o hospital, quer ver a Rita liberada logo.
Próximo de onde estávamos, uma senhora simples chorava muito. Era amparada por um policial. Percebi que era a mãe do sequestrador. Estava envergonhada pelo filho e por todo aquele alvoroço que ele estava provocando. Carlos chegou e foi negociado o contato dele com o rapaz. Enquanto isso, chegou um indivíduo empertigado, de nariz empinado, com ares de "sou o tal", dando ordens para o policial ríspido:
- Eu exijo falar com o meu cliente antes que se tome qualquer decisão.
- Aqui, o senhor não exige nada. Fica na sua.
Não resisti, tive de dar meu palpite:
- Se o senhor está tão preocupado com o seu cliente, onde estava quando ele fez as vítimas de reféns? E por que foi o último a chegar aqui no local? Antes do senhor falar com o seu cliente, as vítimas tem o direito de serem libertadas. E o senhor não tem o direito de exigir nada, ainda mais do policial que está aqui desde o início da ocorrência, para resgatar, ilesas, essas mulheres, que são vítimas do SEU cliente. Reitero o que o policial já lhe falou, fica na sua!
O Dr. Felício me olhava, surpreso. Você me abraçou e me puxou para o outro lado. Até o policial que negociava a rendição do indivíduo, deu uma rápida olhada e fez um sinal de aprovação. Para o advogado empertigado, só restou baixar a cabeça e ficar quieto.
A rendição do indivíduo aconteceu logo. Ele liberou as mulheres, que foram levadas para serem medicadas, pois estavam muito nervosas. O Dr. Arnaldo já estava melhor e viu o desfecho da ocorrência, com alívio. Dr. Felício iria acompanhá-lo. Carlos fez um sinal que ligaria depois. Voltamos para o escritório. Sandrinha estava aflita por notícias. Já não tinha clima para trabalho, só ficamos cumprindo o horário.
segunda-feira, 29 de março de 2010
terça-feira, 23 de março de 2010
No dia seguinte, almoçamos juntos, mas tínhamos compromissos profissionais à tarde, não poderíamos demorar. Você quiz passar no escritório para me levar para casa, à tarde. Dispensei sua companhia. Não que eu quisesse fazer isso. Eu passaria a tarde no Fórum e, se saisse mais cedo, queria ir logo para casa. Eu não estava gostando nada dessas novas designações. Você ficou de me ligar à noite. Conversamos um pouco e prometi que esperaria por você na sexta-feira.
Fomos a um barzinho de lanches e sucos naturais.
- Acho que trabalhamos demais esta semana, Mila. Nós merecemos um sábado só para nós. Sem trabalho e sem imprevistos. Só nosso. O que acha de passarmos o dia fora da cidade, amanhã?
- Meu querido, você se esqueceu que, amanhã, a Bia estréia o show dela? Eu avisei para você, durante a semana. Se você não estiver a fim de ir, tudo bem, eu entendo. Mas a família tem de dar uma força.
- Me desculpa, eu esqueci. É claro que eu vou dar uma força para a irmãzinha, também. Estou curioso para vê-la cantar.
Minha irmã, e seu grupo, tinham sido contratados, por uma temporada, para animar as noites de uma casa noturna. Era seu primeiro trabalho profissional e ela estava muito animada e empenhada para que tudo desse certo.
Parecíamos dois amigos conversando. Nem tínhamos começado a ficar juntos e parecia que tudo tinha esfriado entre nós. Comecei a pensar em tudo, em nós. Eu não sabia como classificar o nosso relacionamento. Era apenas uma amizade carinhosa? Estávamos ficando? Namorando? Começando um caso? Você nunca falou nada, eu nunca questionei. Conversávamos como grandes amigos, nos despedíamos com doces beijinhos, e só.
Seu convite para passarmos o dia juntos poderia ser uma oportunidade para nos entendermos, ou não, e entender o que estava acontecendo conosco. Seu trabalho estava exigindo mais de você e o meu, estava me chateando. Estava descontente com a minha situação. Pensava em pedir as contas, mas o que eu iria fazer? Tinha de amadurecer alguma idéia, antes de tomar alguma decisão. Não comentei nada em casa, nem com você. Eu estava distante, eu sei. O quê me fazia bem era estar com você, por isso fiquei muito feliz de você ter ido na estréia da Bia. Foi um sucesso! Minha irmã saiu-se muito bem.
