domingo, 9 de janeiro de 2011

O clima, agora, de alívio, mudou a expressão nos rostos, antes, preocupados. A alegria tomou conta do ambiente com a notícia da chegada do primogênito. Sorrisos abriram-se largamente e a ansiedade era devido à expectativa para conhecer o pequeno Paulo Otávio, ou Tavinho, como já o chamava Gustavo e toda a família.
No quarto do hospital, Camila havia adormecido. Guto aproveitou e foi conversar com o médico sobre o ocorrido. O doutor tomou algumas providências, chamou a enfermeira e a orientou para que ela acompanhasse Gustavo e avisar, se Mila passasse mal.
Assim que Guto adentrou no quarto, seguido pela enfermeira, Mila abriu os olhos, um tanto sonolenta, e perguntou do filho:
- Estou louca para pegar meu bebê, onde ele está?
- Calma, Dona Camila, a senhora vai pegá-lo daqui a pouco para dar de mamar para ele. Ele, também, precisa descansar um pouco. Foi um parto cansativo para ambos, mas daqui a pouco ele acorda com fome.
- Minha querida, como você está?
- Um pouco cansada, amor. Como disse a enfermeira, foi cansativo, mas estou bem.
- Eu quero falar com você, querida. Quero contar algo que aconteceu, enquanto você estava trazendo nosso filho.
- Nossa, Guto! Que cara de tragédia! O que poderia ter acontecido neste dia tão feliz?
- Realmente, Mila, foi uma tragédia! O prédio, onde trabalhávamos, foi consumido por um grande incêndio. E, antes que você se apavore e me pergunte, todos que conhecemos estão bem.
- Deus! Que coisa terrível! Todos estão salvos? Ninguém se feriu?
- Bem... ninguém ainda tem notícias da recepcionista...
- Dona Márcia...
- Sim. O Dr. Felício está tentando buscar informações com seus contatos para ver se descobre alguma coisa.
De repente, Mila estremeceu:
- Amor, se não fosse por nosso filho, poderíamos estar lá...
- Mila, não pense assim! Eu só contei a você porque não queria que ninguém lhe contasse de uma forma lhe assustasse. Hoje é um dia especial para nós. Vamos pensar só no nosso homenzinho. E, falando nele, daqui a pouco os avós e tios estarão aqui para conhecê-lo.
- Querido, você avisou meus pais?
Gustavo achou melhor não comentar a preocupação de toda a família com os dois.
- Os seus pais, os meus, o titio e titias. Pedi para o Augusto avisar, também, o Arnaldo e a Sandra.
Nesse momento, uma outra enfermeira entrou no quarto com um bebezinho enrolado numa manta azul:
- Ele acordou com fome - disse.
- Eis nosso pequeno grande homem - babou Gustavo.
A enfermeira colocou o nenê nos braços de Mila, que o olhava, enternecida. Ela fez um carinho no rostinho da criança com as pontas dos dedos. Ajeitou-se, com a ajuda da enfermeira, desnudou um dos seios e trouxe o bebê para junto do corpo. Guto observava a cena, apaixonado e comovido.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Augusto atendeu o telefone. Ficou aliviado quando ouviu a voz do irmão:
- Até que enfim, Guto! Estamos todos aqui preocupados com você e a Mila. Inclusive, os pais dela estão aqui em casa, aguardando notícias de vocês.
- Nossa, maninho, que houve? Por que tanta preocupação?
Dona Isabel manifestou-se:
- Onde ele está? Está bem? E a Mila? Deixa eu falar com ele.
Dona Carol ficou na expectativa.
- Calma, mãe. A mamãe está fazendo um interrogatório sobre você e a Mila. Todo mundo está preocupado com vocês. Dr. Arnaldo, Dr. Felício e até aquele jornalista,
amigo da Mila, o Carlos, ligou para a Bia para saber de vocês.
- Nós estamos bem, mas o que houve?
- Onde vocês estão? Em Marte? Você não ficou sabendo do incêndio? - Augusto ficou intrigado.
- Sim, fiquei sabendo a instantes. Mas, o que eu e a Mila temos com isso?