No domingo à tarde, programinha básico, fomos ao cinema. Enquanto apareciam os créditos na tela, você me surpreendeu com uma pergunta:
- Quer ir pr'o meu apartamento?
- Não.
- Você anda distante. Alguma coisa errada? Eu lhe fiz alguma coisa...?
- Por favor, Guto. O problema não é com você, é comigo. Eu sei que ando estressada, são alguns probleminhas que andam me tirando o sono, mas só eu posso resolver. Quando tiver minha resposta, minha solução, você será o primeiro a ficar sabendo. Por ora, tenta me compreender e, se puder, ficar do meu lado. Eu não quero que nada nos afaste.
- Mila, por que você não confia em mim? Me conte o que a está preocupando, será que não poderei ajudá-la? Duas cabeças pensam melhor que uma.
- Não se trata de confiança, querido. E sim de decisão - Tentei desviar o foco - E decidi que quero almoçar com você amanhã.
- Só isso?
- Calma, apressado, tudo tem seu tempo!
Sabia que, se eu contasse a você que estava descontente no escritório e com as novas determinações do Dr. Arnaldo, você iria conversar com ele para que as coisas voltassem a ser como antes. Eu não queria isso, porque agora também questionava se ainda queria continuar trabalhando na área jurídica.
Fomos a um barzinho de lanches e sucos naturais.
- Acho que trabalhamos demais esta semana, Mila. Nós merecemos um sábado só para nós. Sem trabalho e sem imprevistos. Só nosso. O que acha de passarmos o dia fora da cidade, amanhã?
- Meu querido, você se esqueceu que, amanhã, a Bia estréia o show dela? Eu avisei para você, durante a semana. Se você não estiver a fim de ir, tudo bem, eu entendo. Mas a família tem de dar uma força.
- Me desculpa, eu esqueci. É claro que eu vou dar uma força para a irmãzinha, também. Estou curioso para vê-la cantar.
Minha irmã, e seu grupo, tinham sido contratados, por uma temporada, para animar as noites de uma casa noturna. Era seu primeiro trabalho profissional e ela estava muito animada e empenhada para que tudo desse certo.
Parecíamos dois amigos conversando. Nem tínhamos começado a ficar juntos e parecia que tudo tinha esfriado entre nós. Comecei a pensar em tudo, em nós. Eu não sabia como classificar o nosso relacionamento. Era apenas uma amizade carinhosa? Estávamos ficando? Namorando? Começando um caso? Você nunca falou nada, eu nunca questionei. Conversávamos como grandes amigos, nos despedíamos com doces beijinhos, e só.
Seu convite para passarmos o dia juntos poderia ser uma oportunidade para nos entendermos, ou não, e entender o que estava acontecendo conosco. Seu trabalho estava exigindo mais de você e o meu, estava me chateando. Estava descontente com a minha situação. Pensava em pedir as contas, mas o que eu iria fazer? Tinha de amadurecer alguma idéia, antes de tomar alguma decisão. Não comentei nada em casa, nem com você. Eu estava distante, eu sei. O quê me fazia bem era estar com você, por isso fiquei muito feliz de você ter ido na estréia da Bia. Foi um sucesso! Minha irmã saiu-se muito bem.
No domingo à tarde, programinha básico, fomos ao cinema. Enquanto apareciam os créditos na tela, você me surpreendeu com uma pergunta:
- Quer ir pr'o meu apartamento?
- Não.
- Você anda distante. Alguma coisa errada? Eu lhe fiz alguma coisa...?
- Por favor, Guto. O problema não é com você, é comigo. Eu sei que ando estressada, são alguns probleminhas que andam me tirando o sono, mas só eu posso resolver. Quando tiver minha resposta, minha solução, você será o primeiro a ficar sabendo. Por ora, tenta me compreender e, se puder, ficar do meu lado. Eu não quero que nada nos afaste.
- Mila, por que você não confia em mim? Me conte o que a está preocupando, será que não poderei ajudá-la? Duas cabeças pensam melhor que uma.
- Não se trata de confiança, querido. E sim de decisão - Tentei desviar o foco - E decidi que quero almoçar com você amanhã.
- Só isso?
- Calma, apressado, tudo tem seu tempo!
Sabia que, se eu contasse a você que estava descontente no escritório e com as novas determinações do Dr. Arnaldo, você iria conversar com ele para que as coisas voltassem a ser como antes. Eu não queria isso, porque agora também questionava se ainda queria continuar trabalhando na área jurídica.
quarta-feira, 17 de março de 2010
À noite, você me ligou. Contou que o dia tinha sido muito cansativo, que a reunião não rendia, não se chegava a um consenso para assinar o contrato. Enfim, as duas partes cederam um pouco e o negócio foi fechado. Não conversamos muito, você estava cansado e eu, também. Combinamos de almoçar juntos, no dia seguinte. A semana acenava com muito trabalho para nós.
O Dr. Arnaldo queria que eu atuasse mais como advogada e menos como assistente. Estava me passando casos de concordata e falência para acompanhar no Fórum, e ir me acostumando; aberturas e encerramentos de empresas na Junta Comercial, etc. Não sei se queria isso. Eu estava confortável fazendo o serviço de bastidores, não me sentia uma advogada. Eu não era apaixonada pelo Direito, como a Sandrinha. Só não larguei a faculdade no meio, porque não sabia o que escolher. Eu tinha de me formar em alguma coisa e já estava no meio do curso. Resolvi terminar, mas nunca foi meu sonho trabalhar com Direito.
Nunca pensei em engenharia, como meu pai. Antes de casar, minha mãe era bailarina, dançava no Municipal. Depois do casamento, meu pai não quiz que ela continuasse com a carreira. Ela tinha de tomar conta da casa e dos filhos que viriam, não iria ter tempo para ficar dançando, justificava ele. Eu era um desastre para dançar; minha mãe até tentou fazer com que eu aprendesse, mas foi um fiasco. Adoro as artes, mas não tenho dons para nada: tentei cantar, só desafinava, não cantava uma nota no tom. Tentei aprender tocar violão, nunca acertava os acordes. Pensei em artes plásticas. Desenho, pintura, escultura; não deu. Uma criança de dois anos fazia qualquer coisa melhor que eu.
Eu queria fazer alguma coisa diferente, ter uma profissão que não fosse chata. Pensei em muitas coisas: psicologia, veterinária, turismo, moda, hotelaria e até carreira militar nas Forças Armadas. Desisti de todas. Ainda não me encontrei, profissionalmente. Ainda estou em busca de um rumo a seguir.
Bianca, minha irmã, desde criança, já brincava de ser cantora. Desde pequena, ela vive em função da música. Canta, toca piano, faz arranjos. Ela não teve dúvida ao escolher, sempre soube o que queria.
O Dr. Arnaldo queria que eu atuasse mais como advogada e menos como assistente. Estava me passando casos de concordata e falência para acompanhar no Fórum, e ir me acostumando; aberturas e encerramentos de empresas na Junta Comercial, etc. Não sei se queria isso. Eu estava confortável fazendo o serviço de bastidores, não me sentia uma advogada. Eu não era apaixonada pelo Direito, como a Sandrinha. Só não larguei a faculdade no meio, porque não sabia o que escolher. Eu tinha de me formar em alguma coisa e já estava no meio do curso. Resolvi terminar, mas nunca foi meu sonho trabalhar com Direito.
Nunca pensei em engenharia, como meu pai. Antes de casar, minha mãe era bailarina, dançava no Municipal. Depois do casamento, meu pai não quiz que ela continuasse com a carreira. Ela tinha de tomar conta da casa e dos filhos que viriam, não iria ter tempo para ficar dançando, justificava ele. Eu era um desastre para dançar; minha mãe até tentou fazer com que eu aprendesse, mas foi um fiasco. Adoro as artes, mas não tenho dons para nada: tentei cantar, só desafinava, não cantava uma nota no tom. Tentei aprender tocar violão, nunca acertava os acordes. Pensei em artes plásticas. Desenho, pintura, escultura; não deu. Uma criança de dois anos fazia qualquer coisa melhor que eu.
Eu queria fazer alguma coisa diferente, ter uma profissão que não fosse chata. Pensei em muitas coisas: psicologia, veterinária, turismo, moda, hotelaria e até carreira militar nas Forças Armadas. Desisti de todas. Ainda não me encontrei, profissionalmente. Ainda estou em busca de um rumo a seguir.
Bianca, minha irmã, desde criança, já brincava de ser cantora. Desde pequena, ela vive em função da música. Canta, toca piano, faz arranjos. Ela não teve dúvida ao escolher, sempre soube o que queria.
sexta-feira, 5 de março de 2010
Demorei para conseguir dormir. Ficava olhando para o teto do quarto e pensando nos últimos acontecimentos. Há poucos dias, nem sabia seu nome. Agora, já estávamos aos beijos. Não sabia quem você era e descubro que você é filho de um amigo de faculdade do meu chefe. O que mais estaria por vir? Que mais sei de você? Sei que, há algum tempo, resolveu deixar a casa dos pais para morar sozinho. Você disse que queria total independência, mas não entrou em detalhes sobre isso. Eu perguntei se você já havia sido casado. Disse que não e mudou logo de assunto. Deu a impressão que alguma coisa a respeito desse assunto incomodava você. Pode ser só impressão.