Augusto percebeu que o irmão não sabia. Procurou não fazer alarde:
- O prédio sinistrado é onde você e a Mila trabalham.
Gustavo ficou sem palavras durante um instante.
- Guto, você está aí? O quê aconteceu?
- Augusto, eu não sabia... E a Mila nem sabe que aconteceu um grande incêndio. Estamos no hospital...
- Hospital? Aconteceu alguma coisa com a Mila?
Dona Carol espantou-se:
- Minha filha... o quê aconteceu com ela? Está ferida? É grave?
Ficou angustiada e na expectativa. Augusto fez sinal para Dona Carol ficar calma. Gustavo prosseguiu falando com o irmão:
- Seu sobrinho nasceu, tio Augusto. O Tavinho é um menino lindo e forte. Lindo como a mãe e forte como o pai.
Augusto abriu um sorriso, mas não perdeu a chance de atormentar o irmão mais velho:
- Se você já era babaca, agora tá mais ainda, né, Guto?
Fez sinal para todos ficarem calmos, que estava tudo bem.
- Pode falar o que você quiser. Eu estou babando pelo meu filho, sim.
- Nós iremos todos ver esse guri. Só espero que a Mila não deixe esse pimpolho ficar babaca como o pai.
- Pode falar, eu sei que você deve estar doido para conhecer seu sobrinho!
- Claro, eu e toda a família. Ele não tem culpa pelo pai que tem. - Augusto mudou o tom - Guto, falando sério, toma cuidado quando você for dar a notícia do incêndio pra Mila. Ela acabou de dar à luz, ela pode não passar bem ao saber da tragédia. A Sandrinha ligou há pouco, ela está bem. A Aninha havia saído pr'o almoço, também está bem. Só não temos notícia da moça da recepção do escritório do Dr. Arnaldo. E como já falei, o Dr. Arnaldo e o Dr. Felício estão bem, eles estavam num almoço.
- Certo, Augusto. Vou ser prudente para dar a notícia para a Mila, inclusive vou pedir a presença do médico e da enfermeira, se for o caso. Se puder, avise o Arnaldo e a Sandrinha que estamos bem.
- Pode deixar, daqui a pouco invadiremos o hospital.

sábado, 4 de dezembro de 2010

As vítimas do incêndio chegavam a todo momento nos hospitais, agitando o atendimento médico. Pessoas com queimaduras, algumas em estado muito grave; outras, intoxicadas pela fumaça; e algumas que passaram mal em ver tal catástrofe.
Em contrapartida, havia um andar, onde o clima era extremamente calmo e agradável; reinava a paz, que só foi quebrada com um choro.
- Parabéns, papai, seu filho é forte e saudável - disse o médico para Gustavo, que assistia o parto de Camila.
Seus olhos não conseguiram conter as lágrimas, quando a enfermeira colocou o recém nascido, já limpo e enroladinho em lençol, nos braços de Mila.
- Amor, nosso filho é lindo, lindo como você.
- Sim, querido, ele é lindo. Estou muito feliz!
A enfermeira interrompeu:
- Vocês terão a vida toda para apreciá-lo, mas agora temos de cuidar da mamãe. Ainda temos de fazer alguns procedimentos antes de você ir para o quarto descansar, se recuperar e se preparar para dar a primeira mamada do garotão. Se o senhor quiser acompanhar o meninão até o berçário, pode. Nós acabaremos aqui e a levaremos para o quarto.
Gustavo estava fascinado com o filho e aceitou a sugestão da enfermeira.
Através do vidro, viu o pequeno ser acomodado no berço. Dois pais, também, babavam por seus filhotes, que eram cuidados dentro do berçário. Um deles, indagou a Gustavo:
- É o seu primeiro?
- Sim, acabou de nascer.
- Logo vi. Quando meu primeiro nasceu, também fiquei bobo. Agora, é o meu quinto filho.
O outro pai entrou na conversa:
- Quinto?
- Sim, na segunda gravidez, vieram três meninas. Não íamos ter mais filhos, mas minha esposa acabou engravidando...
- Quase que não pude chegar para ver minha filhota. A cidade ficou um alvoroço por causa do incêndio. Está uma agitação no PS.
- Que incêndio? - perguntou Gustavo - Eu estava na sala de cirurgia...
- Você não sabe? Um grande incêndio destruiu um prédio comercial. Muitas vítimas, mortos e feridos estão sendo levados para vários hospitais, inclusive este.
- Meu Deus! Que coisa horrível!
- Sim, horrível. Uma coisa eu te digo, meu amigo, é melhor nem falar disso pra tua esposa, já que ela acabou de dar à luz a teu filho. Ela pode ficar impressionada e passar mal.
- É claro, nem vou comentar, afinal o momento é de alegria. Tenho que avisar nossos pais que o netinho acabou de chegar.
- Eles devem estar ansiosos por notícias.
Gustavo não imaginava o quanto.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Longe de tudo o que estava acontecendo, e alheios a qualquer coisa, Sandra e Lúcio, tomavam café, após o almoço.
Sandra estava muito feliz; tudo, na sua vida esforçada e batalhadora, estava começando a dar certo. Tinha acabado de formar-se em Direito, estava estagiando e prestes a assumir a vaga de assistente no escritório de advocacia, no lugar de Mila, que ia dedicar-se, durante algum tempo, exclusivamente, ao filho e ao marido. Seu noivo, Lúcio, havia sido promovido e ia muito bem na profissão. E resolveu marcar logo a data do casamento.
Era uma data comemorativa para ambos, tanto que resolveram sair da cidade e buscar um refúgio tranquilo. Não queriam ser importunados. Iriam passar a tarde juntos numa bucólica cidadezinha. Alguém, no restaurante, soube do incêndio e resolveu ligar a televisão do estabelecimento. Logo, a atenção de todos, no local, voltou-se para o trágico fato.
- Sandra, parece o prédio em que você trabalha - notou Lúcio.
Sandrinha levantou-se e aproximou-se do televisor.
- Meu Deus! Lúcio, não parece, é o prédio onde trabalho.
Ela começou a tremer. O noivo a abraçou e a conduziu de volta a mesa.
- Calma, San. Você está aqui e está bem.
- Sim, mas eu poderia estar lá. E as pessoas que trabalham comigo? Deus, a Mila, grávida... Dr. Arnaldo, Dr. Felício... mesmo aquela novata de nariz empinado... Tomara que estejam bem, que não tenha acontecido nada com eles!
- Por que você não liga pra alguém? Assim você fica sabendo.
- É o que vou fazer...
Sandra tentou o telefone de Mila, sem sucesso. Resolveu ligar para o Dr. Arnaldo, que ainda estava com o Dr. Felício, na Associação Comercial. Soube que ninguém tinha notícias de Mila, de Gustavo e da novata Márcia.
- Que bom, Sandra, que, pelo menos, eu sei que você está bem. Pior, é que ninguém sabe da Camila e do Gustavo. Os telefones deles não atendem e os pais deles estão juntos, aguardando por notícias, angustiados. Também não sei da Dona Márcia. O Felício está tentando alguns contatos para ver se descobre o paradeiro de todos.
- Por favor, Dr. Arnaldo, se o senhor souber de alguma coisa, por pior que seja, me avise. Eu e o Lúcio vamos voltar para a capital.
- Espero não ter notícias ruins, mas qualquer coisa, eu informo.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Na Associação Comercial, o almoço transcorria de forma descontraida entre os membros e os homenageados. De repente, começou um burburinho que Dr. Arnaldo e Dr. Felício, a princípio, não entenderam. O presidente da Associação aproximou-se dos dois advogados e deu-lhes a notícia, em tom fatídico:
- Uma tragédia está acontecendo! O prédio do escritório de vocês está pegando fogo. E é grave a situação. Sinto muito em dar esta notícia assim, mas a cidade inteira está parada diante deste fato.
Dr. Arnaldo sentiu o coração acelerar, pensou que fosse infartar.
- Meu Deus, Felício, e as meninas, o Gustavo, será que eles estão bem? Será que conseguiram sair? Deus, a Camila está grávida!
O ar lhe faltava. O presidente da Associação lhe ofereceu água.
- Quem é Gustavo? Quem é Camila? - perguntou.