De repente, fiquei insegura em relação a você. Será que eu não demonstrei interesse demais, insinuando alguma coisa? Lembrei-me da Dri, falando para pegar você de canto. Não fiz isso, literalmente, mas será que não sugeri com o olhar? E você? Se interessou mesmo por mim? Ou estará aproveitando-se de uma situação? As coisas foram acontecendo entre nós, os fatos foram se sucedendo e, pronto, estávamos envolvidos. Aconteceu tão depressa, que chega a me assustar! Ou será que não? Serei eu, a estar procurando chifre em cabeça de cavalo?
O cansaço me dominou e acabei dormindo. Acordei com dor de cabeça e avisei que chegaria mais tarde no escritório.
Cheguei com cara de poucos amigos. A Sandrinha me olhou e disse que havia um recado na minha mesa. Agradeci e fui para minha sala.
Em cima da mesa, havia uma caixa retangular e um envelope com um cartão. Senti um doce aroma de chocolate. Pensei com os meus botões: " O que será, agora? Algum convite ou alguma desculpa?" Estava mal humorada. Meus pensamentos durante a noite estragaram um final de tarde delicioso. E ali, estava eu, com cara de idiota, segurando o envelope e supondo o que poderia ser.
- Não vai ler? - a Sandrinha apareceu com um café - Foi um entregador que trouxe, assim que cheguei. Tome o café. Parece que um trem passou em cima de você! Mais tarde, quando estiver melhor, se quiser conversar, sabe onde estou.
- Valeu, Sandrinha!
Um entregador que trouxe. Interessante. Já comecei a ficar intrigada. Era melhor ler e saber. De repente, nem era seu. Poderia ser de algum cliente do escritório. Ou do Dr. Arnaldo, que sempre se lembrava de mim e da Sandrinha com chocolate. Por que eu achei que poderia ser seu? Por que meus pensamentos ficavam sempre voltados para você? Já estava ficando fissurada por sua causa. Você entrou na minha vida e estava detonando, causando uma revolução, mexendo com todos os meus sentimentos, me deixando confusa. Não em relação a você, mas confusa comigo comigo mesmo. Nunca senti algo tão... tão... sei lá, forte, intenso...
Abri o envelope, finalmente. Diante de meus olhos, desenhava palavras escritas com uma letra bonita e masculina, segura e determinada: "Mila, querida, ontem à noite, surgiram algumas questões urgentes de trabalho a serem resolvidas. Estou viajando com os diretores para o interior para uma reunião. Devo retornar só no final da tarde ou no começo da noite. Ligo pra você à noite. Sinto não ter passado por aí, para lhe desejar um bom dia. Espero que entenda. De qualquer forma, que você tenha um bom dia, sem novidades ruins. Beijos. Gustavo. P.S.: Depois vou querer, pelo menos, um beijo com sabor do seu chocolate favorito".
Como você sabe se é meu chocolate favorito? Abri a caixa. Fiquei surpresa e sorri. Acho que você tem bola de cristal ou é um bruxo. Realmente, eram meus favoritos. E por que não entenderia o seu trabalho? Eu não entenderia e não aceitaria, se fosse o contrário: se você deixasse seus compromissos profissionais só para ficar comigo. Temos muito tempo. Já tinha tomado o café da Sandrinha e resolvi saborear um bombom. Dei uma mordida e fiquei 'viajando', pensando na morte da bezerra, com um esboço bobo de sorriso no rosto. A voz do Dr. Arnaldo me trouxe de volta à terra:
- Bom dia, Dra. Camila. O gelo está derretendo, não é?
- Quê? Bom dia, Dr. Arnaldo. Que gelo?
- Nada, não. Deixa pra lá. De noite, vocês conversam. Temos muito trabalho, hoje. Vou precisar que você resolva uns assuntos na Junta Comercial e, se der tempo, vou querer que você me encontre no Fórum.