- Gustavo é filho do melhor amigo do Arnaldo, dos tempos de faculdade. Ele é casado com a Camila, que é nossa assistente e está grávida do seu primeiro filho.
- Quem mais poderia estar lá?
- A Sandra, nossa atual estagiária, mas já foi nossa recepcionista e secretária, conhece bem o trabalho, está sendo assessorada pela Camila, que, após a chegada do bebê, vai nos deixar, infelizmente. Vai se dedicar ao bebê e ao marido, pelo menos, por um tempo. E tem a Márcia, a nova recepcionista. Eu espero que todos estejam bem!
Felício sempre foi mais tranquilo que Arnaldo. Homem de pensar primeiro, analisar e depois, expor suas idéais. Arnaldo, mais impetuoso, muitas vezes, agia sem pensar. A sociedade entre os dois deu certo por causa dessa diferença de personalidade, onde um tinha a mais, completava onde o outro tinha de menos.
- Felício, tente contato com todos, por favor.
Bem que ele tentou. Camila, Gustavo, Sandra. Nada. O único telefone que tocava, mas não era atendido, era da novata. Olhou para o amigo, sem resposta.
- Por favor, ligue para a casa do Otávio, estou sem condições de falar com ele ou com a Isabel.
- Tá certo.
O telefone tocou na casa de Otávio, Augusto já estava posicionado para atender.
- Alô? É o Augusto. Dr. Felício...
- Augusto, estou ligando porque, vocês devem saber, o quê está acontecendo...
- Sim, estamos sabendo, o senhor sabe algo sobre meu irmão e da Camila?
- Infelizmente, não. Minha esperança, e do Arnaldo, era saber alguma coisa por vocês. Nós estamos na Associação Comercial e acabamos de ficar sabendo...
- O que nós sabemos é que o Gustavo ia levar a Mila ao médico, mas os telefones deles estão mudos. A família da Mila está vindo para cá. Minha mãe queria ir para o local, mas meu pai tirou isso da cabeça dela.
- Claro, não se pode fazer nada no local, é melhor esperar em casa. Quem tiver notícias primeiro, entra em contato, certo?
- Certo, Dr. Felício.
Augusto desligou.
- Dr. Arnaldo e Dr. Felício estão bem, mas não sabem do Guto e da Mila, nem da Sandra e da nova funcionária.
Denise chegou com o noivo, Alex. Tinham marcado o casamento para depois do nascimento do sobrinho.
- Alguma novidade?
- Ainda não.
A família de Mila chegou em seguida. O clima era de expectativa e angústia. As mães tentavam manter o controle, mas as lágrimas teimavam em rolar pelas faces de ambas.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

- INCÊNDIO DE GRANDE PROPORÇÃO ESTÁ DESTRUINDO PRÉDIO NO CENTRO, PESSOAS IMPEDIDAS DE SAIR, BARRADAS PELO FOGO E PELA FUMAÇA, DESESPERADAS PEDEM SOCORRO NAS JANELAS...
- Mãe, corre aqui, é o prédio que a Mila e Guto trabalham!
- Meu Deus! Minha filha... - Dona Carol entrou em desespero.
- Calma, mãe! O Guto não ia levar a Mila fazer um exame? Eles podem ter saído antes disso tudo começar...
- A SITUAÇÃO É CRÍTICA, CADA VEZ, CHEGANDO MAIS CAMINHÕES DO CORPO DE BOMBEIROS, MAS ELES NÃO ESTÃO CONSEGUINDO DETER AS LABAREDAS, ...DEUS! UMA PESSOA SE JOGOU...MEU DEUS!
- Por favor, Bia, desligue essa televisão! - Dona Carol estava trêmula.
O telefone tocou. Dona Carol, já lívida, gritou para Bia atender.
- Pai... já está sabendo?... vai para o local?...
- Sabendo o quê? O que ele vai fazer lá? O quê aconteceu com a Mila? O Gustavo? O nenê?... Deus!...
- Pai, é melhor vir pra casa, a mãe não está bem. Vou tentar falar com a Mila ou com o Guto.
Para desespero de Dona Carol, Bia tentou o telefone de Mila e de Guto várias vezes, sem sucesso. Bia também estava angustiada, mas não queria demonstrar seu sentimento, ansiosos e desesperado por notícias de sua irmã grávida, para não deixar sua mãe mais nervosa. Só aumentaria a aflição de Dona Carol. Cada segundo era uma eternidade. A mãe não queria saber das notícias mostradas na TV. O telefone tocou, novamente. Bia atendeu.
- Alô?... Carlos Santana?... Sei, você é amigo da minha irmã... Também, não sabemos nada ainda... Você está aí?... Se você souber de alguma coisa, por favor, nos informe, eu agradeço.
Dona Carol era um poço de lágrimas e desespero.
- Calma, mãe. Era o Carlos Santana, aquele amigo jornalista da Mila, ele está lá no local. Disse que, se souber da Mila e do Guto, ele liga. Ele contou que a Mila ia se encontrar com ele depois que fosse ao médico, que o Guto a levaria.
- Por quê?
- Não sei, mãe, ele não entrou em detalhes, ele está lá trabalhando.
- E seu pai que não chega?
- Mãe, ele acabou de ligar, ele está vindo.
- Meu Deus, a Isabel também deve estar desesperada! Liga pra casa do Guto, pra saber se eles tem notícias!
- É melhor não ligar, mãe. Se eles não souberem o quê está acontecendo, vão ficar em desespero. Além do Guto, da Mila e do bebê, seu Otávio tem um amigo que também trabalha lá, aliás, o melhor amigo, o chefe da Mila.
- É verdade!... Mas você pode ligar para o Luís Augusto e sondar, como quem não quer nada. Liga, Bia. Pelo menos, a gente fica sabendo se eles já sabem.
- Tá bom, vou ligar.
Bia pegou o telefone pensando o quê falaria para o irmão do Gustavo.
- Alô, Augusto? É a Bia...
- Que bom que você ligou! Estava mesmo querendo ligar para sua casa, mas estava receioso. Vocês já sabem o quê está acontecendo no prédio, lá no centro, né?
- Sim, sabemos o quê está acontecendo, mas não temos notícias da Mila e do Guto.
- Nem nós, Bia. Aqui em casa, está o maior desespero. Por que vocês não vêm pra cá? Assim, esperamos juntos por notícias. Boas, tenho fé!
- Meu pai está vindo pra casa; assim que ele chegar, nós iremos, sim. Eu acredito e tenho fé em Deus que as notícias serão boas!
- Estamos esperando...
Bia desligou, olhou para a mãe, largada no sofá, sem forças para, sequer, esboçar um gesto.
- Mãe, eles, também, não tem notícias da Mila e do Guto, o Augusto achou melhor a gente ir pra lá, assim aguardaremos, juntos, por novidades. Também, acho melhor. Vamos esperar papai chegar e vamos pra lá.
- Tudo bem, filha. Não tenho forças pra nada, nem cabeça pra pensar em outra coisa.
A porta do apartamento abriu-se e Seu Paulo adentrou no recinto, transtornado.
- Sabe de alguma coisa, Paulo?
- Não, Carolina, vim escutando as notícias pelo rádio do carro, mas...nada...
- Pai, falei com o Augusto, ele pediu para todos nós irmos pra lá. Aguardaremos as notícias por lá, tudo bem?
- Sim, filha, tudo bem. Afinal, queremos saber como estão nossos filhos. Vamos!

sábado, 25 de setembro de 2010

Muitas mudanças estavam ocorrendo. A empresa em que você trabalha estava expandindo, crescendo e o conjunto de escritórios já não suportava mais atender a demanda que vinha se apresentando. Compraram um pequeno, mas moderno e espaçoso prédio, um pouco distante do centro, e programaram a mudança. Aos poucos, conforme, iam ficando prontas as instalações, móveis e documentos iam sendo transferidos. Você disse que queria ser um dos últimos a ir para o novo endereço e explicou as razões: sua esposa estava para dar a luz, a qualquer momento, e você, como pai de primeira viagem, queria estar por perto.