Tudo bem, mãos à obra. Comecei a juntar as coisas. Como ele sabia que iríamos conversar à noite? Deduzi que você devia ter ligado para ele. E foi através do Dr. Arnaldo que você descobriu o meu chocolate favorito. Mas que gelo era esse que estava derretendo? Não tinha tempo para pensar nisso agora. Depois, tiraria isso a limpo.
De repente, fiquei insegura em relação a você. Será que eu não demonstrei interesse demais, insinuando alguma coisa? Lembrei-me da Dri, falando para pegar você de canto. Não fiz isso, literalmente, mas será que não sugeri com o olhar? E você? Se interessou mesmo por mim? Ou estará aproveitando-se de uma situação? As coisas foram acontecendo entre nós, os fatos foram se sucedendo e, pronto, estávamos envolvidos. Aconteceu tão depressa, que chega a me assustar! Ou será que não? Serei eu, a estar procurando chifre em cabeça de cavalo?
O cansaço me dominou e acabei dormindo. Acordei com dor de cabeça e avisei que chegaria mais tarde no escritório.
Cheguei com cara de poucos amigos. A Sandrinha me olhou e disse que havia um recado na minha mesa. Agradeci e fui para minha sala.
Em cima da mesa, havia uma caixa retangular e um envelope com um cartão. Senti um doce aroma de chocolate. Pensei com os meus botões: " O que será, agora? Algum convite ou alguma desculpa?" Estava mal humorada. Meus pensamentos durante a noite estragaram um final de tarde delicioso. E ali, estava eu, com cara de idiota, segurando o envelope e supondo o que poderia ser.
- Não vai ler? - a Sandrinha apareceu com um café - Foi um entregador que trouxe, assim que cheguei. Tome o café. Parece que um trem passou em cima de você! Mais tarde, quando estiver melhor, se quiser conversar, sabe onde estou.
- Valeu, Sandrinha!
Um entregador que trouxe. Interessante. Já comecei a ficar intrigada. Era melhor ler e saber. De repente, nem era seu. Poderia ser de algum cliente do escritório. Ou do Dr. Arnaldo, que sempre se lembrava de mim e da Sandrinha com chocolate. Por que eu achei que poderia ser seu? Por que meus pensamentos ficavam sempre voltados para você? Já estava ficando fissurada por sua causa. Você entrou na minha vida e estava detonando, causando uma revolução, mexendo com todos os meus sentimentos, me deixando confusa. Não em relação a você, mas confusa comigo comigo mesmo. Nunca senti algo tão... tão... sei lá, forte, intenso...
Abri o envelope, finalmente. Diante de meus olhos, desenhava palavras escritas com uma letra bonita e masculina, segura e determinada: "Mila, querida, ontem à noite, surgiram algumas questões urgentes de trabalho a serem resolvidas. Estou viajando com os diretores para o interior para uma reunião. Devo retornar só no final da tarde ou no começo da noite. Ligo pra você à noite. Sinto não ter passado por aí, para lhe desejar um bom dia. Espero que entenda. De qualquer forma, que você tenha um bom dia, sem novidades ruins. Beijos. Gustavo. P.S.: Depois vou querer, pelo menos, um beijo com sabor do seu chocolate favorito".
Como você sabe se é meu chocolate favorito? Abri a caixa. Fiquei surpresa e sorri. Acho que você tem bola de cristal ou é um bruxo. Realmente, eram meus favoritos. E por que não entenderia o seu trabalho? Eu não entenderia e não aceitaria, se fosse o contrário: se você deixasse seus compromissos profissionais só para ficar comigo. Temos muito tempo. Já tinha tomado o café da Sandrinha e resolvi saborear um bombom. Dei uma mordida e fiquei 'viajando', pensando na morte da bezerra, com um esboço bobo de sorriso no rosto. A voz do Dr. Arnaldo me trouxe de volta à terra:
- Bom dia, Dra. Camila. O gelo está derretendo, não é?
- Quê? Bom dia, Dr. Arnaldo. Que gelo?
- Nada, não. Deixa pra lá. De noite, vocês conversam. Temos muito trabalho, hoje. Vou precisar que você resolva uns assuntos na Junta Comercial e, se der tempo, vou querer que você me encontre no Fórum.
Tudo bem, mãos à obra. Comecei a juntar as coisas. Como ele sabia que iríamos conversar à noite? Deduzi que você devia ter ligado para ele. E foi através do Dr. Arnaldo que você descobriu o meu chocolate favorito. Mas que gelo era esse que estava derretendo? Não tinha tempo para pensar nisso agora. Depois, tiraria isso a limpo.
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