No escritório de advocacia, também, haviam mudanças. O escritório, também, iria ter sede própria. Dr. Arnaldo e Dr. Felício compraram uma casa, não tão moderna quanto gostariam, mas foi o que conseguiram encontrar não muito longe do centro. Sandrinha havia se formado e, enquanto esperava a sua carteira definitiva da OAB, estagiava comigo. Aliás, ela fazia todo o trabalho, não me deixava fazer nada, com a desculpa da minha gravidez. Eu não reclamava. Dr. Arnaldo e Dr. Felício gostavam muito dela e, como eles sabiam que, depois do nascimento do bebê, eu não voltaria a trabalhar, estavam apostando nela para ficar no meu lugar. Ela já conhecia o escritório, os advogados, o serviço e boa parte dos clientes, por quê investir numa pessoa que nada sabia? Contrataram, por hora, antes da mudança, uma recepcionista, Márcia, eficiente, simpática, mas pouco amigável. Sandrinha explicava o serviço a ela, depois vinha torcendo o nariz. Eu ria, dizia:
- Dra. Sandra, a Marcinha está te chamando na recepção!
- Fica me tirando, fica, Mila! Você não vai ter de ver a cara dessa metida todo dia. Ah, ela não gosta de apelidos, nem diminutivos, nem pense em chamá-la de Marcinha.
- É, Sandrinha é só você, única e exclusiva! E por falar em exclusiva, a senhora está muito bonita, muito produzida, onde pensa que vai? Alguma audiência especial? Ou a audiência será com um certo Dr. Lúcio, após o expediente?
- Dra. Camila, a senhora é muito perspicaz, nada lhe escapa, seria uma boa detetive, uma policial, já pensou na possibilidade? Dra. Camila, delegada de polícia, que máximo!
- Nem pensar, Sandrinha! Longe de mim ficar atrás de bandidos! Ainda mais agora com esse barrigão. E logo mais, com um bebezinho chorando, querendo mamar, um maridão chegando do serviço, esperando o jantar e a mulher chegando junto, com um monte de armas enfiadas nas roupas e toda suja, porque entrou no meio do mato no encalço de bandidos. Imagine a cena! O Guto pegava o nenê e ia pra casa da mãe.
A Sandrinha riu:
- Não seja dramática, Mila. Existem muitas delegadas casadas e que são mães e não fazem esse drama!
- Tá bom, mas essa não é a minha praia! E não tente mudar de assunto, o foco é você, não eu. Vai me contar ou é segredo de estado?
- Não tem jeito, né? Quando você quer uma coisa, você acaba conseguindo. Taí seu marido que não me deixa mentir!
- Não fui eu que pedi ele em casamento! Não mude de assunto de novo!
- Não vou mudar, Mila. Vou te contar. Hoje, não terá nada a fazer, à tarde. Vou almoçar com o Lúcio e não voltarei mais. Ele recebeu uma promoção no escritório em que trabalha e quer escolher uma data para a nossa união.
- Parabéns para vocês dois! Até que enfim vai sair esse casório! Então, logo, a Dra. Sandra fará parte do clube das senhoras casadas!
- Clube do qual a senhora entrou há pouco tempo, não é mesmo, Dra. Camila?
Ríamos de nossa conversa, quando o Dr. Arnaldo entrou na sala. Estava muito alinhado, com um terno escuro, gravata combinando, camisa branca, sapatos lustrosos.
- Meninas, eu e o Felício não voltaremos para o escritório, depois do almoço. A Sandrinha também, não voltará, como já tinha me pedido. A Mila vai fazer um exame e, depende de quanto tempo demorar por lá, talvez, também, nem volte. Se houver necessidade e for urgente, vocês tem como me localizar e ao Felício, se precisarem de alguma coisa, aqui, no escritório, só ficará a Dona Márcia, à tarde.
- Tudo bem. Bom almoço!
Dr. Arnaldo e Dr. Felício iam ser homenageados num almoço na Associação Comercial local pelos trabalhos realizados e por sempre participarem de eventos beneficentes na região. Aquela seria uma tarde sem trabalho para todos.
O interfone tocou:
- Dra. Camila, o Dr. Gustavo está aqui. Posso pedir para que entre?
- Eu já estou saindo, Dona Márcia!
Sandrinha fez uma careta.